CRISE
HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE COLATINA NA ÁREA RURAL
DE CÓRREGO JOÃO PRETINHO: UM RECORTE HISTÓRICO
WATER
CRISIS IN THE MUNICIPALITY OF COLATINA IN THE RURAL AREA OF CÓRREGO
JOÃO PRETINHO: A HISTORICAL OUTLINE
Cintia
Pancieri
Mestrando
em ciências, tecnologia e educação pela Faculdade
Vale do Cricaré - FVC; cintiapancieri@hotmail.com, Rua Enzo
Ferrari- Bairro Vila Verde, Colatina - ES, (27)99692-4834.
Rosiane
Ferreira Paz Oliveira
Mestrando
em ciências, tecnologia e educação pela Faculdade
Vale do Cricaré - FVC; rosianefpaz@hotmail.com, Rua Projeta
S/N Bairro: Jaqueira, Município: Presidente Kennedy-ES.
(22)997455859.
Rozana
Paz Martins Marvila
Mestrando
em ciências, tecnologia e educação pela Faculdade
Vale do Cricaré - FVC; rozanapaz@hotmail.com, Rua Projetada
S/N Bairro: Jaqueira Cidade: Presidente Kennedy, (028) 99903-0029.
José
Geraldo Ferreira da Silva
Doutor
em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa;
Rua afonso Sarlo, 160. Bento Ferreira, 29052010 - Vitória, ES
– Brasil.
Désirée
Gonçalves Raggi
Doutorada
em Educação - Universidad del Norte - Revalidado pela
Universidade Federal de Pernambuco - UFPE; desireeraggi@yahoo.com.br,
Av. Vitória - 1729
Jucutuquara,
29100040 - Vitória, ES – Brasil.
RESUMO
A
crise hídrica tem suas origens na degradação do
meio ambiente. Este por sua vez encontra início no crescimento
de atividades produtivas consequência das mudanças
econômicas, políticas e no modo de consumo das pessoas.
Grandes impactos foram lançados a esses elementos com a
transformação econômica que o mundo sofreu ao
longo dos anos. O trabalho traz um recorte sobre o tema abordando a
região do Córrego de João Pretinho, situada no
município de Colatina/ES e o surgimento da crise hídrica
no lugar bem como a projeção macro do problema para
esse ponto em específico. O objetivo geral do trabalho foi o
de reconhecer o recorte histórico que deu origem à
crise hídrica enfrentada pela comunidade do Córrego de
João Pretinho. Para o alcance desse objetivo foram realizadas
entrevistas junto aos moradores do local na perspectiva de coletar
informações sobre o que vivenciaram desde a década
de 30 até os dias atuais traçando-se uma trajetória
do surgimento da crise no espaço. Os dados coletados apontam
para um percurso histórico de degradação devido
às atividades econômicas da época, o surgimento
da crise e a falta do maior recurso não renovável e
essencial à vida até a conscientização e
a preservação das nascentes, matas e áreas de
solo.
Palavras-Chave:
Meio ambiente. Recursos. Crise
Hídrica. Conscientização. Sustentabilidade.
ABSTRACT
The
water crisis has its origins in the degradation of the environment.
This in turn finds its beginning in the growth of productive
activities as a consequence of economic, political changes and in the
way people consume. Great impacts were launched on these elements
with the economic transformation that the world has undergone over
the years. The work brings an outline on the theme addressing the
Córrego de João Pretinho region, located in the
municipality of Colatina / ES and the appearance of the water crisis
in the place as well as the macro projection of the problem for that
specific point. The general objective of the work was to recognize
the historical outline that gave rise to the water crisis faced by
the community of Córrego de João Pretinho. To achieve
this goal, interviews were conducted with local residents in order to
collect information about what they experienced from the 1930s to the
present day, tracing a trajectory of the emergence of the crisis in
space. The data collected point to a historical path of degradation
due to the economic activities of the time, the emergence of the
crisis and the lack of the largest non-renewable resource that is
essential to life until the awareness and preservation of springs,
forests and soil areas.
Keywords:
Environment. Resources. Water Crisis. Awareness.
Sustainability.
1
INTRODUÇÃO
O
artigo aborda sobre a crise hídrica na região de
Córrego João Pretinho e o percurso histórico que
fomentou esse problema apontando comportamentos, impactos econômicos
e consequências que as ações agrícolas e
pecuárias propuseram com o lugar. Os problemas que afetam
direta e indiretamente na escassez do recurso não renovável
como a água são originários de vários
fatores incluindo em um patamar principal, o desmatamento. Isso
porque quanto menor a quantidade de vegetação nativa,
menor a quantidade de fontes e volumes de água. Além de
essa ação causar um impacto direto e em médio
prazo para os lugares também é desencadeador do
surgimento da desertificação em longo prazo.
As
atividades agrícolas podem ser consideradas como
desencadeantes da “necessidade” de desmatar o que quando
mal planejada afeta outras diversidades locais da área. A
compreensão por estes indivíduos que o desmatamento tem
uma grande influência sobre o ciclo hidrológico muitas
vezes é difícil e perdura por anos até sofrerem
com as próprias consequências.
Neste
sentido, pergunta-se: como a mudança da economia que
supervalorizou as produções agrícolas deu ênfase
para o desmatamento e consequentemente para o surgimento da crise
hídrica na região do Córrego de João
Pretinho situado no município de Colatina, ao noroeste do
estado do Espírito Santo? O estudo sobre essa região
vai ao encontro do conhecimento sobre uma área extremamente
preservada na década de 30 e que viu no percurso histórico
até o século XXI uma degradação
impactante e que modificou toda a paisagem e funcionalidade daquela
terra.
O
objetivo geral do estudo é reconhecer o recorte histórico
que deu origem à crise hídrica enfrentada pela
comunidade do Córrego de João Pretinho. Para o alcance
desse intuito é preciso reconhecer como era a região na
década de 30 (ponto inicial da pesquisa); traçar a
trajetória das atividades que ali se instalaram; apontar os
fatores que resultaram na escassez da água no local.
A
pesquisa se pauta no estudo de caso da região supracitada
ouvindo através de relatos de moradores antigos e mais
recentes sobre como vivenciaram essa experiência junto às
suas atividades. O tema é justificável por se tratar de
um exemplo para que as ações agrícolas e o uso
da cobertura do solo sejam planejados e sustentáveis. Não
há como desenvolver quaisquer ações lucrativas
ou de negócios sem pensar nos impactos que as mesmas podem
causar ao meio ambiente e às comunidades do entorno.
2
A
CRISE DE 1929 E SEUS REFLEXOS NA ECONOMIA
A
crise de 1929 foi avassaladora para todo o mundo. A bolha financeira
explodiu por meio da alta queda de cotações na Bolsa de
Nova York e assim inicia-se o grande impacto mundial e resquícios
na economia generalizada. Alguns dos principais fatores que
originaram tal problema partindo dos Estados Unidos foram o declínio
indústria, as barreiras surgidas na agricultura, a saturação
do setor imobiliário e a desorganização no setor
bancário (FARIA, 2016).
Houve
o surgimento de desemprego, falências, pobreza, declínios
de preços dentre outros fatos desastrosos. Esses e outros
efeitos não só permaneceram no ano em questão
como também perduraram por diversos anos impactando setores,
lugares e pessoas. A profundidade da crise foi intensa influenciando
nos agregados econômicos reais. Toda a economia mundial
desacelerou. A crise de 1929 foi, acima de tudo, um colapso geral de
qualquer tipo de produção em quase todo o mundo
industrializado. Surgiu de maneira violenta e contrastante submetendo
o mundo ocidental a um revés comparável ao dos dois
conflitos mundiais que o enquadram cronologicamente (GAZIER, 2009).
É
notório dizer que 1929 foi um divisor de águas na
economia e atividades de todos os setores e consequentemente no
comportamento da sociedade. No início deste ano, várias
empresas já começavam a falir e o governo não
interferia nesse cenário. Nas grandes fazendas e propriedades
produtoras de alimentos, os fazendeiros não conseguiam escoar
a sua produção nem mesmo para o mercado interno. Era
muito alimento para pouca procura e com isso os preços caíam
drasticamente. Em outras situações, produtos passaram a
produzir menos, comprando menos maquinário, contratando
pessoal suficiente para as tarefas fazendo com que cidades pequenas e
que dependiam em grande parte do agronegócio nos Estados
Unidos entrassem em colapso como afirma Alves (2015).
A
crise de 1929 foi caracterizada como sendo de sobre acumulação
onde Campos (2016) afirma que poderia ter sido resolvida se houvesse
novos investimentos em maturação.
Na
América Latina, a crise trouxe duras mudanças onde
surgiu pressão forte por parte dos Estados Unidos e da
Inglaterra forçando exportações mediante acordos
que só favoreciam a esses países e, contudo colocavam
obstáculos nas importações interrompendo uma
política econômica liberal. Neste cenário houve a
divisão de dois grandes grupos de países que
enfrentaram a crise de maneiras diferentes. Enquanto nações
como Equador se mantiveram na crise durante anos, Brasil, México
e outros enfrentaram mais rapidamente o problema trazendo inovações
e alterações nos processos políticos (CANO,
2015).
No
Brasil a crise de 1929 impactou o Governo de Getúlio Vargas
que perdurou no período de 1930-1945. Os produtores rurais
estavam otimistas quanto às ações que o governo
os propunha. A racionalização do trabalho e a
valorização de mão de obra brasileira eram um
dos elementos defendidos por Vargas. Desse modo, os produtores
acreditavam ter chance de aumentar as produções
cafeeiras. O governo considerava que o setor rural atrasava a
produção e, por isso, propôs algumas medidas que
despertava a economia local (WELCH, 2016).
2.1
O PERÍODO NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: GOVERNO,
ECONOMIA E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
Oliveira
(2008) afirma que o estado do Espírito Santo em períodos
antigos era considerado como uma capitania que não demonstrava
relevância no aspecto econômico enfrentando sérios
problemas de evolução.
Segundo
Araújo (2012) a economia do estado do Espírito Santo
passou por um ciclo de três fases sendo o primeiro ocorrido no
meado do século XIX até o ano de 1950 conhecido como o
ciclo do café de base familiar e sendo produzido em pequenas
colônias de imigrantes. O segundo ciclo pode ser constatado
dentre os anos de 1960-1990, ou seja, durando cerca de trinta anos
onde se iniciou a instalação de pequenas e médias
empresas no estado na primeira metade deste período e logo
depois a iniciação de grandes projetos em
industrialização. E, por fim, o terceiro ciclo tendo
início na década de 90 e caracterizado pelo crescimento
da dependência de commodities onde a indústria de
petróleo ressurgiu com significativa força.
Dias
(2012) destaca os principais elementos que compõem o segundo
ciclo no estado:
Industrialização
empreendida pelo grande capital externo ao Estado (estrangeiro e
nacional);
Predominância
da população urbana;
Agricultura
diversificada e instalação de agroindústrias;
Aprimoramento da logística voltada ao comércio
exterior;
Inserção
da economia local na lógica de desenvolvimento nacional; e
Articulação
das lideranças locais e nacionais (DIAS, 2012, p.22).
Caçador
(2009) ainda explica que no primeiro ciclo as principais
características mercantis eram a monocultura mercantil de base
familiar e o beneficiamento do café. No segundo ciclo houve um
forte incentivo por parte do governo para os investimentos de
empresas locais de médio e grande porte. Já o terceiro
ciclo é denominado como o período de diversificação
concentradora.
Dias
(2012) resume sucintamente esse primeiro ciclo como apresentação
das seguintes características: ocupação do
interior do estado; predominância da população
rural; monocultura mercantil de base familiar; pequenas propriedades
e principais atividades urbanas voltadas às atividades
agrícolas.
Certamente
a economia principal do estado do Espírito Santo foi os
cultivos agrícolas principalmente os do café. O estado
ocupava o segundo lugar na região sudeste em produtividade do
café com uma parcela de 25% do total colhido (ESPÍRITO
SANTO, 2001).
Sem
grandes alterações econômicas, manteve-se o
Espírito Santo até o início do século
XIX, quando governava Antônio Pires da Silva Pontes, que
procurou novas fontes econômicas, sendo atraído pela
região do Rio Doce, que foi aberta à navegação
e comércio com a implantação de quarteis para
proteger a área. Entretanto, a medida não surtiu o
efeito desejado, apesar de terem tomado medidas junto às
firmas comerciais visando à efetivação de sua
política colonizadora (OLIVEIRA, 2008, p. 520).
O
Ministério da Educação (2018) afirma que a
cultura do café foi a principal fonte de economia do estado
diferenciando-se da cultura do mesmo produto em São Paulo que
levou ao assalariamento e no desenvolvimento de relações
de trabalho. No estado, essa cultura caracterizou-se na força
de trabalho de meeiros, parceiros, arrendatários.
A
cultura do café foi responsável pelo fim da inércia
econômica da região sul e pelo seu aumento populacional,
resultado dos fluxos migratórios provenientes das províncias
vizinhas. Entretanto, sua expansão se deu de forma lenta se
compararmos com o Oeste Paulista e o Vale do Paraíba, ambas as
zonas pioneiras no século XIX (STAUFFER, 2014, p.4).
Segundo
Dias (2012) até a década de 50, o estado tinha 75% de
propriedades rurais com o cultivo do café como principal
produto sendo este responsável pela geração de
um terço da renda do local. Nos anos 60, houve uma grande
crise cafeeira que marcou o início da modernização
de relações capitalistas no estado. Foi a partir dessa
crise que o perfil econômico do Espírito Santo se
redirecionou para o eixo industrial (LOUREIRO, 2006).
Em
meados da década de 1960 a carteira de crédito agrícola
do Banco de Crédito Agrícola foi expandida
consideravelmente, uma vez que neste período houve uma
erradicação dos cafezais velhos e deficitários,
reduzindo a produção de café no estado de 2
milhões para 500 mil sacas. Isso impactou numa queda acentuada
da receita gerada no estado, refletindo negativamente em todos os
setores da economia (ARAUJO, 2012, p.39).
“Os
efeitos da crise do café seriam altamente deletérios
para uma economia eminentemente agrária e com poucas unidades
industriais. A cafeicultura não teria sido suficiente para
patrocinar a industrialização” (RIBEIRO, 2014,
p.262). De acordo com Rocha e Morandi (1992) a crise do café
no estado afetou o desempenho da agricultura do estado do Espírito
Santo, pois essa cultura ainda era tida como a mais rentável
em vista das demais que ainda não se destacavam como fonte de
renda e subsistência suficiente para os indivíduos.
Algumas outras culturas como a pecuária tentaram ser
substitutas do café não tendo muito êxito.
Na
segunda metade do século XX, a crise da atividade cafeeira
inaugurou uma nova fase do desenvolvimento do estado consubstanciada
em incentivos fiscais responsáveis pela atração
de novos investimentos, principalmente no setor industrial, pelos
chamados Grandes Projetos que, mesmo tardiamente, expandiram o grau
de internacionalização do Espírito Santo
(FORTUNATO, 2011, p.41).
Zorzal
e Silva (1995) dizem que o Espírito Santo tornou-se dependente
do cultivo do café que por sua vez se mostrou muito resistente
a crises por mais de um século. Após o declínio,
por volta de 1960 e 1970, houve uma nova conjuntura econômica
em nível nacional que também impactaram alguns estados
incluindo o Espírito Santo.
O
Estado conseguiu superar a crise a que o levara a erradicação
de 220 milhões de pés de café (1966-68), o que
importou no deslocamento de cerca de 30.000 famílias, ou seja,
180.000 pessoas, das quais 30.000 emigraram para outros estados,
20.000 se marginalizaram como subempregados no meio rural e 10.000 no
urbano (OLIVEIRA, 2008, p. 480).
Conforme
afirma Siqueira (2009) a indústria institucionalizada na
década de 60 foi uma das alternativas para a reestruturação
e o dinamismo da economia com o intuito de apoiar grandes
empreendimentos voltados para a exportação. Depois de
passados oito anos da crise cafeeira houve então a
desruralização do estado passando a ser mais urbano.
Extremamente
dependente da monocultura do café, o Espírito Santo foi
o estado que mais sofreu com o Programa de Erradicação
dos Cafezais Improdutivos, implementado pelo Governo Federal nos anos
de 1960, cujos reflexos – êxodo rural, redução
da renda e do emprego, entre outros – na economia capixaba
foram bastante profundos (LOUREIRO, 2006, p.16).
Porém,
alguns estudiosos não viram a crise cafeeira de forma
dramática igual estava sendo veiculada. Com a erradicação
dessa cultura no estado, deu-se lugar para outros tipos de cultura,
diversificando assim a economia local e com isso dando mais ênfase
à modernização da economia (ROCHA; MORANDI,
1992).
A
economia do estado só passou a ser constituída por
elementos mais modernos e menos rurais já em 1990. Significa
dizer que essa modernização é muito recente
ainda e a crise cafeeira proporcionou essa mudança na vida dos
capixabas (BUFFON, 1992).
O
chamado ciclo da industrialização posto por Dias (2012)
foi até os anos 80 sendo um período de fortes
transformações para o estado passando de uma economia
agroexportadora para uma especialização
secundário-exportadora com produção em larga
escala. O ano de 1975 foi um período significativo para a alta
expansão desses negócios para o estado.
Entre
os setores que aumentaram sua participação na indústria
de transformação destacam-se: (I) o setor de papel e
celulose, resultado da implantação da fábrica da
Aracruz Celulose S.A., em 1979; (II) o setor de extração
mineral, que teve a sua participação ampliada a partir
de 1971, com a inauguração de mais quatro usinas de
pelotização da CVRD; e (III) o setor metalúrgico,
que teve ampliada sua participação apenas no início
dos anos oitenta, com a operacionalização da Companhia
Siderúrgica de Tubarão (CST), em fins de 1983 (DIAS,
2012, p.16).
Já
no século XX, as principais indústrias e investimentos
que existiam no estado eram o Moinho Vitória (Grupo Buaiz);
Chocolates Garoto S/A; Fábrica de Tecidos de Cachoeiro de
Itapemirim; Companhia União Manufaturadora de Tecidos em
Vitória; Fábrica de Cimento de Cachoeiro de Itapemirim;
Cia de Ferro e Aço Vitória e Usina Paineiras S/A
(PAVÃO, 2013).
Caçador
(2013) afirma que a economia do estado passou por uma intensa mudança
que originou um crescimento econômico significativo. Segundo o
autor, o estado atualmente cresce acima da média há
várias décadas. No ano de 2009, o Espírito Santo
tinha o 11º lugar de melhor PIB brasileiro. Com isso, é
possível destacar duas características marcantes para
esse período sendo elas: o nível agregado das
atividades desempenhadas pelo estado ao longo das últimas duas
décadas; as flutuações do estado encontram-se
mais voláteis se comparadas àquelas em nível de
país e o desempenho dentro do comércio exterior.
O
Espírito Santo teve uma modernização tardia onde
passou a ter dentro do seu ambiente disponibilizado uma reprodução
da colonialidade do poder.
Assim,
por todos estes critérios, o Espírito Santo ainda é
uma economia periférica em termos de geração de
conhecimento e, neste caso, da sua incorporação ao
processo produtivo. Situação que não deve se
alterar no curto e médio prazos, pois os investimentos
previstos para os próximos anos na economia capixaba são
predominantemente de baixo conteúdo tecnológico, como
mineração e siderurgia (CAÇADOR, 2013, p. 109).
O
que se constata nos dias atuais pode ser evidenciado nas palavras de
Araujo (2012). O setor agropecuário é destaque pelo
cultivo do café conilon que sofre um crescimento significativo
desde a década de 90. O Espírito Santo contribui para a
produção nacional com cerca de 25% do total chegando a
mais de 9 milhões de sacas. O estado também tem
cultivado frutas como banana e mamão onde também
impacta com cerca de 40% a produção nacional desses
produtos. Já no setor industrial, destaca-se a siderurgia, a
fabricação de celulose, petróleo, gás
natural, exportação de ferro, granito, aço e
outras atividades importantes para a sociedade como os setores
têxtil, madeireiro e alimentício.
Dias
(2012) afirma que a estrutura produtiva do estado atualmente é
dinâmica trazendo inovação e um alto valor
agregado nos produtos. São cultivos que já estão
integrados à economia global e, por isso, a valorização
da economia local se estende a municípios do interior onde
podem ser encontrados arranjos produtivos dinâmicos e
competitivos. “A agricultura e a pecuária mereceram
atenção especial do governo, consequência natural
da filosofia política do homem que dirigia o Estado”
(OLIVEIRA, 2008, p.474).
3
O NOVO FORMATO ECONÔMICO, O CAPITALISMO E O IMPACTO AO MEIO
AMBIENTE
Sabe-se
que desde o surgimento das cidades na Antiguidade, algumas práticas
já impactavam a relação do homem com o meio
ambiente. Os ancestrais planejavam a seu tempo infraestrutura
hidráulicas que fomentavam o cultivo de alimentos e com o
tempo, a crescente produção fez acontecer a grande
migração das pessoas do campo para esses centros que se
tornariam cidades (BONZI, 2019). Acelerando essa trajetória,
chega-se às décadas de 30,40 e 50 onde marcaram as
mudanças econômicas e políticas como descritas em
capítulo anterior. A partir desse período é que
o novo formato econômico passa a existir e aos poucos impactar
direta e indiretamente no meio ambiente e nos recursos não
renováveis.
O
aumento da população gera um proporcional acréscimo
na demanda por alimentos; e, se a natureza espontaneamente não
é capaz, por si só, de fornecê-los 20 na sua
totalidade, surge a necessidade de buscar novas alternativas que
supram essa demanda. Dessa forma, a escassez de alimento foi
relativamente solucionada com o cultivo da terra e a domesticação
de animais (RODRIGUES, 2009, p.24).
A
expansão do capitalismo e do excesso de trabalho e atividades
produtivas deu força à corrida da lucratividade
exacerbada direcionava para o domínio dos recursos naturais de
forma desenfreada e sem limites para atender à grande demanda
consumista. A crise que assolou o século XX foi marcada por
uma grande onda de desemprego e outros problemas sociais oriundos do
surgimento do capitalismo. Essa condição capitalista
repercutia sobre o meio ambiente mais rápido do que a própria
reprodução da natureza (QUINTANA; HACON, 2011).
O
trabalho passou a ser, com o decorrer do tempo e a evolução
dos sistemas, um dos elementos impulsionadores, tanto da produção
de alimentos e de bens, quanto da formação e acumulação
de riquezas, fator decisivo para que a sociedade progredisse e
alcançasse melhores condições de vida. Todavia,
tal evolução impôs um ônus que tem sido
suportado por todos os indivíduos, independente da forma com
que cada um se beneficiou desse progresso (RODRIGUES, 2009, p.24).
A
escala produtiva tem ligação direta com o impacto ao
meio ambiente, ou seja, o acréscimo dessas atividades fez com
que o aumento pela degradação surgisse como
consequência. No entanto essa proporção torna-se
inversa quando com o avanço tecnológico e industrial
traz melhorias e benefícios para a vida cotidiana enquanto ao
mesmo tempo traz destruição às áreas
preservadas de recursos (BORGES, 2007).
A
industrialização fez com os processos ocorressem mais
rápido, com mais volume tornando os modos de produção
mais eficientes fazendo com que o consumismo aumentasse e com isso o
desperdício e a futilidade na aquisição de
produtos. A superprodução que se vê até os
dias de hoje reformulou o cenário econômico e
consequentemente o ambiental. A questão econômica está
vinculada ao meio ambiente, pois faz parte do tripé da
sustentabilidade onde se encontram com as dimensões sociais,
ambientais e econômicas (ROSA, 2007).
3.1
A DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE NO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO COMO FATOR PREPONDERANTE PARA A CRISE HÍDRICA
O
cuidado com o meio ambiente significa preservar em ações
contínuas o lugar, ou seja, explorá-lo de maneira
sustentável e que não impacte na reestruturação
das matas e nascentes. Toda e qualquer atividade que vai de encontro
a essa premissa certamente causa resquícios de degradação
ao lugar fazendo com que muitos elementos nunca mais se regenerem e
criando consequências a curto, médio e longo prazos.
Quando há um equilíbrio entre quaisquer tipos de
atividade e o meio ambiente, as gerações futuras terão
melhor qualidade de vida. No entanto, tratando-se de algumas
atividades como a agropecuária, há de se pensar que não
existe desenvolvimento sem destruição assim como aponta
Pereira (2007).
O
termo degradação ambiental está diretamente
ligado ao impacto ambiental. Ao mesmo tempo, ambos os termos
identificam a ação do homem como única causadora
artificial de algum descontrole do meio ambiente que até então
se encontra harmonioso. Importante destacar que os acontecimentos
naturais nunca degradam o meio ambiente, apenas o modificam (BRAGA,
2017).
O
estado do Espírito Santo assim como em outras várias
regiões, foi o responsável por desmatar muitas áreas
de mata nativa. Em um recorte mais atual no estado, existem
municípios que ficaram em um patamar acima do desejável
quando o quesito se trata de desmatamento.
Linhares,
no litoral capixaba, foi o município que mais desmatou a Mata
Atlântica entre 2014 e 2015, com a eliminação de
60 hectares de florestas (aproximadamente a área de 60 campos
de futebol). No sentido inverso, Sooretama, no interior do Espírito
Santo, foi a cidade que mais conservou o seu bioma, com 42,4% de sua
área natural. Isso é o que mostra o Atlas dos
Municípios da Mata Atlântica, lançado pela
Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Esses são os
principais destaques do Estado do Espírito Santo no
levantamento da ONG (SOS MATA ATLÂNTICA, 2016, p.1).
Em
2014, foi emitido um mapa de cobertura dos municípios do
estado do Espírito Santo onde apontam os focos de mata nativa
bem como qual o tipo de cobertura existe em cada região. É
importante destacar que o estado do Espirito Santo de acordo com
Jaques (2017) vivenciou período entre 2004-2014 uma das
maiores crises hídricas da história, o que pode ter
relação com as características mantidas pela
falta de cuidado com o solo e com os mananciais. Abaixo na figura 2,
encontram-se as principais atividades cultivadas na cidade em sua
zona rural, a saber:
Figura
1 – Mapa do uso de cobertura da terra (Colatina/ES)
Fonte:
SEAMA (2014)
Os
efeitos do desmatamento para a escassez da água são
evidentes e encontrados em inúmeros estudos A diminuição
do volume de água dentro dos lençóis freáticos
pode ser consequência das ações de desmatamento
do entorno. Diante de todos os recursos naturais não
renováveis, a água ocupa um patamar importante. Isso
porque esse recurso, em consequência do desmatamento e outras
agressões ao meio ambiente, vem sendo seriamente comprometido
(MARINOSKI, 2007).
As
crises hídricas constantemente ocorridas em muitos lugares do
Brasil fez surgir uma nova visão do uso desse recurso. Com
isso, a preocupação se estende para além do
simples consumo consciente ampliando para a reutilização
da água para várias finalidades. Bertolo (2006) afirma
que a água percorre três destinos diferentes ao cair das
chuvas: penetra no solo, evaporam-se e escorrem direto para os cursos
normais. Esse seria o ciclo natural das águas, ou seja, algo
sem interferência humana.
É
válido ressaltar que alguns pesquisadores não considera
a escassez de água como uma crise tendo em vista a crença
de que esta situação não é passageira.
Ela é contínua e crescente. Os fatores que levam aos
esvaziamentos de represas, rios, lagos e nascentes não sumirão
abruptamente, pois, implica em mudança de cultura de uma
sociedade e de comunidade rurais. É necessário que
essas pessoas compreendam que a atividade agrícola predatória
é o principal fator de empobrecimento da diversidade das matas
ciliares e outros recursos não renováveis, como a água
(JARDIM, 2015).
Tratando-se
do estado do Espírito Santo, a origem da crise hídrica
pode ter sido da pouca cobertura florestal que o lugar possui bem
como a falta de proteção do solo. Cerca de 90% da área
de todo o estado está descoberta e desprotegida. Ações
urgentes devem ser pensadas para que se aumente a capacidade de
retenção de água no estado conforme afirmam
Souza, Néri e Bernardo Neto (2018).
3.2
A REALIDADE AMBIENTAL DO CÓRREGO JOÃO PRETINHA EM
COLATINA-ES: UM RECORTE DE 1930-2016
O
Córrego João Pretinho está situado à
região norte do município de Colatina fazendo divisas
com outros distritos rurais como Córrego Bela Aurora, São
Roque, Reta Grande e Ângelo Frechiani. A comunidade é
formada exclusivamente por agricultores estando caracterizado como
zona rural como pode visto no mapa apresentado em destaque abaixo.
Figura
2 – Mapa da Zona Rural de Colatina - ES
Fonte:
Prefeitura Municipal de Colatina (2020)
Na
década de 30 havia uma área onde as atividades e
impactos aconteceram de cerca de 220 hectares conforme os relatos
coletados. Quando as primeiras famílias chegaram à
região de Córrego João Pretinha, 80% da área
ainda eram de matas. Essa paisagem foi se transformando ao longo dos
anos e das atividades chegando-se em 1944 com apenas 55% das matas
situadas em partes mais altas dos terrenos cultivados.
A
policultura foi perdendo espaço para que a pecuária
abastecesse um grande laticínio da época: o Laticínios
Colatina, atualmente a empresa Quero Quero. Em algumas propriedades,
a pecuária permaneceu até meados da década de 70
onde fazendeiros de maior porte vendiam parte de suas terras e
caracterizando o lugar como minifúndios. Desse modo, nos
minifúndios, a policultura ainda era preservada. No entanto,
na década de 80 começou-se a prática das
queimadas. Muito constantes na estação do inverno, as
queimadas destruíam áreas de mata e muitos dos
proprietários não tinha conhecimento e nem manejo
adequado com a prática resultando em alguns pontos críticos.
Para
combater os pontos de queimada que invadiam áreas erradas,
utilizavam-se as águas das nascentes de dentro das
propriedades ou próximas às queimadas. A ação
se intensificou de tal maneira que as nascentes não davam
conta de abastecimento e nem de combate aos incêndios. Havia na
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