Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Artigos
03/09/2020 (Nº 72) ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE INTERNAÇÃO
Link permanente: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=4008 
  

ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DE ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE INTERNAÇÃO



Danielle Portela de Almeida1, Joyce dos Santos Bonet2, Carla Karoline Gomes Dutra Borges3, Estefanie Melo Duchene4



1Graduada em Ciências Naturais pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Mestre em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia pela Universidade do Estado do Amazonas - UEA. Professora da Secretaria de Estado de Educação - SEDUC. E-mail: danielle.portela@yahoo.com.br

2 Especialista em Educação Infantil e educação à distância pelo Instituto Cosmos-UNIASSELVI. Professora tutora externa do Instituo Cosmos. E-mail: Joyce.bonet2_pedagoga@hotmail.com

3Graduada em Ciências Biológicas pelo Instituto Federal do Amazonas - IFAM. Doutoranda do Curso de Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Professora da Secretaria Municipal de Educação - SEMED. E-mail: carlaborges.am@gmail.com

4Graduada em Ciências Naturais pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Professora da Secretaria de Estado de Educação – SEDUC. E-mail: estefmelo@gmail.com



Resumo: As questões ambientais têm sido assunto de debates e discussões nos dias de hoje. Diversas alternativas são propostas para que o ser humano adote práticas sustentáveis que auxiliem no processo de preservação do planeta. O estudo da percepção ambiental é de extrema relevância pois nos ajuda a compreender melhor a relação homem-natureza. Diante disso o objetivo deste trabalho foi analisar a percepção ambiental de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de internação, trata-se de uma pesquisa qualitativa. As respostas obtidas através do questionário foram organizadas em tabelas de acordo com a frequência de respostas. Os resultados da pesquisa apontam a percepção ambiental dos adolescentes em diversas temáticas e a necessidade da consciência ambiental, visando mudanças de atitudes e práticas sustentáveis que causarão impactos positivos para o planeta em que vivemos.

Palavras-chave: Análise. Percepção Ambiental. Adolescentes. Internação.



ANALYSIS OF ENVIRONMENTAL PERCEPTION OF ADOLESCENTS COMPLIANCE WIT SOCIO-EDUCATIONAL HOSPITALIZATION MEASURES

Abstract: Environmentak issues have been the subject of debate and discussion these days. Several alternatives are proposed for the human being to adopt sustainable practices that help in the preservation process of the planet. The study of environmental perception is extremely important because it helps us better understand the relationship between man and nature. Given the objective of this study to analyze the environmental perception of adolescents in compliance with socio-educacional measures of hospitalization, this is a qualitative research. The answers obtained through the questionnaire were organized in tables according to the frequency of answers. The research results indicate the environmental perception of adolescents in various themes and the need for environmental awareness, aiming at changes in attitudes and sustainable practices that will have positive impacts on the planet in which we live.

Keywords: Analysis. Environmental Perception. Teens. Hospitalization.



1. INTRODUÇÃO

A influência humana no meio ambiente tem ocasionado diversos prejuízos que interferem na qualidade de vida dos seres vivos. O consumismo tem se alastrado de forma intensa e como resultado muitas espécies têm sido extintas. A ganância do homem está acima de qualquer situação e com isso o planeta vai sofrendo as consequências e o próprio homem vai colhendo os resultados de suas ações. O contato do homem com o meio ambiente vem acontecendo de forma predatória, e esse comportamento desequilibrado não é novo. Ao reconhecer os problemas ambientais, o homem passou a buscar alternativas de soluções para resolvê-los. Dessa forma, tornou-se necessário mudar a consciência diante do meio ambiente, pois antes, este era pensado como uma fonte inesgotável de recursos (MESSEDER; SANTOS; RIBEIRO, 2014).

Cuidar e preservar o ambiente em que vivemos é tarefa de cada um de nós. Se quisermos um planeta saudável para as futuras gerações temos que fazer a nossa parte hoje. A temática ambiental está em pauta nas discussões planetárias (ARAUJO, 2015), por isso, se faz necessário refletirmos nossas práticas e entendermos nosso papel no planeta. Diante disso o estudo da percepção ambiental se faz necessário pois proporciona uma reflexão sobre a importância da relação homem-natureza.

Face ao exposto, este trabalho teve o objetivo de analisar a percepção ambiental de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de internação, visto que esses adolescentes também são seres sociais e mantém relação com o ambiente. Foi realizado no Centro Socioeducativo Dagmar Feitosa, localizado na cidade de Manaus- Am. Para coletar os dados, utilizamos um questionário contendo questões subjetivas com temas voltados ao meio ambiente. A pesquisa partiu de uma abordagem qualitativa que permite aprofundar-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, abordando um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas (MINAYO, 2003). Os dados foram analisados de forma quanti-qualitativa. As respostas obtidas através do questionário foram organizadas em tabelas de acordo com a frequência de respostas.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. A importância da percepção ambiental

As ações humanas têm destruído a cada dia o planeta, ocasionando diversos prejuízos ao meio ambiente e seres vivos, perceber que fazemos parte desse ambiente é uma tarefa desafiadora e necessária, precisamos compreender que nossas atitudes de hoje refletirão nas futuras gerações. Nesse sentido, o estudo da percepção é de extrema importância porque o comportamento das pessoas é baseado na interpretação que fazem da realidade em si, podemos entender que a percepção é um fator presente em toda a atividade humana, portanto tem um efeito marcante no envolvimento deste com o sentir, tocar, ver e perceber, influenciando diretamente na conduta humana frente as suas ações (SILVA, 2013).

Para Palma (2005, p.27), entende-se por percepção a:

[...] interação do indivíduo com seu meio. Este envolvimento dá-se através dos órgãos do sentido. Para que possamos realmente PERCEBER, é necessário que tenhamos algum interesse no objeto de percepção e esse interesse é baseado nos conhecimentos, na cultura, na ética, e na postura de cada um, fazendo com que cada pessoa tenha uma percepção diferenciada para o mesmo objeto.

O estudo da percepção ambiental é de fundamental importância para que possamos compreender melhor as inter-relações entre o homem e o ambiente, suas expectativas, anseios, satisfações e insatisfações, julgamentos e conduta (SCHMITZ, 2013). É através desse estudo que educadores podem desenvolver projetos ambientais, trabalhar com conceitos e conhecimentos voltados para a preservação ambiental e uso sustentável dos recursos naturais (SILVA, 2013). A maioria dos problemas ambientais, poderiam ser evitados se a Educação Ambiental e a consequente conscientização ecológica fizessem parte da formação das gerações passadas. O conhecimento do contexto histórico e cultural da visão homem-natureza torna-se importante, pois nos permite compreender as evoluções empíricas e, posteriormente, científicas da representatividade da natureza (VIVIANI; MULLER, 2009). Na Educação Ambiental, a percepção do educando é estimulada, formando assim, cidadãos aptos a enfrentar os graves problemas socioambientais e buscando sempre valores éticos, culturais e políticos (PALMA, 2005).

A Educação Ambiental é uma importante ferramenta que sensibiliza o ser humano para as questões voltadas ao meio ambiente e promove muitas vezes uma mudança de comportamento e atitude. No que diz respeito à Educação Ambiental, seu histórico, assim como seus objetivos remetem para a sustentabilidade. Entende-se sustentabilidade como o uso consciente dos recursos naturais para atender as necessidades das gerações atuais sem comprometer as futuras gerações (MESSEDER; SANTOS; RIBEIRO, 2014). Já o Desenvolvimento Sustentável se refere à capacidade de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer as necessidades das futuras gerações. O Desenvolvimento Sustentável é um projeto social e político que aponta para o ordenamento ecológico e a descentralização territorial da produção, assim como para a diversificação dos tipos de desenvolvimento e dos modos de vida das populações que habitam o planeta (LEFF, 2003). O Desenvolvimento Sustentável de uma região ou localidade só poderá ocorrer quando a sua população reconhecer que a continuidade da vida no planeta depende muito de como os homens e mulheres estão cuidando do planeta. Assim, todos precisam ter certeza de que nossas ações hoje afetam diretamente o futuro das gerações vindouras (ARAUJO, 2015).

A problemática ambiental abriu um processo de transformação do conhecimento, expondo a necessidade de gerar um método para pensar de forma integrada e multivalente os problemas globais e complexos, assim como a articulação de processos de diferente ordem de materialidade (LEFF, 2003). Pensar o ambiental, hoje, significa pensar de forma prospectiva e complexa, introduzir novas variáveis nas formas de conceber o mundo globalizado, a natureza, a sociedade, o conhecimento e especialmente as modalidades de relação entre os seres humanos, a fim de agir de forma solidária e fraterna, na procura de um novo modelo de desenvolvimento. A Educação Ambiental, portanto, deve contribuir para uma melhoria da qualidade de vida (MEDINA; SANTOS, 2008).

No entanto, não se faz Educação Ambiental individualmente. Esta prática se faz na, com e para a comunidade, sendo necessário conhecimento da atualidade e noções de conteúdos específicos para a formação de uma postura crítica, além de uma consciência política e de cidadania, e principalmente de dependência entre os seres (MANZANO; DINIZ, 2004). Se pensarmos e desejarmos uma educação de qualidade, como também na questão ambiental, é preciso termos em mente que formamos sujeitos cidadãos, críticos e reflexivos. A cidadania ambiental e a cultura de sustentabilidade serão necessariamente o resultado do fazer pedagógico que conjugue a aprendizagem a partir da vida cotidiana (GUTIÉRREZ, 2002).

Nesse cenário, a educação, seja ela formal ou informal, tem papel primordial. Diante do reconhecimento das causas dos desequilíbrios ambientais decorrentes das atividades humanas, cada vez mais se faz necessário que as discussões sobre Educação Ambiental evoluam de modo a contribuir para a construção de uma educação baseada em princípios de sustentabilidade (SOUSA et al, 2017). “A escola, assim como outras instituições faz parte do meio ambiente e atua como principal agente de mudanças, transformações e atitudes, pois precisa pôr em prática a Educação Ambiental” (SILVA, 2013, p.13). Desta forma é importante ressaltar que se almejamos uma melhoria no meio ambiente, é necessário que haja transformações de valores, comportamentos, condutas e hábitos. É certo que essas mudanças devem começar pelo próprio indivíduo, pois assim será mais fácil o sujeito absorver através da adoção e da valorização de novos comportamentos outros valores e estilos de vida mais adequados e capazes de reverter o processo de deterioração do meio ambiente e promover a todos uma melhor qualidade de vida (BEZERRA et al, 2014).

2.2. Adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas de internação

Os Centros Socioeducativos são espaços que atendem adolescentes autores de atos infracionais com o objetivo de ressocialização para que ele retorne à sociedade com uma nova visão e novos objetivos. A cidade de Manaus possui cinco centros socioeducativos na modalidade de internação, são eles: Centro Socioeducativo Senador Raimundo Parente, Centro Socioeducativo Assistente Dagmar Feitosa, Centro Socioeducativo Marise Mendes, Centro Socioeducativo Semiliberdade e Unidade de Internação Provisória.

A Lei 8069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) de acordo com o artigo 2, considera criança a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade. A presente lei, no artigo 112 dispõe que verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional.

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a educação é um direito fundamental que visa o pleno desenvolvimento da pessoa e deve ser garantida a todo adolescente, mesmo que esteja em cumprimento de medida socioeducativa.

O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) é um projeto de lei (PL 134/2009), aprovado por resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda). O Sinase é um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo que envolve o processo de apuração de ato infracional e a execução das medidas socioeducativas destinadas ao adolescente em conflito com a lei. A criação deste Sistema é um importante produto da construção coletiva por diversos segmentos da sociedade em prol da garantia de direitos de crianças e adolescentes, tema que tem mobilizado a opinião pública, a mídia e a sociedade brasileira de maneira geral.

A educação direcionada aos adolescentes em conflito com a lei, se revestida de propósitos voltados ao desenvolvimento e à autonomia, constituiria importante mecanismo de inclusão e promoção de mudanças necessárias para a transformação pessoal e social, incluindo aí a redução da desigualdade. Todavia, muitas engrenagens que favorecem o aumento da desigualdade e, por conseguinte, da exclusão, parecem estar articuladas ao mecanismo das ações educativas nas unidades de atendimento a adolescentes que cometeram atos infracionais, subvertendo o sentido que deveria revestir a garantia dos direitos fundamentais (ROCHA; SILVA; COSTA, p.02, 2010).

Vale acrescentar que a escola além de ser espaço de disseminação e produção do saber socialmente construído e sistematizado, configura-se também como espaço de relações e construção de vidas, podendo, dessa forma, ocasionar mudanças significativas para muitos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa. Mesmo ocorrendo em situações adversas, à ação educacional necessita propiciar um ambiente educativo realmente integrador que traga ao adolescente atendido o sentimento de acolhida e pertença, potencializando desta forma uma retomada de vida escolar e perspectivas de vida mais positivas (RAMOS; PUCOVSKI, 2015).

Os adolescentes infratores da lei são, na maior parte dos casos, discriminados e excluídos do meio em que vivem e no contexto escolar no qual estão inseridos (PEDROSO, 2015). No Brasil, o atendimento educacional voltado aos adolescentes que cometeram atos infracionais é marcado por características e ações institucionais de cunho excludente e punitivo, como são em geral as demais ações a eles direcionadas (ROCHA; SILVA; COSTA, 2010). No entanto, vale destacar que a medida socioeducativa é retributiva, no sentido de punir, contudo as ações prospectadas para o processo de ressocialização do adolescente são eminentemente pedagógicas. Dentro das ações pedagógicas se contempla os cursos de profissionalização, oficinas e educação formal (escola).

3. METODOLOGIA

A presente pesquisa foi realizada no Centro Socioeducativo Assistente Dagmar Feitosa, localizado na cidade de Manaus- Am. O Centro Socioeducativo atende adolescentes (entre 15 e 18 anos), e é administrado pela Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania- SEJUSC, sendo também um dos anexos da Escola Estadual Josephina de Melo- SEDUC.

Os adolescentes participantes da pesquisa estavam regularmente matriculados na escola, cursando o Ensino Fundamental I e II, Ensino Médio e na modalidade de Jovens e Adultos- EJA, dos turnos matutino e vespertino.

No primeiro instante foi apresentado aos adolescentes o tema e a forma de procedimento da pesquisa, e destacamos a importância da participação dos mesmos de forma voluntária. Todos os participantes ficaram cientes do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido- TCLE, para que assim pudessem assinar e participar da pesquisa, assegurando o sigilo das informações.

Para coletar os dados, utilizamos um questionário contendo questões subjetivas com temas voltados ao meio ambiente, 25 adolescentes participaram da pesquisa.

Esta pesquisa partiu de uma abordagem qualitativa que permite aprofundar-se no mundo dos significados das ações e relações humanas, abordando um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas (MINAYO, 2003).

Os dados foram analisados de forma quanti-qualitativa. As respostas obtidas através do questionário foram organizadas em tabelas de acordo com a frequência de respostas. A abordagem quantitativa e a qualitativa são diferentes pela sua sistemática, e, principalmente, pela forma de abordagem do problema que está sendo objeto de estudo, precisando, dessa maneira, estar adequado ao tipo de pesquisa que se deseja desenvolver. Entretanto, é a natureza do problema ou seu nível de aprofundamento que irá determinar a escolha do método (OLIVEIRA, 2001).

Foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta de dados: levantamento bibliográfico, questionário aberto, diário de campo. O questionário é o conjunto de questões, sistematicamente articuladas, que se destinam a levantar informações escritas por parte dos sujeitos pesquisados, com vistas a conhecer a opinião dos mesmos sobre os assuntos em estudo. [...]. As questões devem ser objetivas, de modo a suscitar respostas igualmente subjetivas, evitando provocar dúvidas, ambiguidades e respostas lacônicas (SEVERINO, 2007). O diário de campo é uma alternativa valiosa, pois o pesquisador pode utilizá-lo cotidianamente ao longo da pesquisa. Usamos essa técnica para anotar as peculiaridades do campo de pesquisa bem como possibilitar melhor visibilidade ao processo do estudo. Este recurso “compreende descrições de fenômenos sociais e físicos, explicações levantadas sobre as mesmas e a compreensão da totalidade da situação em estudo” (TRIVIÑOS, 1987, p. 154).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados da pesquisa encontrados nas respostas dos adolescentes por meio do instrumento do questionário foram tabelados e serão apresentados a seguir. Utilizamos a nomenclatura “A” para descrever as falas dos adolescentes. A tabela 1 aponta a percepção dos adolescentes sobre a temática do meio ambiente.

Conforme observado na Tabela 1 os adolescentes têm a percepção de meio ambiente como sendo o espaço onde vivem, a natureza, lugar limpo e sem poluição. Conforme destacamos na fala abaixo:

A 14: “É um lugar onde se convivem várias pessoas e também outras espécies, inclusive animais e plantas, que vivem em um determinado local onde se abrigam e convivem em comunidade e zelam pelo lugar proporcionando um melhor abrigo para todos”.

Ter essa percepção de que o meio ambiente é o lugar onde abriga várias espécies, faz com que esses adolescentes percebam a sua importância e responsabilidade para com o ambiente e que suas atitudes refletem nos demais seres vivos.

De acordo com os dados da Tabela 2 identificamos que 52% dos adolescentes causam algum dano ao meio ambiente no seu dia a dia, vejamos os relatos:

A 1: “Eu gasto muito água, tenho que parar

A 3: “Eu jogo lixo na rua

A 14: “No passar do dia mesmo não querendo acabamos por danificar o meio ambiente, quando deixamos a torneira aberta, ou deixamos cair algum lixo no meio da rua, e várias outras coisas simples, mas que podem de alguma maneira danificar o meio ambiente

A 20: “Eu prejudico, porque até de nós jogarmos uma casca de bombom no chão ou no rio, etc., já estamos prejudicando o meio ambiente

A 21: “Todo dia nos consumimos algum tipo de embalagem plástica e jogamos fora, isso polui o planeta

A 24: “Eu faço muita fumaça por conta do cigarro que contribui para a poluição do ar”.

Postulamos que o primeiro passo para uma mudança de atitude é reconhecer os erros, nos relatos dos adolescentes observamos que eles possuem a consciência de estarem causando algum mal para o planeta através de suas atitudes. De acordo com Leff (2003) a degradação ambiental se manifesta como sintoma de uma crise de civilização, marcada pelo modelo de modernidade regido pelo predomínio do desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da natureza. Reconhecer que fazemos parte desse contexto e que nossas atitudes prejudicarão a nós mesmos no futuro, nos faz rever nossas ações em relação ao ambiente em que estamos inseridos, não somente pensando localmente, mas sim em todos os organismos que dele dependem para sobreviver.

Nas respostas apresentadas 52% dos estudantes afirmaram que cuidar do ambiente é mantê-lo limpo. Queremos destacar a fala do adolescente abaixo:

A 21: “Eu não faço nada, porque eu acho que só uma pessoa não é capaz de mudar o mundo é preciso da ajuda de todos”.

Certamente é preciso que todos participem no processo de preservação do planeta, porém é um trabalho que exige consciência ambiental de cada ser humano de forma individual, cada atitude isolada irá refletir num todo. Na consciência ambiental são gerados novos princípios, valores e conceitos para uma nova racionalidade produtiva e social, e projetos alternativos de civilização, de vida, de desenvolvimento (LEFF, 2003).

O contato com a natureza desperta emoções, alegrias, entusiasmos, geram curiosidade e proporcionam momentos de interação com o meio ambiente, 52% dos adolescentes afirmaram já ter visitado locais de preservação e relatam suas experiências:

A05: “Eu me sinto bem perto da natureza

A20: “Eu gosto de estar ligado à natureza e minha avó mora em um sitio, eu gosto muito de visitar o ambiente”

A25: “No meu bairro tem uma área de floresta e as vezes eu e alguns colegas adentramos na mata para passear, pois lá é diferente, o clima é gostoso e tem alguns animais como macaco e outros que não sei identificar”.

Conforme a descrição dos adolescentes, esses ambientes despertam uma sensação de bem estar e aproxima o ser humano da natureza, o que pode torná-lo mais sensível para o cuidado com as outras espécies que ali vivem. Esses espaços também podem ser utilizados para o desenvolvimento de práticas pedagógicas, as atividades pedagógicas realizadas fora do ambiente da sala de aula podem constituir-se como um importante instrumento de aprendizagem, na medida em que se mostram como alternativas para o ensino (LEAL; MIRANDA; CASA NOVA, 2017).

As aulas de Educação Ambiental se tornaram uma ferramenta importante para o desenvolvimento da consciência ambiental e despertam o interesse pelo cuidado com o planeta, 60% dos adolescentes afirmaram ter tido aulas de educação ambiental em alguma fase escolar:

A 25: “Nas aulas de educação ambiental aprendi o valor do meio ambiente”

A educação ambiental deverá ter um enfoque global e integrado, não podendo ser reduzida a uma disciplina escolar. Deverá ser responsabilidade de toda a escola e permear todo o currículo escolar, visando, em última instância, que a comunidade se estruture e se organize para o desenvolvimento de pesquisas permitindo que, com recursos próprios e tecnologia adequada, sejam resolvidos os problemas prioritários (KRASILCHIK, 2004). A educação ambiental, portanto, deve se efetivar e servir para os “reais” propósitos de mudança, de modo a contribuir para uma melhoria da qualidade de vida (MEDINA; SANTOS, 2008).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da percepção ambiental de adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas nos revelou que a temática ambiental esteve ou está presente em alguma área da vida desses adolescentes, seja no bairro onde moram, seja nas famílias ou com os amigos, somos seres sociais e interagimos com o ambiente, e em algum momento prejudicamos o meio ambiente através de nossas atividades diárias e de nossos interesses pessoais que não levam em conta muitas das vezes o bem estar do planeta.

A educação ambiental se faz necessária e urgente em qualquer etapa da vida, somente através dela podemos desenvolver a consciência ambiental e pensar em nossas atitudes incorretas para com o planeta. A grande importância da educação ambiental se dá justamente pela sensibilização e reflexão que ocasionam o aumento de práticas sustentáveis e consequentemente a redução dos danos para com o planeta.

Diante de tais fatos é preciso refletir tais práticas que destroem o planeta em que vivemos, é necessário pensar nas futuras gerações e que planeta queremos deixar para essas pessoas, essa questão é urgente e exige esforço de cada um, não dá mais para usar os recursos naturais achando que são inesgotáveis, precisamos fazer a nossa parte.

AGRADECIMENTOS

Fundação de Amparo e Pesquisa no Amazonas - FAPEAM

Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania -SEJUSC

Secretaria de Estado de Educação- SEDUC

REFERÊNCIAS

ARAUJO, E.F. Práticas Ambientais na Escola: uma experiência fundamentada na pedagogia de projetos e na Agenda 21 Global. Manaus: Valer, 2015.

BEZERRA, Y. B. S.; PEREIRA, F. S. P.; SILVA, A. K. P.; MENDES, D. G. P. S. Análise da percepção ambiental de estudantes do Ensino Fundamental II em uma escola do município de Serra Talhada (PE). Revbea, São Paulo, V. 9, No 2: 472-488, 2014.

GUTIÉRREZ, Francisco. Ecopedagogia e cidadania planetária. 3. ed. São Paulo: Cortez/Instituto Paulo Freire, 2002.

KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. São Paulo: EDUSP, 2004.

LEAL, E. A.; MIRANDA, G. J.; CASA NOVA, S. P. C. Revolucionando a sala de aula: como envolver o estudante aplicando as técnicas de metodologias ativas de aprendizagem. São Paulo: Atlas, 2017.

LEFF, E. Saber Ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. São Paulo: Cortez, 2003.

MANZANO, M. A.; DINIZ, R. E. da S. A temática ambiental nas séries iniciais do Ensino Fundamental: concepções reveladas no discurso de professoras sobre a sua prática. In: NARDI, R.; BASTOS, F.; DINIZ, R. E. da S. (Org.) Pesquisas em ensino de ciências. São Paulo: Escrituras Editora, 2004.p.153-170.

MEDINA, N.M.; SANTOS, E.C. Educação Ambiental: uma metodologia participativa de formação. Petrópolis: Vozes, 2008.

MESSEDER, A. L.; SANTOS, A. S.; RIBEIRO, R. M. A educação ambiental na história: da consciência à prática educacional, da pátria educacional à consciência ambiental na educação infantil. VI Fórum Internacional de Pedagogia- FIPED, Santa Maria, 2014.

MINAYO, Maria Cecília de Souza [et all ]. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 22.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.

OLIVEIRA, S.L. Tratado de Metodologia Científica: projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. São Paulo: Pioneira Thomson Learning. 2001.

PALMA, I. R. Análise da percepção ambiental como instrumento ao planejamento da educação ambiental. 2005. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Engrenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.

PEDROSO, R. R. Professores da EJA e alunos infratores: reflexões sobre práticas pedagógicas, trabalho educativo e formação do educador de jovens e adultos. V Seminário Nacional. Formação de Educadores de Jovens e Adultos. Faculdade de Educação- UNICAMP- Campinas, SP. 2015.

RAMOS, A. A.; PUCOVSKI, F. Reflexões sobre o direito à educação no contexto socioeducativo. EDUCERE, PUC PR, 2015.

ROCHA, W. S. da; SILVA, I. R. da; COSTA, C. R. B. S. F. da. A percepção dos educadores sobre sua formação acadêmica e preparação profissional para o trabalho com adolescentes em conflito com a lei. Pesquisas e Práticas Psicossociais 5(2), São João del-Rei, agosto/dezembro 2010.

SCHMITZ, R. M. Avaliação da percepção ambiental dos moradores do bairro Condá da cidade de Medianeira por intermédio de alunos do Ensino Fundamental I. 2013. Monografia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2013.

SEVERINO, A.J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2007.

SILVA, L. J. C. Estudo da percepção ambiental dos alunos do Ensino Médio no Colégio Estadual Manoel de Jesus em Simões Filho, BA. 2013. Monografia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2013.

SOUSA, C. A. F., ALVES,A. F.; ANDRADE, T. M., NICODEMO, S. C. T. S.; VITORINO, G. O. A percepção ambiental de atores socias de escolas públicas e privadas, em um bairro de João Pessoa (PB). Revbea, São Paulo, V. 12, No 4: 180-191, 2017.

TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

VIVIANI, D.; MULLER, R. B. Fundamentos da Educação Ambiental. Apostila do curso de Gestão e Educação Ambiental/ Pós-graduação a distância Centro Universitário Leonardo da Vinci- UNIASSELVI, 2009.



Ilustrações: Silvana Santos