MINHA
ESCOLA E SEU ENTORNO: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES QUE
ATUAM EM ESCOLAS DO ENSINO BÁSICO DE CURITIBA E REGIÃO
METROPOLITANA
Rosilaine
Durigan Mortella1
Josmaria Lopes de Morais2
1Curitiba.
Mestre em Ensino de Ciências e Matemática – UTFPR.
Professora na Rede Estadual de Educação de Curitiba.
Contato: anemortella@gmail.com
2Curitiba.
Doutora
em Química. Professora do Programa de Pós Graduação
em Formação Científica, Educacional e
Tecnológica da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná. Contato: jlmorais@utfpr.edu.br
Resumo
Este
trabalho tem por objetivo apresentar um relato de experiência
de uma atividade desenvolvida durante um curso de extensão em
Educação Ambiental promovido pela Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, para professores do
ensino básico que atuam do 6º ao 9º ano em Curitiba
e Região Metropolitana de Curitiba, estado do Paraná.
No segundo encontro presencial do curso foram apresentados os temas
da escola como Espaço Educador Sustentável e foram
promovidas discussões
sobre práticas de ensino para a promoção da
Educação Ambiental na escola. Na sequência, para
a atividade à distância foi
proposta a realização de uma atividade de percepção
do espaço escolar e de seu entorno. Os relatos dos professores
são apresentados e discutidos considerando o embasamento
teórico de
Gadotti (2008), Trajber e Sato (2010), Tuan (2012), Leff (2012) entre
outros.
Palavras-chaves:
Percepção, Educação Básica,
Educação Ambiental, Formação de
Professores
Abstract:
This
work aims to present an experience report of an activity developed
during an extension course in Environmental Education. The course was
promoted by the Federal Technological University of Paraná,
for teachers of basic education who work from the 6th to the 9th
grade in Curitiba and the Metropolitan Region of Curitiba, state of
Paraná. In the classroom lesson of the course, school themes
were presented as a sustainable educating space and discussions about
teaching practices were promoted to promote Environmental Education
at school. Then, for the distance activity, it was proposed to carry
out an activity of perception of the school space and its
surroundings. The reports presented the teachers are discussed
considering the theoretical basis of de
Gadotti (2008), Trajber e Sato (2010), Tuan (2012), Leff (2012) among
others.
Keywords:
Perception, Basic Education, Environmental Education, Teacher
Training
1.
Introdução
O
contexto atual exige o enfrentamento de enormes desafios que as
questões ambientais e sociais impõem, para este há
necessidade de promoção de mudança no modo de
pensar e de agir tanto dos indivíduos como do coletivo da
sociedade. A participação do processo educativo ao
enfrentamento dos problemas socioambientais sugere que, de modo
geral, a procura por soluções para a reversão
dos problemas ambientais envolve um importante trabalho de
“construção de saberes, revisão de valores
e atitudes e de efetiva transformação social, e esse
trabalho assinala a educação como condição
indispensável” para que isso ocorra (ARNALDO; SANTANA,
2018, p.600).
Assim,
a Educação Ambiental que surgiu no contexto de uma
crise ambiental reconhecida no final do século XX,
“estruturou-se como fruto da demanda para que o ser humano
adotasse uma visão de mundo e uma prática social
capazes de minimizar os impactos ambientais” que apenas se
avolumam com o passar do tempo (LAYRARGUES; LIMA, 2014, p. 26).
Diversos
são os caminhos que podem ser propostos e trilhados pela
comunidade escolar para colocar em discussão as questões
ambientais como questões da vida, considerando valores,
saberes e práticas sociais que reivindicam um pensara global.
Gadotti (2008, p. 10) considera que desenvolver uma cultura
da sustentabilidade é “um
desafio e uma exigência às instituições de
ensino”. De acordo com Torales (2013, p.10) a Educação
Ambiental tem se apresentado “como um grande potencial
de vínculo entre a escola e a sociedade, contribuindo para a
compreensão da complexidade de elementos
que compõem a relação ambiente e sociedade”.
Valorizando
a educação como base para as mudanças busca-se
meios para realizar a superação ao modelo vigente nos
últimos séculos, promover qualidade de vida sem
degradar o meio ambiente e comprometer a continuidade da vida. Neste
sentido, a formação de espaços educadores
sustentáveis – que, na concepção de
Trajber e Sato (2010), são lugares que não apenas se
propõem a educarem para a sustentabilidade mas que, também,
buscam se estruturar de modo a garantir qualidade de vida
socioambiental para a atual e as futuras gerações. Que
esses ambientes carregados de intencionalidades pedagógicas,
possam ser valorizados, receber investimentos de conhecimentos, de
recursos materiais, inovações tecnológicas e,
como o desenvolvimento de práticas sociais adequadas
constituam em referência de sustentabilidade socioambiental.
No
ensino formal é grande a necessidade e a importância do
trabalho dos professores, gestores e comunidade escolar no repensar,
inclusive, do espaço físico como uma das dimensões
para desenvolver a Educação Ambiental na escola.
Considerando
o exposto e, devido à relevância do papel da
Universidade em contribuir com a formação continuada de
professores, foi realizado um curso de extensão semipresencial
de Educação Ambiental utilizando o Saneamento Básico
como temática principal. O curso fez parte da dissertação
de mestrado da primeira autora. Foi ofertado para professores, de
todas as disciplinas, que estivessem atuando em sala de aula com
turmas do 6º ao 9º ano. Os encontros presenciais foram
realizados na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. A
realização da extensão foi uma das ações
do Programa de Pós-Graduação em Formação
Científica, Educacional e Tecnológica da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Para
possibilitar uma maior abrangência quanto ao número de
participantes e regiões, buscou-se apoio na tecnologia
digital, utilizando-se a mediação do Ambiente Virtual
de Aprendizagem (AVA), sistema moodle
da
UTFPR.
Foram
realizados cinco encontros presenciais e para cada encontro foram
propostas atividades para serem realizadas e postadas pelos
professores. No segundo encontro presencial foram trabalhados
conteúdos relacionados com Educação Ambiental
sendo legislação, conceitos e possibilidades da EA na
escola. Além disso foi proporcionado um momento de discussão
sobre questões das escolas trazidas pelos professores,
principalmente com relação a espaço físico,
gestão e currículo que foram as dimensões
consideradas quando trazido o conceito de Trajber e Sato (2010) para
espaço educador sustentável. Para a atividade a ser
realizada à distância foi proposto que os professores
observassem sua escola e relatassem essa observação.
Considerando
que a promoção de oportunidades de percepção
e compreensão dos valores que interagem no tempo e no espaço
é fundamental para o sucesso de propostas de EA. Foi proposta
uma atividade para incentivar os professores a observarem seus
ambientes escolares. A
intencionalidade da atividade proposta era que, para os próximos
encontros do curso fosse possível discutir a possibilidade de
“olhar a escola” na perspectiva de entendê-la como
um espaço possível de serem desenvolvidas ações
e projetos visando a inserção da Educação
Ambiental nas práticas pedagógicas dos professores.
2.
Encaminhamentos metodológicos
O
trabalho foi realizado empregando uma abordagem qualitativa que tem
como características empregar o ambiente natural como sua
fonte direta de dados sendo o pesquisador seu principal instrumento e
os dados coletados são principalmente descritivos (LÜDKE;
ANDRÉ, 2013).
Nesta
pesquisa os professores participantes do curso foram convidados a
realizar uma “visita de observação” de sua
escola e seu entorno e, em seguida, preparar um breve relato do que
observaram. Para realizar a análise dos relatos foi utilizada
a análise textual discursiva. De acordo com Moraes (2003) a
análise textual discursiva (ATD) propõe-se a descrever
e interpretar alguns dos sentidos que a leitura de um conjunto de
texto pode promover. A ATD consiste em um processo rigoroso,
sistemático e não neutro, em que a interpretação
realizada pelos pesquisadores carrega em si uma subjetividade, a qual
envolve as concepções de mundo do investigador, seus
discursos, ideias preconizadas, ampliadas e reelaboradas durante o
processo de construção do conhecimento (MORAES;
GALIAZZI, 2007).
Para
a realização da análise temática
discursiva foram seguidas as etapas: unitarização;
organização das categorias e produção de
metatextos.
Para
o processo de unitarização relatos dos professores
foram identificados com P1, P2, P3 e identificado também a
disciplina de atuação de cada professor(a). Na
sequência, os textos passaram por processos de desconstrução
e fragmentação. Os relatos formam preparados por 28
participantes e estavam relacionados com 26 escolas diferentes. No
processo de unitarização desconstruímos o texto,
fragmentando-o em unidades de significado, sendo estas as pertinentes
e relevantes em relação ao fenômeno da percepção
dos professores em relação aos espaços de sua
escola e entorno.
Para
facilitar a discussão dos dados deste recorte de pesquisa,
foram formadas categorias que correspondem as sínteses de
informações de pesquisa, concretizados por comparação
e diferenciação o que resultou na formação
de conjunto de elementos, que possuem algo em comum. Após a
síntese realizada foram produzidos metatextos com o objetivo
de trazer a compreensão das autoras sobre o olhar e a
percepção dos professores em relação aos
ambientes visitados.
4.
Resultados e Discussão
Dos
28 participantes do curso que realizaram a atividade proposta “Estudo
do Meio – Sua Escola”, 9 atuavam com a disciplina de
Ciências, 8 com de Geografia, 2 de Matemática, 3 de
Arte, 2 História, 3 Língua Portuguesa e uma com Língua
Inglesa. Estes descreveram sobre suas escolas que correspondiam, na
maioria dos casos, em diferentes Instituições de Ensino
sendo 21 localizadas no município de Curitiba e 04 na Região
Metropolitana de Curitiba.
Para
a análise dos dados foram identificados e escolhidos os temas:
(1) conhecimento e percepção quanto aos ambientes
internos da escola; (2) conhecimento e percepção sobre
o entorno da escola (3) reconhecimento de espaços com
potencial para o desenvolvimento de atividades diferenciadas (4) a
escola como lugar dos participantes da comunidade escolar e
considerações sobre a atividade desenvolvida.
Tema
1: Conhecimento e percepção sobre os ambientes da
escola
As
percepções trazidas pelos professores foram bastante
variadas. Nos
relatos dos professores duas das três dimensões da
escola sustentável ganharam destaque: Espaço Físico
e a Gestão, assuntos trabalhados no início do curso de
extensão em Educação Ambiental. A atividade de
“olhar sua escola como se fosse a primeira vez” foi
entendida pela maioria dos professores como trazer um conjunto de
dados do espaço físico.
Professores
consideraram que suas escolas são organizadas e que possuem
espaços limpos (P2, P3, P8, P10, P11, P12, P13, P14, P15, P16,
P17, P19, P22, P25). A professora (P26) relata que dentro do colégio
existe uma organização adequada, ocorre separação
do lixo, cuidam das áreas verdes que são bem grandes,
no entanto, percebe-se desperdício de água
especialmente em bebedouros e torneiras que “frequentemente
estão pingando”. Foram mencionados os espaços
escolares como sendo amplos, mas que precisam ser melhor cuidados
(P23, P28) e os professores (P7, P20, P24) dizem que em suas escolas
há necessidade de melhor orientação para que os
alunos passem a ter mais respeito pelos espaços da escola.
Foram
mencionadas dificuldades de serem realizadas manutenções
periódicas das construções escolares o que torna
o trabalho com os alunos bem mais difícil (P5, P23). Foram
mencionados como exemplos de problemas nas escolas a insuficiência
do número de banheiros. A professora (P23) relata que houve a
desativação de banheiros que estavam com tubulação
de esgoto muito antiga e, a manutenção ainda estava
sendo aguardada pela comunidade escolar. Houve um relato detalhado da
professora (P20) que mencionou que sua escola era “pouco
convidativa” e elencava vários motivos para considerá-la
dessa forma: “desde a entrada observamos as pichações
resultantes do vandalismo, ambientes com manutenção
insuficiente, problemas de odor relacionado com banheiros”.
Pichações e outros atos de vandalismo também são
relatados pela professora (P20).
Já
a professora (P25) relata que em sua escola a construção
de novos banheiros e a ligação das saídas de
esgoto na linha da empresa de saneamento melhorou a qualidade
ambiental da escola. Quanto as áreas da escola os professores
relatam o excesso de espaço impermeabilizado (P1, P2, P18,
P21, P28). A professora
P23, que atua com Matemática, relata que sua escola tem
problemas de umidade porque parte da escola está sob uma fonte
de água – o que foi descoberto recentemente e, ocorrem
infiltrações em salas e em pisos.
Os
professores além de quantificarem os espaços, também
relataram as condições que eles se apresentam,
destacando o trabalho da gestão escolar, tanto de forma
positiva quanto negativa, como relatado pelos professores que que
atuam com as disciplinas de Língua Portuguesa, Geografia e
Arte. A professora (P1), que atua em uma escola da Região
Metropolitana de Curitiba destaca que a nova gestão fez a
retirada do jardim que havia na frente da escola e concretou o local,
impermeabilizando-o. Que a decisão não foi discutida
com os professores e comunidade escolar – que simplesmente “foi
feito”. Professora (P6) de uma escola de Curitiba salienta que
a gestão sempre se preocupou com a organização,
zela e mantém o colégio, mas não se preocupa com
a questão ambiental pois também possui muitas áreas
em que o solo da escola está impermeabilizado. Também
possui alguns ambientes ocupados por entulhos. A professora considera
que em parte do espaço atualmente impermeabilizado pode ser
utilizado para a construção de um jardim.
Tema
2: Conhecimento e percepção sobre o entorno da escola
Dos
28 relatos, 19 trouxeram suas observações e percepções
sobre o entorno da escola. Cinco professores descreveram o entorno de
sua escola como sendo espaço urbanizado, com coleta de
resíduos, com a presença de gramas ou de árvores
(P9, P15, P18, P19). Enquanto a professora (P20) relata que no
entorno da escola as calçadas são apenas nas ruas
principais. No entorno da escola existem praça e casa de
leitura que são utilizadas também pelos alunos (P6),
museu e parque (P25). O que mais destacou-se foi a questão da
presença nas proximidades de córregos poluídos
(P3, P6, P16, P21, P23). Enquanto a região da escola relatada
pela professora que atuam com a disciplina de Ciências (P21)
apresenta risco de enchente e é uma região de grande
vulnerabilidade social com diversas construções
irregulares.
A
questão da violência na saída e no entorno da
escola foram relatados pelos professores (P2, P11, P21, P22). Mesmo
quando o entorno da escola foi descrito como agradável devido
a presença de bosque para caminhada (P6, P7) e de praça,
foi destacado, pelos mesmos professores que esses ambientes são
de risco devido a violência e a questão de venda e uso
de drogas. A professora (P21) relatou a questão da
vulnerabilidade dos alunos e considerou que a escola representa para
muitos alunos como sendo “um refúgio” em meio a
situação social de vulnerabilidade da região.
Cinco professores mencionaram que suas escolas estão em
regiões bastante urbanizadas e, para estas os problemas estão
relacionados, com a poluição sonora (P2, P26), com
grande movimentação de carros próximos a escola
(P10, P13) e com a escola estar “apertada entre prédios”
com pouca luz natural (P2). O professor (P4) comenta sobre o impacto
da construção de um grande empreendimento comercial ao
lado da escola que esse impacto está relacionado a poeira,
questão sonora e a segurança dos alunos.
Nos
relatos apresentados, a professora P20 ao declarar que sua escola não
era um ambiente convidativo e a professora P21 ao declarar que sua
escola é como “um refúgio” em meio a uma
região de violência de vulnerabilidade social, ambas
estão trazendo seus olhares. Tuan (2012) nos traz uma reflexão
sobre os diversos olhares:
Quais
são nossas visões do meio ambiente físico,
natural e humanizado? Como o percebemos, estruturamos e avaliamos?
Quais foram, e quais são, os nossos ideais ambientais? Como a
economia, o estilo de vida e o próprio ambiente físico
afetam as atitudes e valores ambientais? Quais são os laços
entre meio ambiente e visão do mundo? (TUAN, 2012, p.15)
Tema
3: Reconhecimento de espaços com potencial para o
desenvolvimento de atividades diferenciadas
Duas
professoras (P1, P9) que atuam na mesma escola fizeram relatos
bastante diferentes sobre o espaço escolar. Para uma das
professoras o espaço abandonado representava um descuido da
gestão e para a outra o mesmo espaço era um local com
potencial para a preparação de uma horta. De
acordo Kozel e Souza (2009, p.123) a percepção “envolve
trajetórias de vida social dos sujeitos, isto é, os
significados, as diferentes experiências, os valores que os
seres humanos atribuem à sociedade e aos homens”.
A
maioria dos relatos descreviam os espaços da escola sendo
citados além das salas de aula e de espaços
administrativos, cozinhas, pátios abertos e fechados. Alguns
relatos eram bem detalhados contendo número de salas, de
ambientes, tipo de pátio. Não houve menção
de que esses espaços poderiam ser utilizados para trabalhos de
Educação Ambiental o que pode ser justificado por ter
sido pedido um relato bem aberto “olha sua escola”. Nos
casos que o espaço foi relacionado com a potencialidade de ser
utilizado para EA foram as hortas ou suas possibilidades de
construção. Autores
como Vieira, Campos-Torales, Morais (2017) já evidenciavam o
potencial presentes nos espaços físicos da escola:
[...]
o espaço físico pode ser potencializado como elemento
de contextualização do processo educativo-ambiental,
pela utilização pedagógica das estruturas
físicas existentes, aproveitamento de espaços
subutilizados e adequações que visem a eficiência
dos recursos naturais, com a participação dos atores da
comunidade escolar (VIEIRA, CAMPOS-TORALES, MORAIS, 2017).
O
professor P4, que atua com a disciplina de Geografia, menciona que em
sua escola são trabalhados alguns projetos de Educação
Ambiental e que estes envolvem a correta separação
do lixo (inclusive nas salas de aulas); trabalho com horta onde a
produção complementa a merenda escolar.
Dois
professores de Geografia (P2, P4), um professor de Língua
Portuguesa (P12) e um de Ciências (P17), destacaram a
existência de um espaço destinado à horta em sua
Instituição de Ensino. Para manutenção
desse espaço, os professores de Língua Portuguesa e de
Ciências, mencionados acima, ressaltaram que é
necessária a colaboração da comunidade. Algumas
Instituições de Ensino apresentam ajardinamento, como
salientado por 2 professores de Geografia, 2 de Ciências, 1 de
Língua Portuguesa e 1 de Inglês, esses espaços
embelezam os ambientes que em sua maioria são compostos de
prédios, pátios e calçadas.
Embora
a horta possa ser considerada como um excelente instrumento para
práticas pedagógicas, no contexto de pensar em
alimentação, qualidade de vida, foi interessante
observar que este instrumento foi o mais citado como possibilidade de
ser implementado nas escolas. Com relação a
revitalização do espaço cabe esclarecer que
trazer a ideia de horta e de jardim ou área recreativa é
importante mas o desafio é torná-los um campo
pedagógico em que os alunos atuem diretamente aprendendo
valores em torno da vida, da morte, da solidariedade, da
sobrevivência, da adaptação e da transformação
entre muitos outros (SANDER, 2019).
O
ambiente escolar formado por salas de aula, o pátio escolar e
outros ambientes escolares não devem ser pensados apenas como
espaços construídos para a
finalidade de “abrigar a escola”. Uma professora
de Geografia (P28) apresentou em seu relato:
“Da
instituição tem se uma visão de parte do Bairro
e uma grande parte do entorno de paisagem natural. Sentado em uma
escada que tem no pátio que por sinal é enorme, dá
para fazer aula sobre paisagem, relevo, solo, elementos naturais e
sociais, enfim, a escola não tem laboratório de
ciências, mas para geografia não falta nada, é só
sair da sala de aula”.
O
relato apresentado pela professora demonstra que ela percebe as
possibilidades do espaço para Geografia, mas que, ainda não
relatou sua possibilidade para a Educação Ambiental.
Neste sentido o curso de extensão em EA deve contribuir para
realizar
resgates no sentido de trazer propostas que venham a possibilitar
que as pessoas compreendam a si, o outro e as relações
com o ambiente bem como suas possibilidades para repensar em como o
ser humano, individual ou coletivamente, o vê e o compreende,
configurando-se assim, como um tema de importância tanto para a
formação do educador ambiental como para seu trabalho
no espaço escolar(MAFRA-ORSI, et al. 2015).
Tema
4: As pessoas da escola, a gestão, a comunidade
Nos
relatos dos professores duas das três dimensões da
Escola Sustentável ganharam destaque: Espaço Físico
e a Gestão, assuntos trabalhados no início do curso de
extensão, o sair para olhar a escola levou os professores a
refletirem sobre suas edificações.
Professora
de Arte de Curitiba (P19) ressalta que em sua realidade percebe-se um
cuidado da gestão escolar com o ambiente e, consequentemente é
refletido em todos que trabalham ou estudam lá.
Dois
professores que atuam na mesma escola e com a disciplina de Língua
Portuguesa (P1, P9) apresentaram um relato da escola elaborado de
forma muito particular, percebe-se que cada um fez sua descrição
e nela expressou seu sentimento para aquele local. Um descreve a
escola como um local de possibilidade, onde se pode construir uma
horta, um jardim, um espaço para os estudantes, no entanto o
outro, embora destaque a construção da horta e do
espaço para os estudantes, seu relato reforça o descaso
para com o local, ressaltando espaços sem serem aproveitados e
a reprovação pelo belo jardim que a escola possuía
e que com a nova gestão foi todo concretado. Cada pessoa
percebe, reage e responde de forma diferente frente às
situações, as respostas ou manifestações
são, portanto, resultado das percepções. Tuan
(2012) em sua obra “Topofilia” nos incita a questionar
sobre nossos valores, como percebemos, nos situamos, significamos o
mundo que ocuparmos. Para
o Tuan (2012, p. 5), a percepção “é tanto
a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a
atividade proposital em que certos fenômenos são
claramente registrados enquanto outros são bloqueados”.
Tendo
em vista que na atividade foi solicitado que o participante
percorresse sua Instituição de Ensino e/ou seu entorno,
um professor de Ciências da Região Metropolitana, além
de descrever brevemente sua escola, uma unidade nova, com grande
potencial para espaços de ajardinamento, horta, entre outros,
optou por fotografar a escola e apontar esses espaços.
Os
professores, na sua maioria, realizaram a atividade sem explicitar o
que está tinha provocado neles. No entanto três
professores realizaram comentários bem pessoas. Uma professora
que atua com a disciplina de Ciências fez o relato:
Trabalho
nesse colégio há muitos anos e senti dificuldade em
caminhar e olhar para todos os espaços como se fosse a
primeira vez. Acabei por observar coisas, as quais passavam
despercebidas antes, que eu não dava valor, significado, como
flores pela escola (P13). Uma professora (P15), que atua em escola de
Curitiba, relatou a dificuldade em desenvolver a atividade, tendo em
vista que trabalha na escola há muito tempo, “caminhar e
olhar com outros olhos, foi desafiador”. A professora (P24) ao
realizar a atividade trouxe como consideração do
trabalho “após observação do espaço
escolar é que entendi que precisamos urgentemente trabalhar
questões ambientais de forma mais efetiva dentro da escola”.
Uma
professora (P15) além de relatar brevemente sobre o espaço
físico da escola, o fez uso da ferramenta Google Maps, para
demonstrar que a escola estava localizada em região
economicamente privilegiada, arborizada, pavimentada, sem problemas
com relação a resíduos e esgoto à céu
aberto. Que que o número de alunos tem diminuído a cada
ano pois, sendo que a maioria deles vem de outros bairros, uma vez
que a região da escola é constituída
principalmente de casas e apartamentos habitados por pessoas com
melhores condições econômicas e, destacou que “
atualmente o bairro tem a característica de morada de pessoas
idosas”.
A
atividade “olhar a escola” foi solicitada com o seguinte
encaminhamento: Que o(a) professor(a) percorresse
sua Instituição de Ensino e se possível seu
entorno, observando esse espaço como se fosse a primeira vez.
Na sequência, o(a) professor(a) relatasse suas observações
por meio de um texto, esquemas, imagens. Tendo
sido a realizado a proposta, sem discussões no encontro
presencial, o resultado foi o exposto neste relato. Ou seja, mais
relato sobre os aspectos físicos das escolas e tendo, poucos
relatos abordaram fatos e situações além dos
espaços físicos da escola ou da região da
escola.
Ao
ler e discutir os trabalhos que foram postados na sala virtual do
curso, a equipe de pesquisa também teve seus momentos de
reflexão e trouxe para os próximos encontros do curso o
assunto do estudo do meio com base no trabalho de Lopes e Pontuschka
(2009), Mafra-Orsi et al. (2015) para
discutir com os professores e assim contribuir para que todos
pudessem pensar nas possibilidades do espaço escolar como
espaço para a Educação Ambiental.
O
processo de reflexão, realizado por professores durante a
formação continuada tem a intencionalidade como o
apresentado
por Tardif e Moscoso (2019, p.406) “o
professor não deve só refletir sobre sua prática,
mas também sobre a reflexão dos outros, sobre as
práticas dos outros, sobre o modo como os outros recebem sua
prática e refletem a partir dela de maneira simultânea”
e, é neste
sentido que este relato de experiência pretende contribuir para
um repensar inclusive sobre o espaço escolar e suas
possibilidades. Considerando, então, que estes sejam “espaços
que devem proporcionar uma forma de ampliar as condições
de aprendizagem e convívio entre os estudantes e toda a
comunidade escolar, valorizar a cultura escolar e o respeito”
(VIEIRA; CAMPOS-TORALES; MORAIS, 2017).
4.
Considerações Finais
No
decorrer do curso de formação a Educação
Ambiental foi trazida como considerada como propulsora e mediadora de
ideias e de ações para serem desenvolvidas na prática
pedagógica dos professores, entendida como prática
social. A partir dos conhecimentos das questões relacionados à
temática ambiental, especialmente relacionadas com a ausência
ou insuficiência do Saneamento Básico, e aos problemas
socioambientais o curso de formação atingiu o público
de muitas escolas que correspondiam a uma grande diversidade de
realidades que pareciam ainda maiores devido aos diferentes olhares
de professores de todas as disciplinas do ensino básico.
Na
atividade apresentada neste relato podemos considerar que o “Olhar
a Escola” proporcionou inicialmente aos participantes um andar
pela escola e um relato, mas na sequência, este trabalho passou
a fazer mais sentido quando foi proposto no curso a realização
de uma prática colaborativa denominada. Durante o curso foi
possível um processo de reflexão tanto dos professores
quanto dos formadores que, com a parceria com os professores
conseguiram também entender mais sobra as possibilidades da
Educação Ambiental passar a estar, efetivamente, em
seus espaços escolares na forma de projetos ou de
transversalização do ensino. Existe um longo caminho,
mas que deve ser percorrido para que um dia as escolas possam ser
consideradas como espaços educadores sustentáveis.
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