Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
11/12/2021 (Nº 73) MINHA ESCOLA E SEU ENTORNO: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES QUE ATUAM EM ESCOLAS DO ENSINO BÁSICO DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA
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MINHA ESCOLA E SEU ENTORNO: A PERCEPÇÃO DE PROFESSORES QUE ATUAM EM ESCOLAS DO ENSINO BÁSICO DE CURITIBA E REGIÃO METROPOLITANA

Rosilaine Durigan Mortella1 Josmaria Lopes de Morais2



1Curitiba. Mestre em Ensino de Ciências e Matemática – UTFPR. Professora na Rede Estadual de Educação de Curitiba. Contato: anemortella@gmail.com

2Curitiba. Doutora em Química. Professora do Programa de Pós Graduação em Formação Científica, Educacional e Tecnológica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Contato: jlmorais@utfpr.edu.br



Resumo

Este trabalho tem por objetivo apresentar um relato de experiência de uma atividade desenvolvida durante um curso de extensão em Educação Ambiental promovido pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, para professores do ensino básico que atuam do 6º ao 9º ano em Curitiba e Região Metropolitana de Curitiba, estado do Paraná. No segundo encontro presencial do curso foram apresentados os temas da escola como Espaço Educador Sustentável e foram promovidas discussões sobre práticas de ensino para a promoção da Educação Ambiental na escola. Na sequência, para a atividade à distância foi proposta a realização de uma atividade de percepção do espaço escolar e de seu entorno. Os relatos dos professores são apresentados e discutidos considerando o embasamento teórico de Gadotti (2008), Trajber e Sato (2010), Tuan (2012), Leff (2012) entre outros.

Palavras-chaves: Percepção, Educação Básica, Educação Ambiental, Formação de Professores



Abstract:



This work aims to present an experience report of an activity developed during an extension course in Environmental Education. The course was promoted by the Federal Technological University of Paraná, for teachers of basic education who work from the 6th to the 9th grade in Curitiba and the Metropolitan Region of Curitiba, state of Paraná. In the classroom lesson of the course, school themes were presented as a sustainable educating space and discussions about teaching practices were promoted to promote Environmental Education at school. Then, for the distance activity, it was proposed to carry out an activity of perception of the school space and its surroundings. The reports presented the teachers are discussed considering the theoretical basis of de Gadotti (2008), Trajber e Sato (2010), Tuan (2012), Leff (2012) among others.

Keywords: Perception, Basic Education, Environmental Education, Teacher Training



1. Introdução

O contexto atual exige o enfrentamento de enormes desafios que as questões ambientais e sociais impõem, para este há necessidade de promoção de mudança no modo de pensar e de agir tanto dos indivíduos como do coletivo da sociedade. A participação do processo educativo ao enfrentamento dos problemas socioambientais sugere que, de modo geral, a procura por soluções para a reversão dos problemas ambientais envolve um importante trabalho de “construção de saberes, revisão de valores e atitudes e de efetiva transformação social, e esse trabalho assinala a educação como condição indispensável” para que isso ocorra (ARNALDO; SANTANA, 2018, p.600).

Assim, a Educação Ambiental que surgiu no contexto de uma crise ambiental reconhecida no final do século XX, “estruturou-se como fruto da demanda para que o ser humano adotasse uma visão de mundo e uma prática social capazes de minimizar os impactos ambientais” que apenas se avolumam com o passar do tempo (LAYRARGUES; LIMA, 2014, p. 26).

Diversos são os caminhos que podem ser propostos e trilhados pela comunidade escolar para colocar em discussão as questões ambientais como questões da vida, considerando valores, saberes e práticas sociais que reivindicam um pensara global. Gadotti (2008, p. 10) considera que desenvolver uma cultura da sustentabilidade é “um desafio e uma exigência às instituições de ensino”. De acordo com Torales (2013, p.10) a Educação Ambiental tem se apresentado “como um grande potencial de vínculo entre a escola e a sociedade, contribuindo para a compreensão da complexidade de elementos que compõem a relação ambiente e sociedade”.

Valorizando a educação como base para as mudanças busca-se meios para realizar a superação ao modelo vigente nos últimos séculos, promover qualidade de vida sem degradar o meio ambiente e comprometer a continuidade da vida. Neste sentido, a formação de espaços educadores sustentáveis – que, na concepção de Trajber e Sato (2010), são lugares que não apenas se propõem a educarem para a sustentabilidade mas que, também, buscam se estruturar de modo a garantir qualidade de vida socioambiental para a atual e as futuras gerações. Que esses ambientes carregados de intencionalidades pedagógicas, possam ser valorizados, receber investimentos de conhecimentos, de recursos materiais, inovações tecnológicas e, como o desenvolvimento de práticas sociais adequadas constituam em referência de sustentabilidade socioambiental.

No ensino formal é grande a necessidade e a importância do trabalho dos professores, gestores e comunidade escolar no repensar, inclusive, do espaço físico como uma das dimensões para desenvolver a Educação Ambiental na escola.

Considerando o exposto e, devido à relevância do papel da Universidade em contribuir com a formação continuada de professores, foi realizado um curso de extensão semipresencial de Educação Ambiental utilizando o Saneamento Básico como temática principal. O curso fez parte da dissertação de mestrado da primeira autora. Foi ofertado para professores, de todas as disciplinas, que estivessem atuando em sala de aula com turmas do 6º ao 9º ano. Os encontros presenciais foram realizados na cidade de Curitiba, no estado do Paraná. A realização da extensão foi uma das ações do Programa de Pós-Graduação em Formação Científica, Educacional e Tecnológica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Para possibilitar uma maior abrangência quanto ao número de participantes e regiões, buscou-se apoio na tecnologia digital, utilizando-se a mediação do Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), sistema moodle da UTFPR.

Foram realizados cinco encontros presenciais e para cada encontro foram propostas atividades para serem realizadas e postadas pelos professores. No segundo encontro presencial foram trabalhados conteúdos relacionados com Educação Ambiental sendo legislação, conceitos e possibilidades da EA na escola. Além disso foi proporcionado um momento de discussão sobre questões das escolas trazidas pelos professores, principalmente com relação a espaço físico, gestão e currículo que foram as dimensões consideradas quando trazido o conceito de Trajber e Sato (2010) para espaço educador sustentável. Para a atividade a ser realizada à distância foi proposto que os professores observassem sua escola e relatassem essa observação.

Considerando que a promoção de oportunidades de percepção e compreensão dos valores que interagem no tempo e no espaço é fundamental para o sucesso de propostas de EA. Foi proposta uma atividade para incentivar os professores a observarem seus ambientes escolares. A intencionalidade da atividade proposta era que, para os próximos encontros do curso fosse possível discutir a possibilidade de “olhar a escola” na perspectiva de entendê-la como um espaço possível de serem desenvolvidas ações e projetos visando a inserção da Educação Ambiental nas práticas pedagógicas dos professores.



2. Encaminhamentos metodológicos

O trabalho foi realizado empregando uma abordagem qualitativa que tem como características empregar o ambiente natural como sua fonte direta de dados sendo o pesquisador seu principal instrumento e os dados coletados são principalmente descritivos (LÜDKE; ANDRÉ, 2013).

Nesta pesquisa os professores participantes do curso foram convidados a realizar uma “visita de observação” de sua escola e seu entorno e, em seguida, preparar um breve relato do que observaram. Para realizar a análise dos relatos foi utilizada a análise textual discursiva. De acordo com Moraes (2003) a análise textual discursiva (ATD) propõe-se a descrever e interpretar alguns dos sentidos que a leitura de um conjunto de texto pode promover. A ATD consiste em um processo rigoroso, sistemático e não neutro, em que a interpretação realizada pelos pesquisadores carrega em si uma subjetividade, a qual envolve as concepções de mundo do investigador, seus discursos, ideias preconizadas, ampliadas e reelaboradas durante o processo de construção do conhecimento (MORAES; GALIAZZI, 2007).

Para a realização da análise temática discursiva foram seguidas as etapas: unitarização; organização das categorias e produção de metatextos.

Para o processo de unitarização relatos dos professores foram identificados com P1, P2, P3 e identificado também a disciplina de atuação de cada professor(a). Na sequência, os textos passaram por processos de desconstrução e fragmentação. Os relatos formam preparados por 28 participantes e estavam relacionados com 26 escolas diferentes. No processo de unitarização desconstruímos o texto, fragmentando-o em unidades de significado, sendo estas as pertinentes e relevantes em relação ao fenômeno da percepção dos professores em relação aos espaços de sua escola e entorno.

Para facilitar a discussão dos dados deste recorte de pesquisa, foram formadas categorias que correspondem as sínteses de informações de pesquisa, concretizados por comparação e diferenciação o que resultou na formação de conjunto de elementos, que possuem algo em comum. Após a síntese realizada foram produzidos metatextos com o objetivo de trazer a compreensão das autoras sobre o olhar e a percepção dos professores em relação aos ambientes visitados.



4. Resultados e Discussão

Dos 28 participantes do curso que realizaram a atividade proposta “Estudo do Meio – Sua Escola”, 9 atuavam com a disciplina de Ciências, 8 com de Geografia, 2 de Matemática, 3 de Arte, 2 História, 3 Língua Portuguesa e uma com Língua Inglesa. Estes descreveram sobre suas escolas que correspondiam, na maioria dos casos, em diferentes Instituições de Ensino sendo 21 localizadas no município de Curitiba e 04 na Região Metropolitana de Curitiba.

Para a análise dos dados foram identificados e escolhidos os temas: (1) conhecimento e percepção quanto aos ambientes internos da escola; (2) conhecimento e percepção sobre o entorno da escola (3) reconhecimento de espaços com potencial para o desenvolvimento de atividades diferenciadas (4) a escola como lugar dos participantes da comunidade escolar e considerações sobre a atividade desenvolvida.



Tema 1: Conhecimento e percepção sobre os ambientes da escola

As percepções trazidas pelos professores foram bastante variadas. Nos relatos dos professores duas das três dimensões da escola sustentável ganharam destaque: Espaço Físico e a Gestão, assuntos trabalhados no início do curso de extensão em Educação Ambiental. A atividade de “olhar sua escola como se fosse a primeira vez” foi entendida pela maioria dos professores como trazer um conjunto de dados do espaço físico.

Professores consideraram que suas escolas são organizadas e que possuem espaços limpos (P2, P3, P8, P10, P11, P12, P13, P14, P15, P16, P17, P19, P22, P25). A professora (P26) relata que dentro do colégio existe uma organização adequada, ocorre separação do lixo, cuidam das áreas verdes que são bem grandes, no entanto, percebe-se desperdício de água especialmente em bebedouros e torneiras que “frequentemente estão pingando”. Foram mencionados os espaços escolares como sendo amplos, mas que precisam ser melhor cuidados (P23, P28) e os professores (P7, P20, P24) dizem que em suas escolas há necessidade de melhor orientação para que os alunos passem a ter mais respeito pelos espaços da escola.

Foram mencionadas dificuldades de serem realizadas manutenções periódicas das construções escolares o que torna o trabalho com os alunos bem mais difícil (P5, P23). Foram mencionados como exemplos de problemas nas escolas a insuficiência do número de banheiros. A professora (P23) relata que houve a desativação de banheiros que estavam com tubulação de esgoto muito antiga e, a manutenção ainda estava sendo aguardada pela comunidade escolar. Houve um relato detalhado da professora (P20) que mencionou que sua escola era “pouco convidativa” e elencava vários motivos para considerá-la dessa forma: “desde a entrada observamos as pichações resultantes do vandalismo, ambientes com manutenção insuficiente, problemas de odor relacionado com banheiros”. Pichações e outros atos de vandalismo também são relatados pela professora (P20).

Já a professora (P25) relata que em sua escola a construção de novos banheiros e a ligação das saídas de esgoto na linha da empresa de saneamento melhorou a qualidade ambiental da escola. Quanto as áreas da escola os professores relatam o excesso de espaço impermeabilizado (P1, P2, P18, P21, P28). A professora P23, que atua com Matemática, relata que sua escola tem problemas de umidade porque parte da escola está sob uma fonte de água – o que foi descoberto recentemente e, ocorrem infiltrações em salas e em pisos.

Os professores além de quantificarem os espaços, também relataram as condições que eles se apresentam, destacando o trabalho da gestão escolar, tanto de forma positiva quanto negativa, como relatado pelos professores que que atuam com as disciplinas de Língua Portuguesa, Geografia e Arte. A professora (P1), que atua em uma escola da Região Metropolitana de Curitiba destaca que a nova gestão fez a retirada do jardim que havia na frente da escola e concretou o local, impermeabilizando-o. Que a decisão não foi discutida com os professores e comunidade escolar – que simplesmente “foi feito”. Professora (P6) de uma escola de Curitiba salienta que a gestão sempre se preocupou com a organização, zela e mantém o colégio, mas não se preocupa com a questão ambiental pois também possui muitas áreas em que o solo da escola está impermeabilizado. Também possui alguns ambientes ocupados por entulhos. A professora considera que em parte do espaço atualmente impermeabilizado pode ser utilizado para a construção de um jardim.



Tema 2: Conhecimento e percepção sobre o entorno da escola

Dos 28 relatos, 19 trouxeram suas observações e percepções sobre o entorno da escola. Cinco professores descreveram o entorno de sua escola como sendo espaço urbanizado, com coleta de resíduos, com a presença de gramas ou de árvores (P9, P15, P18, P19). Enquanto a professora (P20) relata que no entorno da escola as calçadas são apenas nas ruas principais. No entorno da escola existem praça e casa de leitura que são utilizadas também pelos alunos (P6), museu e parque (P25). O que mais destacou-se foi a questão da presença nas proximidades de córregos poluídos (P3, P6, P16, P21, P23). Enquanto a região da escola relatada pela professora que atuam com a disciplina de Ciências (P21) apresenta risco de enchente e é uma região de grande vulnerabilidade social com diversas construções irregulares.

A questão da violência na saída e no entorno da escola foram relatados pelos professores (P2, P11, P21, P22). Mesmo quando o entorno da escola foi descrito como agradável devido a presença de bosque para caminhada (P6, P7) e de praça, foi destacado, pelos mesmos professores que esses ambientes são de risco devido a violência e a questão de venda e uso de drogas. A professora (P21) relatou a questão da vulnerabilidade dos alunos e considerou que a escola representa para muitos alunos como sendo “um refúgio” em meio a situação social de vulnerabilidade da região. Cinco professores mencionaram que suas escolas estão em regiões bastante urbanizadas e, para estas os problemas estão relacionados, com a poluição sonora (P2, P26), com grande movimentação de carros próximos a escola (P10, P13) e com a escola estar “apertada entre prédios” com pouca luz natural (P2). O professor (P4) comenta sobre o impacto da construção de um grande empreendimento comercial ao lado da escola que esse impacto está relacionado a poeira, questão sonora e a segurança dos alunos.

Nos relatos apresentados, a professora P20 ao declarar que sua escola não era um ambiente convidativo e a professora P21 ao declarar que sua escola é como “um refúgio” em meio a uma região de violência de vulnerabilidade social, ambas estão trazendo seus olhares. Tuan (2012) nos traz uma reflexão sobre os diversos olhares:

Quais são nossas visões do meio ambiente físico, natural e humanizado? Como o percebemos, estruturamos e avaliamos? Quais foram, e quais são, os nossos ideais ambientais? Como a economia, o estilo de vida e o próprio ambiente físico afetam as atitudes e valores ambientais? Quais são os laços entre meio ambiente e visão do mundo? (TUAN, 2012, p.15)



Tema 3: Reconhecimento de espaços com potencial para o desenvolvimento de atividades diferenciadas

Duas professoras (P1, P9) que atuam na mesma escola fizeram relatos bastante diferentes sobre o espaço escolar. Para uma das professoras o espaço abandonado representava um descuido da gestão e para a outra o mesmo espaço era um local com potencial para a preparação de uma horta. De acordo Kozel e Souza (2009, p.123) a percepção “envolve trajetórias de vida social dos sujeitos, isto é, os significados, as diferentes experiências, os valores que os seres humanos atribuem à sociedade e aos homens”.

A maioria dos relatos descreviam os espaços da escola sendo citados além das salas de aula e de espaços administrativos, cozinhas, pátios abertos e fechados. Alguns relatos eram bem detalhados contendo número de salas, de ambientes, tipo de pátio. Não houve menção de que esses espaços poderiam ser utilizados para trabalhos de Educação Ambiental o que pode ser justificado por ter sido pedido um relato bem aberto “olha sua escola”. Nos casos que o espaço foi relacionado com a potencialidade de ser utilizado para EA foram as hortas ou suas possibilidades de construção. Autores como Vieira, Campos-Torales, Morais (2017) já evidenciavam o potencial presentes nos espaços físicos da escola:

[...] o espaço físico pode ser potencializado como elemento de contextualização do processo educativo-ambiental, pela utilização pedagógica das estruturas físicas existentes, aproveitamento de espaços subutilizados e adequações que visem a eficiência dos recursos naturais, com a participação dos atores da comunidade escolar (VIEIRA, CAMPOS-TORALES, MORAIS, 2017).

O professor P4, que atua com a disciplina de Geografia, menciona que em sua escola são trabalhados alguns projetos de Educação Ambiental e que estes envolvem a correta separação do lixo (inclusive nas salas de aulas); trabalho com horta onde a produção complementa a merenda escolar.

Dois professores de Geografia (P2, P4), um professor de Língua Portuguesa (P12) e um de Ciências (P17), destacaram a existência de um espaço destinado à horta em sua Instituição de Ensino. Para manutenção desse espaço, os professores de Língua Portuguesa e de Ciências, mencionados acima, ressaltaram que é necessária a colaboração da comunidade. Algumas Instituições de Ensino apresentam ajardinamento, como salientado por 2 professores de Geografia, 2 de Ciências, 1 de Língua Portuguesa e 1 de Inglês, esses espaços embelezam os ambientes que em sua maioria são compostos de prédios, pátios e calçadas.

Embora a horta possa ser considerada como um excelente instrumento para práticas pedagógicas, no contexto de pensar em alimentação, qualidade de vida, foi interessante observar que este instrumento foi o mais citado como possibilidade de ser implementado nas escolas. Com relação a revitalização do espaço cabe esclarecer que trazer a ideia de horta e de jardim ou área recreativa é importante mas o desafio é torná-los um campo pedagógico em que os alunos atuem diretamente aprendendo valores em torno da vida, da morte, da solidariedade, da sobrevivência, da adaptação e da transformação entre muitos outros (SANDER, 2019).

O ambiente escolar formado por salas de aula, o pátio escolar e outros ambientes escolares não devem ser pensados apenas como espaços construídos para a finalidade de “abrigar a escola”. Uma professora de Geografia (P28) apresentou em seu relato:

Da instituição tem se uma visão de parte do Bairro e uma grande parte do entorno de paisagem natural. Sentado em uma escada que tem no pátio que por sinal é enorme, dá para fazer aula sobre paisagem, relevo, solo, elementos naturais e sociais, enfim, a escola não tem laboratório de ciências, mas para geografia não falta nada, é só sair da sala de aula”.

O relato apresentado pela professora demonstra que ela percebe as possibilidades do espaço para Geografia, mas que, ainda não relatou sua possibilidade para a Educação Ambiental. Neste sentido o curso de extensão em EA deve contribuir para realizar resgates no sentido de trazer propostas que venham a possibilitar que as pessoas compreendam a si, o outro e as relações com o ambiente bem como suas possibilidades para repensar em como o ser humano, individual ou coletivamente, o vê e o compreende, configurando-se assim, como um tema de importância tanto para a formação do educador ambiental como para seu trabalho no espaço escolar(MAFRA-ORSI, et al. 2015).



Tema 4: As pessoas da escola, a gestão, a comunidade

Nos relatos dos professores duas das três dimensões da Escola Sustentável ganharam destaque: Espaço Físico e a Gestão, assuntos trabalhados no início do curso de extensão, o sair para olhar a escola levou os professores a refletirem sobre suas edificações.

Professora de Arte de Curitiba (P19) ressalta que em sua realidade percebe-se um cuidado da gestão escolar com o ambiente e, consequentemente é refletido em todos que trabalham ou estudam lá.

Dois professores que atuam na mesma escola e com a disciplina de Língua Portuguesa (P1, P9) apresentaram um relato da escola elaborado de forma muito particular, percebe-se que cada um fez sua descrição e nela expressou seu sentimento para aquele local. Um descreve a escola como um local de possibilidade, onde se pode construir uma horta, um jardim, um espaço para os estudantes, no entanto o outro, embora destaque a construção da horta e do espaço para os estudantes, seu relato reforça o descaso para com o local, ressaltando espaços sem serem aproveitados e a reprovação pelo belo jardim que a escola possuía e que com a nova gestão foi todo concretado. Cada pessoa percebe, reage e responde de forma diferente frente às situações, as respostas ou manifestações são, portanto, resultado das percepções. Tuan (2012) em sua obra “Topofilia” nos incita a questionar sobre nossos valores, como percebemos, nos situamos, significamos o mundo que ocuparmos. Para o Tuan (2012, p. 5), a percepção “é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposital em que certos fenômenos são claramente registrados enquanto outros são bloqueados”.

Tendo em vista que na atividade foi solicitado que o participante percorresse sua Instituição de Ensino e/ou seu entorno, um professor de Ciências da Região Metropolitana, além de descrever brevemente sua escola, uma unidade nova, com grande potencial para espaços de ajardinamento, horta, entre outros, optou por fotografar a escola e apontar esses espaços.

Os professores, na sua maioria, realizaram a atividade sem explicitar o que está tinha provocado neles. No entanto três professores realizaram comentários bem pessoas. Uma professora que atua com a disciplina de Ciências fez o relato:

Trabalho nesse colégio há muitos anos e senti dificuldade em caminhar e olhar para todos os espaços como se fosse a primeira vez. Acabei por observar coisas, as quais passavam despercebidas antes, que eu não dava valor, significado, como flores pela escola (P13). Uma professora (P15), que atua em escola de Curitiba, relatou a dificuldade em desenvolver a atividade, tendo em vista que trabalha na escola há muito tempo, “caminhar e olhar com outros olhos, foi desafiador”. A professora (P24) ao realizar a atividade trouxe como consideração do trabalho “após observação do espaço escolar é que entendi que precisamos urgentemente trabalhar questões ambientais de forma mais efetiva dentro da escola”.

Uma professora (P15) além de relatar brevemente sobre o espaço físico da escola, o fez uso da ferramenta Google Maps, para demonstrar que a escola estava localizada em região economicamente privilegiada, arborizada, pavimentada, sem problemas com relação a resíduos e esgoto à céu aberto. Que que o número de alunos tem diminuído a cada ano pois, sendo que a maioria deles vem de outros bairros, uma vez que a região da escola é constituída principalmente de casas e apartamentos habitados por pessoas com melhores condições econômicas e, destacou que “ atualmente o bairro tem a característica de morada de pessoas idosas”.

A atividade “olhar a escola” foi solicitada com o seguinte encaminhamento: Que o(a) professor(a) percorresse sua Instituição de Ensino e se possível seu entorno, observando esse espaço como se fosse a primeira vez. Na sequência, o(a) professor(a) relatasse suas observações por meio de um texto, esquemas, imagens. Tendo sido a realizado a proposta, sem discussões no encontro presencial, o resultado foi o exposto neste relato. Ou seja, mais relato sobre os aspectos físicos das escolas e tendo, poucos relatos abordaram fatos e situações além dos espaços físicos da escola ou da região da escola.

Ao ler e discutir os trabalhos que foram postados na sala virtual do curso, a equipe de pesquisa também teve seus momentos de reflexão e trouxe para os próximos encontros do curso o assunto do estudo do meio com base no trabalho de Lopes e Pontuschka (2009), Mafra-Orsi et al. (2015) para discutir com os professores e assim contribuir para que todos pudessem pensar nas possibilidades do espaço escolar como espaço para a Educação Ambiental.

O processo de reflexão, realizado por professores durante a formação continuada tem a intencionalidade como o apresentado por Tardif e Moscoso (2019, p.406) “o professor não deve só refletir sobre sua prática, mas também sobre a reflexão dos outros, sobre as práticas dos outros, sobre o modo como os outros recebem sua prática e refletem a partir dela de maneira simultânea” e, é neste sentido que este relato de experiência pretende contribuir para um repensar inclusive sobre o espaço escolar e suas possibilidades. Considerando, então, que estes sejam “espaços que devem proporcionar uma forma de ampliar as condições de aprendizagem e convívio entre os estudantes e toda a comunidade escolar, valorizar a cultura escolar e o respeito” (VIEIRA; CAMPOS-TORALES; MORAIS, 2017).



4. Considerações Finais

No decorrer do curso de formação a Educação Ambiental foi trazida como considerada como propulsora e mediadora de ideias e de ações para serem desenvolvidas na prática pedagógica dos professores, entendida como prática social. A partir dos conhecimentos das questões relacionados à temática ambiental, especialmente relacionadas com a ausência ou insuficiência do Saneamento Básico, e aos problemas socioambientais o curso de formação atingiu o público de muitas escolas que correspondiam a uma grande diversidade de realidades que pareciam ainda maiores devido aos diferentes olhares de professores de todas as disciplinas do ensino básico.

Na atividade apresentada neste relato podemos considerar que o “Olhar a Escola” proporcionou inicialmente aos participantes um andar pela escola e um relato, mas na sequência, este trabalho passou a fazer mais sentido quando foi proposto no curso a realização de uma prática colaborativa denominada. Durante o curso foi possível um processo de reflexão tanto dos professores quanto dos formadores que, com a parceria com os professores conseguiram também entender mais sobra as possibilidades da Educação Ambiental passar a estar, efetivamente, em seus espaços escolares na forma de projetos ou de transversalização do ensino. Existe um longo caminho, mas que deve ser percorrido para que um dia as escolas possam ser consideradas como espaços educadores sustentáveis.



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Ilustrações: Silvana Santos