Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Sementes
03/09/2020 (Nº 72) BIORREPELENTE PARA USO EM POLICULTIVOS
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BIORREPELENTE PARA USO EM POLICULTIVOS



José André Verneck Monteiro

educativo@live.com

Licenciado em Pedagogia pela Fundação Universidade do Tocantins, Especializado em Educação Ambiental pela Universidade Candido Mendes, Mestre em Práticas em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/Global MDP, Mestrando em Agricultura Orgânica (PPGAO UFRRJ/EMBRAPA/PESAGRO). Publica no Instagram @jardim_vital



Resumo

Este ensaio traz uma receita prática de biorrepelente para sua utilização visando reduzir infestações comuns em hortas e jardins. É uma contribuição elaborada a convite de Berenice Gehlen Adams para integrar a Seção Sementes, na Revista Educação Ambiental em Ação, queem sua 72ª Edição traz o tema: Educação Ambiental para reaprender a sentir e perceber.

Palavras chave: agroecologia, caldas naturais, controle de pragas.



Introdução

Preliminarmente é imprescindível realçar que a preparação descrita a seguir não pode ser aplicada na pele nem ser ingerida. Seu uso é apropriado, diluída em água, para pulverizar no ambiente, como coadjuvante à repelência de infestações comuns em hortas e jardins!



A produção agroecológica doméstica de alimentos é uma importante estratégia de combate à fome e à desnutrição, ao mesmo tempo que proporciona impacto ambiental positivo, seja no ambiente rural ou urbano.

Ao cultivar em casa parte dos alimentos necessários à sua dieta, cada famíliacontribui para reduzir o uso de combustíveis fósseis gastos no transporte de cargas e pode promover o intercâmbio de mudas, sementes e aprendizados, estimulando que seus parentes e vizinhos também pratiquem e usufruam dos privilégios da agroecologia: alimentos frescos, saudáveis, sortidos e com significado especial por serem resultado do seu empenho no manejo adequado do ambiente de cultivo.

Entretanto, é comum notar que algumas pessoas inadvertidamente adquirem e aplicam utilizam venenos sem qualquer critério quando notam a presença de insetos nas plantas. Em algumas situações a simples presença desses organismos não significa que estejam ocasionando prejuízos aos cultivos, pois muitas das vezes são insetos benéficos que podem inclusive atuar como predadores de insetos-praga.

Portanto a correta identificação das espécies é um fator-chave para a salvação da lavoura. A Embrapa desenvolveu um aplicativo gratuito, disponível para baixar e usar no seu telefone celular (GuiaInat).

Sem a educação das sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido.”Rubem Alves

Por vezes a ocorrência de pragas e doenças nas lavouras é sinal de desequilíbrios ambientais, tais como: solo inadequado (infértil, compactado, seco demais ou muito encharcado); reduzida população de predadores naturais (como pássaros e joaninhas); deficiência nutricional (que torna a planta vulnerável ao ataque e com baixa capacidade de se regenerar).

Via de regra, ao invés de usar venenos, bastariam ações de melhoria do solo, controle de regas, melhor insolação do canteiro ou seleção adequada das espécies compatíveis com o clima de sua região, para reduzir, e até mesmo evitar a incidência de pragas ou doenças nas plantas em cultivo.

Nesse sentido, o conhecimento (tanto prático quanto científico) e o uso sustentável da agrobiodiversidade contribuem para o sucesso no manejo de policultivos em hortas e jardins, sem uso de agrotóxicos.

É sabido que vários dos invertebrados que comumente infestam e causam prejuízos agrícolas são atraídos por odores exalados pelas suas plantas preferidas, da mesma forma que são repelidos por algumas outras espécies vegetais, também por sua fragrância.

Seguindo a premissa de que um maior número de espécies num dado local contribui para que se estabeleça o equilíbrio ambiental, da mesma forma se recomenda o plantio consorciado de variadas espécies aromáticas em diferentes parcelas e entre os canteiros de alimentos com a finalidade de que tais ervas aromáticas atuem como repelente natural de insetos-praga.

Embora não tenha ainda desenvolvido uma análise laboratorial que justifique e comprove a razão de sua eficácia, a calda descrita a seguir vem sendo elaborada e utilizada por esse autor desde 2017, com notáveis efeitos positivos na redução de infestações. Por mera dedução, a mistura de muitas fragrâncias pode causar confusão olfativa e criar um ambiente desconfortável, motivando as espécies indesejáveis a se afastar para locais com menos estímulos.



Modo de fazer

Obtenha pequenas porções da maior diversidade possível de ingredientes de odor forte que estejam à sua disposição.

A listagem a seguir não está elencada como ingredientes de maior ou menor importância, apenas segue ordem alfabética a título de sugestões para compor a calda-base: agrião , alecrim, alfavaca, alfazema, alho, almécega (resina), anis, arnica (flores), aroeira(folhas), arruda, boldo, cambará (folhas), camomila(flores), canela (em casca), cânfora, capim-cidreira, carqueja, cebola (picada), cebolinha, citronela, coentro (folhas), cominho (em grão), cravo-da-índia (inteiro), cravo-de-defunto (flores e folhas), cúrcuma (em fatias), endro, eucalipto, falsa-mirra, funcho, gengibre (fatias), gerânio(folhas), hortelã, jatobá(casca), lavanda, limão (casca), louro (folhas), malva, manjericão, melissa, menta, neem (folhas ou óleo), noz-moscada (quebrada), pimenta-de-cheiro, pimenta-do-reino (grãos), poejo, sálvia, rúcula, orégano, própolis(gotas), salsa, tabaco, tomateiro (folhas), tomilho, zimbro.

Coloque essa mistura em recipiente de boca larga, cubra com aguardente e tampe bem. Cole uma etiqueta escrita BIORREPELENTE – NÃO INGERIR e a data de preparo. Não coma, beba ou fume durante o preparo. Lave as mãos após o preparo.

Guarde este recipiente fora do alcance de crianças e animais, em ambiente fresco, abrigado da luz, agitando o recipiente uma vez por semana.

Após 30 dias do preparo filtre bem utilizando coador de papel e guarde essa solução filtrada em recipiente bem tampado. Cole uma etiqueta escrita BIORREPELENTE – NÃO INGERIR e a data de preparo. Guarde o recipiente fora do alcance de crianças e animais, em ambiente fresco, abrigado da luz. Validade indeterminada.

Não coma, beba ou fume durante o preparo. Lave as mãos após o preparo, bem como todos os utensílios utilizados.

Os ingredientes que foram filtrados podem ser secos ao sol e adicionados à compostagem.



Modo de usar



Para cada litro de água adicione 10 ml do biorrepelente. Use luvas, roupas adequadas e óculos de proteção. Evite a inalação ou contato da calda com a pele. Não coma, beba ou fume durante a aplicação.

Utilize um pulverizador de névoa fina. Aplique no início da manhã, para que a brisa leve espalhe a essência. Pulverize no ambiente e estruturas (cercas, portões, telados, etc) de modo que a névoa seja aspergida na direção dos canteiros, mas não aplique diretamente sobre as plantas.

Lave as mãos após a aplicação, bem como os utensílios utilizados.

Recomenda-se aplicar semanalmente.





Saiba mais

Caldas naturais. Soluções Alternativas para o Manejo de Pragas e Doenças. Grupo Temático de Práticas Ambientais Sustentáveis. Projeto doces Matas. Disponível em <https://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/caldas_naturais.pdf> Acesso 01 set 2020.

Guia InNatpara reconhecimento dos inimigos naturais das pragas agrícolas. EMBRAPA. Disponível em <https://play.google.com/store/apps/details?id=br.embrapa.innat>. Acesso 01 set 2020.

Ilustrações: Silvana Santos