Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
Início Cadastre-se! Procurar Área de autores Contato Apresentação(4) Normas de Publicação(1) Dicas e Curiosidades(7) Reflexão(3) Para Sensibilizar(1) Dinâmicas e Recursos Pedagógicos(6) Dúvidas(4) Entrevistas(4) Saber do Fazer(1) Culinária(1) Arte e Ambiente(1) Divulgação de Eventos(4) O que fazer para melhorar o meio ambiente(3) Sugestões bibliográficas(1) Educação(1) Você sabia que...(2) Reportagem(3) Educação e temas emergentes(1) Ações e projetos inspiradores(25) O Eco das Vozes(1) Do Linear ao Complexo(1) A Natureza Inspira(1) Notícias(21)   |  Números  
Relatos de Experiências
11/12/2021 (Nº 73) O DESENVOLVIMENTO DE UMA ECOSFERA: UM RECURSO DIDÁTICO PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE
Link permanente: http://revistaea.org/artigo.php?idartigo=4080 
  

O DESENVOLVIMENTO DE UMA ECOSFERA: UM RECURSO DIDÁTICO PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE





Levi Araujo Bezerra¹, Luiz Carlos Alves de Souza²



¹Graduando em Ciências biológicas – Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

²Mestre em Educação Agrícola - Professor do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia de Pernambuco - (IFPE).



Resumo



Tradicionalmente o ensino tem sido realizado de forma que o aluno seja um sujeito passivo, apenas recebendo conteúdo, não participando de maneira ativa no que aprende. Neste contexto, o uso do modelo didático como ferramenta didática em disciplinas muitas vezes consideradas difíceis, pode ser uma alternativa para facilitar o entendimento destas disciplinas. Este estudo tem por objetivo descrever o processo de confecção de uma ecosfera, desenvolvida para auxiliar o professor em sala de aula quando trabalhar temas relacionados com educação ambiental e sustentabilidade. A produção da ecosfera foi dividida em cinco etapas, iniciando-se pela seleção bibliográfica de trabalhos relacionados ao tema, o planejamento dos protótipos, logo após foram produzidos dois protótipos distintos, no quarto momento foi selecionado o protótipo que apresentou o melhor desenvolvimento e por fim, a confecção do modelo final. A execução das etapas acima descritas, resultou na construção de um miniecossistema lacrado em um recipiente de acrílico, funcionando como uma bateria biológica, cada componente desempenha um papel vital no equilíbrio do mesmo. Este recurso foi apresentado em um evento da Universidade Federal de Pernambuco - Centro Acadêmico de Vitoria de Santo Antão, sendo avaliado positivamente por alunos e professores. O uso deste recurso didático, permite observar os conteúdos de maneira dinâmica, facilitando o aprendizado, complementando o que é apresentado nos livros, trazendo a dinâmica das relações ecológicas e ciclos biogeoquímicos de uma formar que as figuras planas, e muitas vezes descoloridas dos livros não podem trazer.



Palavras-chave: Ecosfera. Recurso didático. Educação ambiental.



THE DEVELOPMENT OF AN ECOSPHERE: A DIDACTIC RESOURCE FOR TEACHING ENVIRONMENTAL EDUCATION AND SUSTAINABILITY



Abstract

Traditionally teaching has been done in such a way that the student is a passive subject, only receiving content, not actively participating in what he learns. In this context, the use of the didactic model as a didactic tool in disciplines often considered difficult, can be an alternative to facilitate the understanding of these disciplines. This study aims to describe the process of making an ecosphere, developed to assist the teacher in the classroom when working on issues related to environmental education and sustainability. The production of the ecosphere was divided into five stages, starting with the bibliographic selection of works related to the theme, the planning of the prototypes, right after two distinct prototypes were produced, in the fourth moment the prototype that presented the best development was selected and finally , the making of the final model. The execution of the steps described above, resulted in the construction of a mini-ecosystem sealed in an acrylic container, functioning as a biological battery, each component plays a vital role in its balance. This resource was presented at an event at the Federal University of Pernambuco - Vitoria de Santo Antão Academic Center, being positively evaluated by students and teachers. The use of this didactic resource, allows to observe the contents in a dynamic way, facilitating the learning, complementing what is presented in the books, bringing the dynamics of ecological relationships and biogeochemical cycles in a way that the flat, and often discolored figures of the books do not. can bring.

Keywords: Ecosphere. Didactic resource. Environmental education.



Introdução

A ausência de responsabilidade ambiental da sociedade é consequência da desinformação, falta de participação e envolvimento com temas relacionados ao meio ambiente. Neste sentido, a educação ambiental representa um instrumento essencial para superar este problema. A relação entre meio ambiente e educação assume um papel cada vez mais importante, demandando a necessidade de novos conhecimentos e métodos para o entendimento de processos e riscos ambientais que surgem em nossa realidade (PERETTI, 2012).

O ensino de educação ambiental e sustentabilidade tem um papel relevante para a compreensão dos ciclos biogeoquímicos que ocorrem em diferentes escalas em todo o mundo, pois, as informações adquiridas através de seus conteúdos vão desde o entendimento de conceitos básicos, até as mais complexas relações ecológicas desenvolvidas entre os organismos e o meio ambiente. Mas, pela forma tradicional, fragmentada e descontextualizada da realidade dos estudantes, acaba tornando o assunto desinteressante e monótono dificultando o processo de aprendizagem (ZANELLA, 2013).

O reflexo do ensino tradicional é a fragmentação e a memorização dos conteúdos, o que acaba tornando o ensino e aprendizagem pouco produtivo, cabendo ao professor quebrar o pensamento tradicionalista, fazendo com que o estudante se torne protagonista do processo de construção do seu conhecimento, partindo de uma situação real, em que o estudante encontre significado no conteúdo apresentado (CORDEIRO, 2017).

Diante do apresentado e bebendo da fonte de Carvalho e Gil-Perez (2011) dentre outros pesquisadores, compreende-se que o ambiente escolar independente de seu nível, deve ser visto também como espaço de pesquisa, capaz de produzir conhecimento. Desta forma, as concepções de ensino de ciências bem como das metodologias de ensino precisam ser revistas, o estudante precisa ser levado em consideração dentro desse processo.

Segundo Amorim (2013), os modelos didáticos são facilitadores do processo de ensino, contribuem para a aprendizagem significava, pois permitem ao discente ter participação ativa em seu processo de ensino e aprendizagem. Complementam o conteúdo dos livros, que na maioria das vezes são encarados pelo estudante como algo composto por termos a serem decorados, com imagens que não são compreendidas (ORLANDO, et al., 2009, p. 2).

Para Cavalcante e Silva (2008, p.01), os modelos didáticos permitem a experimentação e a prática, propiciam diferentes condições para a compreensão dos conceitos mais complexos que exigem grande capacidade de abstração, estimulando o engajamento intelectual dos alunos com os objetos e fenômenos apresentados, contribuindo também nas reflexões sobre o mundo em que vivem.

Diante dos problemas diários em sala de aula, o professor sente a necessidade de aprimorar suas aulas com métodos que venham a amenizar problemas como a dificuldade de perceber estruturas e processos, para Setúval e Bejarano (2009, p.04) “os modelos didáticos são instrumentos sugestivos e que podem ser eficazes na prática docente diante da abordagem de conteúdos que, muitas vezes, são de difícil compreensão pelos estudantes”.

Dentre as diversas estratégias a que o professor pode recorrer, os modelos didáticos podem constituir uma excelente alternativa que proporciona explorar múltiplas possibilidades de aprendizagem para os estudantes. Até mesmo para o próprio professor que muitas vezes, demonstra insegurança ao ensinar alguns conteúdos de maior complexidade.

Segundo Carvalho e Gil-Pérez (2011) para modificar as concepções e metodologias no ensino, faz-se necessária uma profunda revisão da formação inicial e continuada dos professores, estendendo também ao avanço das pesquisas sobre aprendizagem das ciências e, em especial, as propostas de orientação construtivistas. Desta forma, este estudo tem por objetivo descrever o processo de confecção de uma ecosfera desenvolvida para auxiliar o professor em sala de aula, podendo ser uma alternativa para facilitar o entendimento de temas relacionados com educação ambiental e sustentabilidade.

O recurso didático como ferramenta no ensino-aprendizagem

Desde o início da humanidade, o ser humano sempre fez uso de objetos para facilitar a execução de suas atividades diárias. Pesquisas indicam que os primeiros objetos produzidos pelo homem eram simples, feitos manualmente. Acredita-se que eles eram utilizados como martelos, objetos de corte, caça e defesa. Todo esse processo de desenvolvimento foi impulsionado pela pressão natural e necessidade de sobrevivência no planeta (FREITAS, 2007).

De acordo com Burg, Fronza e Silva (2013) no começo, os materiais eram usados da maneira como eram encontrados e com o decorrer do tempo, passaram a ser mais sofisticados. O ser humano passou a desenvolver novas formas de interagir entre si e com o meio, inicialmente com os desenhos de seu dia a dia, como figuras próprias e de animais pintados em cavernas, passando pela escrita cuneiforme, a escrita mais antiga que se tem conhecimento, até chegarmos ao primeiro alfabeto fonético, precursor do alfabeto utilizado atualmente (PARELLADA, 2009).

Os primeiros grupos humanos a fixarem-se na terra, dominando a agricultura e domesticando animais, preocuparam-se com a transmissão do conhecimento aos mais jovens, tendo em vista prepará-los para a sobrevivência e defesa. Nesse período, além da observação e imitação por parte dos mais novos, a exposição oral era a ferramenta utilizada para transmitir o aprendizado e os costumes do grupo (FREITAS, 2007; MORETTI, 2011).

A necessidade em desenvolver métodos de comunicação, demonstra uma preocupação em facilitar o processo de ensino aprendizagem, uma vez que era preciso garantir a atenção e estimular a atenção de seus descendentes. O lúdico é outro aspecto percebido nas técnicas utilizadas para transmitir o conhecimento, uma vez que as dramatizações proporcionam prazer aos aprendizes (DAVIS, 2009).

Esses são alguns exemplos de como o ser humano, sempre lançou mão de desenvolver diferentes métodos para melhoram sua qualidade de vida, até mesmo na educação. Essa é, portanto, uma característica humana, buscar métodos facilitadores do processo de aprendizagem (FREITAS, 2007).

Atualmente, a necessidade em desenvolver novos métodos de ensino e aprendizagem, surge pelas novas exigências deste sistema social. E como forma de responder a essas exigências, surgem os recursos didático - pedagógicos que permitem ao professor desenvolver um tipo de aula diferenciada, dinâmica e proveitosa. Não se sabe quando começaram a ser utilizados em aula, mas, esses recursos já são desenvolvidos há muito tempo, geração após geração, tendo alcançado bons resultados. (BRAGA, 2007, p. 4).

O ensino de ciências geralmente aborda diversos conceitos que podem ser de difícil compreensão, e exigem certa capacidade de abstração, além de se tratar de conceitos distantes do cotidiano dos alunos (SILVA, 2012). Consequentemente, algumas medidas são necessárias para simplificar o entendimento de determinados assuntos, como a confecção de modelos didáticos para a melhor compreensão da temática abordada.

Esta ferramenta didática, quando corretamente utilizada, propícia o desenvolvimento espontâneo e criativo dos estudantes, permitindo também ao professor ampliar seus conhecimentos acerca das técnicas de ensino e o desenvolvimento de capacidades pessoais e profissionais para estimular nos estudantes a capacidade de expressão e argumentação, mostrando-lhes uma maneira mais prazerosa de relacionar-se com o conteúdo ensinado, levando-os à uma maior apropriação dos conteúdos trabalhados.

Segundo Santos, (2013) a partir do momento que se desenvolve uma relação entre o indivíduo com as atividades na sala de aula, cria-se um ambiente de socialização e troca de informações, revelando outro ponto importante dos recursos didáticos que desperta a curiosidade, a capacidade de observar, de questionar e uma melhor interação nas atividades. Estes recursos são instrumentos sugestivos e que podem ser eficazes na prática docente diante da abordagem de conteúdos que, muitas vezes, são de difícil compreensão (SETÚVAL E BEJARANO, 2009, p. 04).

Muitos professores utilizam quase que unicamente o livro didático, pois é o recurso mais acessível, já que as escolas públicas recebem livros para utilização dos professores. Sendo um recurso acessível, muitas vezes por comodismo, a única opção utilizada pelo professor em suas aulas, deixando de incorporar outras ferramentas que poderiam auxiliar no ensino-aprendizagem (NICOLA, PANIZ, 2017).

Para Cavalcante e Silva (2008), os recursos didáticos em que os alunos possam visualizar, são de grande importância, pois o professor consegue mostrar de forma explicita o que pretende trabalhar e o estudante, através da visualização, pode ter uma melhor fixação do conteúdo. As apresentações em PowerPoint, são um excelente exemplo, onde é possível associar texto, imagens e animações, demonstrando o que está sendo estudado (NICOLA, PANIZ, 2017).

Ainda, segundo Nicola e Paniz, (2017) Independentemente do tipo de recurso, o seu uso, exige do professor planejamento e clareza de objetivos a serem alcançados, ou seja, o que se quer e quais conhecimentos podem ser construídos ou ampliados a partir destes recursos.

Para formar adultos cientes de suas responsabilidades ambientais com a natureza e que optem por um estilo de vida sustentável, a escola é o melhor ambiente para estimular uma consciência sustentável, pois os estudantes são mais suscetíveis a determinadas ponderações. “Pelo fato de encontrarem-se em uma fase de tomada de decisões, onde viver de forma sustentável é uma opção plausível” (COSTA, 2018).

Segundo Amorim (2013), neste contexto, os modelos didáticos, são facilitadores do processo de ensino, contribuem para a aprendizagem significava, pois permitem ao discente ter participação ativa em seu processo de ensino e aprendizagem. Os modelos complementam o conteúdo dos livros didáticos, que na maioria das vezes são encarados pelo estudante, como algo composto por termos a serem decorados, com imagens que não são compreendidas (ORLANDO, et al., 2009, p. 2).

A partir disso, o uso de modelos e o desenvolvimento de atividades lúdicas podem auxiliar o professor a despertar o interesse dos alunos, tornando a aprendizagem mais significativa, por meio da visualização e interação com o recurso didático. Estimulando assim, o aluno a participar do processo, possibilitando momentos prazerosos de aprendizado (HERMANN; ARAÚJO, 2013).

A produção da ecosfera

O presente recurso foi produzido por um discente do curso de Ciências Biológicas da UFPE-CAV, durante os meses de abril e junho de 2018, para ser exposto como recurso didático no ensino de educação ambiental, como requisito para obtenção de aprovação parcial na disciplina de ecologia. Depois de produzido, foi apresentado como recurso didático nas dependências da Universidade Federal de Pernambuco – Campus Vitoria de Santo Antão, em um evento local.

Para a confecção do modelo foi utilizada como referência a Ecosfera (Ecosferas®), que surgiu de pesquisas aeroespaciais desenvolvidas pela Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica (NASA), seus pesquisadores procuravam construir um sistema fechado no espaço, onde os astronautas pudessem sobreviver durante longas viagens espaciais, em um ambiente autossuficiente, que fosse capaz de produzir recursos e manter o ar e a água limpos e reutilizáveis. Como resultado surgiram as Ecosferas produzidas pelo grupo internacional Ecospheres (ECOSFERAS, 2007).

Após o desenvolvimento de seus estudos, a NASA cedeu seus resultados para a sociedade, esta tecnologia passou a ser usada como ornamentação e embelezamento pois o grupo Ecospheres criou as suas Ecosferas com esse objetivo. Deixando de lado o potencial didático deste recurso, pois, utilizando a ecosfera como recurso didático, é possível entender o equilíbrio e funcionamento da natureza, um ecossistema fechado e autossuficiente que pode ser usado como um excelente recurso de ensino e aprendizagem capaz de fornecer informações acerca da vida e de seu delicado equilíbrio em nosso planeta.

A Ecosfera, funciona como uma bateria biológica que armazena a energia luminosa transformada bioquimicamente, é um globo de vidro, com um ecossistema marinho, este recurso apresenta um valor inacessível para boa parte da população brasileira, em torno de três a quatro mil reais, não contando com valor de frete e que esse produto não é vendido para a américa do Sul e seu tempo de vida útil e de dois anos (ECOSFERAS, 2007). O modelo que será apresentado a seguir, é a representação de um ecossistema contendo um grupo de organismos de ambiente dulcícola, sendo composto por um recipiente de acrílico lacrado, contendo água doce, basalto e quartzo triturados, substrato fértil, plantas aquáticas Eleocharis parvula, Cabomba caroliniana, Lobelia cardinalis, Hemianthus callitrichoides e musgos Taxiphyllum barbieri, quatro caramujos trombeta Melanoides tuberculata.

Para averiguar a viabilidade e confecção do modelo, foram produzidos dois protótipos, com outras variedades de plantas aquáticas para verificar quais seriam os organismos mais adequados para esse tipo de ambiente e condições. Após montados e observados num período de três meses, optou-se pelo uso dos organismos citados acima, pois foram os mais adequados aos critérios como: organismos que não apresentam comportamento agressivo entre si, resistência a variação de parâmetros de PH, baixos níveis de oxigênio na água, variação de temperatura, ciclo de vida e baixo custo.

Para a confecção dos protótipos, foram utilizados dois potes de acrílico cilíndricos, (250 ml e 300 ml) e silicone Sil Trade próprio para montagem de aquários, as tampas dos dois potes, foram cortadas para que ambas fossem coladas de forma perpendicular, servindo de apoio para fixar o pote menor sobre o maior.

Os potes de 300 ml, tiveram suas tampas coladas com silicone, para promover a vedação completa, os potes de 250 ml ficaram sem tampas, e foram colados invertidos sobre os de 300 ml, após a secagem, foi aberto um furo com o tamanho proporcional a abertura do frasco de 250 ml, que em seguida foram rosqueados com as tampas dos potes de 300 ml que já vieram com as roscas de fábrica, o resultado pode ser observado na figura 1 logo abaixo.



Figura 1: imagem de protótipo com os frascos de 250 ml e 300 ml colados e em fase de secagem do silicone.



Fonte: Elaborado pelos autores.



Após a colagem com o silicone, foi aguardado um período de dez dias para a secagem completa. Em seguida, para montagem do substrato, foi colocado cem gramas de basalto negro e quartzo triturado ambos em proporções iguais, foram colocados sobre uma camada de dois centímetros de substrato fértil utilizado em aquários plantados, em seguida foram colocadas as plantas aquáticas (Eleocharis parvula, Cabomba caroliniana, Lobelia cardinalis, Hemianthus callitrichoides e musgos Taxiphyllum barbieri,), água tratada com os parâmetros adequados para os animais e plantas que farão parte do ecossistema, e por fim, após uma semana, os quatro caramujos trombeta Melanoides tuberculata.



Figura 2: imagem de protótipos, montados com plantas e animais em desenvolvimento.

Fonte: Elaborado pelos autores.



Para a confecção do modelo definitivo, foram utilizados dois potes de acrílico cilíndricos, (600 ml e 2.000 ml) e silicone Sil Trade próprio para montagem de aquários, as tampas dos dois potes, foram cortadas para que ambas fossem coladas de forma perpendicular, servindo de apoio para fixar o pote menor sobre o maior.

Após o corte, as tampas foram coladas com o silicone sobre o pote maior, foi aguardado um período de dez dias para a secagem completa do silicone. Em seguida, para montagem do substrato, foi colocado duzentos gramas de basalto negro e cem gramas de quartzo triturado, sobre uma camada de quatro centímetros de substrato fértil utilizado em aquários plantados, depois foram colocadas as plantas aquáticas, água tratada com os parâmetros adequados para os animais e plantas que farão parte do ecossistema e por fim, os caramujos.

Para acelerar o processo de maturação do sistema, foi adicionado 100 ml da água de um aquário já estabilizado com uma microbiota de algas e bactérias bem estabelecidas. Após serem colocados todos os itens, o pote menor foi colocado sobre o maior e fixado com fita isolante e silicone resistente a água, é importante salientar que vinte por cento do ambiente interno deve ser preenchido com ar, tanto dos protótipos, quanto do modelo final.

Cada componente deste ecossistema desempenha um papel vital no equilíbrio do mesmo, as plantas aquáticas recebem a luz solar e iniciam a fotossíntese liberando oxigênio que será consumido pelos camarões e os limpa vidro que também serão nutridos com algas e bactérias que se desenvolvem a todo momento dentro da estrutura.

As bactérias nitrificantes, decompõem os dejetos dos animais, disponibilizando recursos para que as plantas aquáticas continuem seu desenvolvimento, os crustáceos, peixes e bactérias também produzem dióxido de carbono que é utilizado pelas algas e plantas aquáticas no processo de fotossíntese.

Todos os animais são consumidores. Os herbívoros, alimentam-se de plantas, são, portanto, consumidores primários. Os animais que se alimentam de herbívoros são consumidores secundários, os que se alimentam dos secundários são consumidores terciários e assim por diante; os decompositores, degradam a matéria orgânica presente em produtores e consumidores de todas as cadeias citadas, utilizam os produtos da decomposição como alimento e liberam no meio ambiente minerais e outras substâncias, que podem ser novamente utilizados pelos produtores.

O aluno, ao entra em contato com um recurso didático como a ecosfera, terá maior facilidade para a entender o papel que cada indivíduo desempenha na manutenção e existência da vida, podendo aprender a respeitar e entender a importância das questões ambientais para futuras gerações, refletindo sobre seu papel na manutenção da preservação ambiental.

É importante salientar que, todas as etapas de produção deste recurso obedecem o que está preconizado na lei nº 11.794, que regulamenta a criação e uso de animais em atividades de ensino e pesquisa, em todo o território nacional, aplicando-se aos animais das espécies classificadas como filo Chordata, subfilo Vertebrata, sendo o filo Chordata entendido como envolvendo animais que possuem, como características exclusivas, ao menos na fase embrionária, a presença de notocorda, fendas branquiais na faringe e tubo nervoso dorsal único, e o subfilo Vertebrata entendido como animais cordados que têm, como características exclusivas, um encéfalo grande encerrado numa caixa craniana e uma coluna vertebral, o presente recurso não faz uso de organismos pertencentes aos filos acima descritos (BRASIL, 2008).

Resultados e discussão

Como resultado, obteve-se um ecossistema fechado, com diferentes organismos, onde é possível observar o funcionamento de ecossistemas, relações ecológicas e vários outros conteúdos da área de meio ambiente. Este modelo foi avaliado por professores do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFPE-CAV, em um evento realizado nas dependências da instituição, os professores foram incentivados a exortarem observação a respeito do recurso didático e foram levantados os seguintes pontos: “O uso do modelo em sala de aula, atrairia a atenção dos alunos e apresentaria de forma visual algo que não é tão fácil de ser observado” um dos professores afirmou que: “este recurso didático é uma excelente ferramenta para mostrar o funcionamento de ecossistemas, teias alimentares e vários outros conteúdos da área de meio ambiente”.

Produzir este modelo exigiu criatividade para a escolha dos materiais, paciência e destreza para o preparo do modelo, antes dos processos de construção foi necessário compreender e identificar qual seria a melhor forma de apresentar o funcionamento do ecossistema e muito estudo sobre o tema abordado e de várias áreas de conhecimento. Abaixo a figura 3 do recurso didático que foi montado e está em funcionamento desde o mês de junho de 2018.

Figura 3: Modelo de ecosfera, montada e em funcionamento.

Fonte: Elaborado pelos autores.



Durante a apresentação deste modelo, os discentes do curso de Ciências Biológicas tiveram a oportunidade de montar um exemplar e relembrar o conteúdo estudado na disciplina de ecologia sobre as relações ecológicas e o ciclo biogeoquímico de vários elementos.

Dezessete alunos afirmaram que usariam o modelo em sala de aula e demonstraram o interesse de adquirir um exemplar. O uso da mini ecosfera como modelo didático, permite ao estudante interagir com o material, visualizando-o de vários ângulos, contribuindo assim com o entendimento dos conteúdos abordados. Também, a própria construção dos modelos faz com que o estudante perceba a inter-relação e complexidade de nosso meio ambiente. Em concordância com essa afirmativa, Matos et al. (2009 p. 20) afirmam que, o modelo didático reproduz a realidade, tornando-a mais concreta e compreensível ao aluno, representando uma estrutura que pode ser utilizada como referência, permitindo ao aluno materializar os conceitos, tornando-os mais assimiláveis.

A confecção dos modelos didáticos permite a construção de novos conhecimentos e a rememoração de conhecimentos anteriormente adquiridos, contribuindo assim na formação docente. Para Setúval e Bejarano, (2009, p.10) os modelos didáticos na profissionalização do futuro professor apresentam-se não só como ferramentas didáticas para o exercício profissional em sala de aula, mas também como um subsídio de interferência reflexiva sobre as atuais demandas para o ensino de Ciências e Biologia.

Conclusão

A construção do modelo aqui apresentado, possibilitou o aprimoramento e desenvolvimento de novas habilidades, mostrou-se um facilitador no ensino de novos saberes, de forma eficaz, permitindo observar os conteúdos de maneira dinâmica pelo contato com este recurso didático.

O uso da ecosfera como modelo didático para o ensino de ecologia, pode facilitar o aprendizado, complementar o conteúdo apresentado nos livros e trazer a dinâmica das relações ecológicas e de vários ciclos biogeoquímicos necessários para a existência da vida, de uma formar que as figuras planas e muitas vezes, descoloridas dos livros, não podem trazer.

É importante destacar também, a necessidade do desenvolvimento de novos métodos e recursos educacionais, capazes de estimular no estudante o interesse por ideais que cultivam o convívio harmônico com o meio ambiente.



Referências

AMORIM, A.S. A influência do uso de jogos e modelos didáticos no ensino de biologia para alunos de ensino médio. 2013. 49f. Monografia (Licenciatura em Ciências Biológicas) - Universidade Aberta do Brasil, Centro de Ciências e Saúde, Universidade Estadual do Ceará, Ceará, 2013. Disponível em: < http://www.uece.br/sate/index.php/downloads/doc_download/2146-biobeberibeamorim>. Acesso em: 29 de Julho de 2020.

BRAGA, Andréa Jovane. Usos dos jogos didáticos em sala de aula. 2007.

BURG, Silvana Montibeller; FRONZA, Silvio Luiz; SILVA, Thiago Rodrigo da. História da Educação: Caderno de estudos. Indaial: UNIASSELVI, 2013.

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008. Dispõe o uso científico de animais; revoga a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras providências. [Internet]. Diário Oficial da União. Brasília; 8 de out de 2008. Disponível em: < https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2008/lei-11794-8-outubro-2008-581883-publicacaooriginal-104628-pl.html> acesso em: 20 de fevereiro de 2020.

CARVALHO, Anna Maria Pessoa; GIL- PÉREZ, Daniel. Formação de professores de Ciências: tendências e inovações. São Paulo: Cortez, 10 ed, 2011.

CAVALCANTE, Dannuza; SILVA, Aparecida. Modelos didáticos e professores: concepções de ensino-aprendizagem e experimentações. In: XIV Encontro Nacional de Ensino de Química, Curitiba, UFPR, jul de 2008. Disponível em: < http://www.quimica.ufpr.br/eduquim/eneq2008/resumos/R0519-1.pdf> Acesso em 03 de julho de 2020.

CORDEIRO, K. F. S.; SANTOS, L. R. F.; W. P. SANTOS. A utilização do júri simulado como metodologia alternativa de ensino nas séries finais do ensino fundamental na escola estadual pio XII – Irati-PR. In: XII Congresso Nacional de Educação, Curitiba. 2017. Disponível em: < http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/24092_12021.pdf> Acesso em: 01 de julho de 2020.

COSTA, E.B: Visita Técnica Como Estratégia de Construção da Cidadania Ambiental com Alunos de Escola Pública em Teresina-PI. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas) - Instituto Federal de Ciências, Educação e Tecnologia do Piauí. Teresina-PI, p. 24. 2018.

DAVIS, H, A.; PAVAM, C.A. Coleção Enciclopédia Ilustrada de História, São Paulo, Brasil, Duetto Editorial, 2009.

ECOSFERAS. O equilíbrio perfeito entre arte e ciência, 2007. Informações gerais. Disponível em: <https://www.ecosferas.com/view_ecosferas/es/informacion-general/que-es-la-ecosfera.html>. Acesso em: 04 de abril de 2020.

FREITAS, Olga. Equipamentos e materiais didáticos. Brasília: Universidade Federal de Brasília, 2007. 132 p. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/profunc/equip_mat_dit.pdf> acesso em 01 de agosto de 2020.

HERMANN, F. B.; ARAÚJO, M. C. P. Os jogos didáticos no ensino de genética como estratégias partilhadas nos artigos da revista genética na escolar. In: Encontro Regional Sul de Ensino de Biologia, XVI - Semana Acadêmica de Ciências Biológicas, XVI, 2013. Santo Ângelo. Anais do VI Encontro Regional Sul de Ensino de Biologia e da XVI Semana Acadêmica de Ciências Biológicas, Santo Ângelo: FURI, 2012. p. 1-16. Disponível em: < http://san.uri.br/sites/anais/erebio2013/poster/13461_290_Fabiana_Barrichello_Hermann.pdf> acesso em: 09 de agosto de 2020.

MARANDINO, Martha. Faz sentido ainda propor a separação entre os termos educação formal, não formal e informal? Ciênc. educ. (Bauru), Bauru, v. 23, n. 4, p. 811-816, dez, 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73132017000400811&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 06 de janeiro de 2020.

MATOS, Cláudia; OLIVEIRA, Carlos Romero; SANTOS, Maria Patrícia; FERRAZ, Célia. Utilização de Modelos Didáticos no Ensino de Entomologia. Revista de Biologia e Ciências da Terra. Vol. 09, nº 01. Paraíba, 2009. Disponível em: < http://joaootavio.com.br/bioterra/workspace/uploads/artigos/3matos-51816c32b2719.pdf > Acesso em 01 de julho de 2020.

MORETTI, Vanessa Dias; ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira; RIGON, Algacir José. O humano no homem: os pressupostos teórico-metodológicos da teoria histórico-cultural. Psicol. Soc., Florianópolis, v. 23, n. 3, p. 477-485, dez.  2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-71822011000300005>. Acesso em 09 de agosto de 2020.

NICOLA, Jéssica Anese; PANIZ, Catiane Mazocco. A importância da utilização de diferentes recursos didáticos no Ensino de Ciências e Biologia. InFor, [S.l.], v. 2, n. 1, p. 355-381, mai. 2017. Disponível em: <https://ojs.ead.unesp.br/index.php/nead/article/view/InFor2120167>. Acesso em: 10 de agosto de 2020.

ORLANDO, Teresa. Cristina. et al. Planejamento, montagem e aplicação de modelos didáticos para abordagem de biologia celular e molecular no ensino médio por graduandos de ciências biológicas. Revista brasileira de ensino de bioquímica e biologia molecular, v.1, n.1, p.1-17, 2009. Disponível em: < http://bioquimica.org.br/revista/ojs/index.php/REB/article/view/33/29>. Acesso em: 06 de abril de 2020.

PARELLADA, Claudia Inês. Arte rupestre no paraná. Revista Científica/FAP, [S.l.], jun. 2009. ISSN 1980-5071. Disponível em: <http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/revistacientifica/article/view/1592>. Acesso em: 09 de agosto de 2020.

PERETTI, Vanessa Aline. "Educação Ambiental na escola pública: o caso da EEEF José Ferreira Ramos-Gaurama/RS." Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental. Rio Grande do Sul. Vol. 05, nº 05, p, 841 - 849, 2012. Disponível em: < https://periodicos.ufsm.br/reget/article/viewFile/4246/2814> acesso em: 09 de agosto de 2020.

SANTOS, Ovídia Kaliandra Costa; Belmino; José Franscidavid Barbosa. Recursos Didáticos: Uma melhoria na qualidade da aprendizagem. In: Fórum Internacional de Pedagogia, 5 ed. 2013, Campina Grande. Anais... [...]. Campina Grande.Realize. 2013. Disponível em: < http://editorarealize.com.br/revistas/fiped/trabalhos/Trabalho_Comunicacao_oral_idinscrito__fde094c18ce8ce27adf61aedf31dd2d6.pdf> acesso em 10 de agosto de 2020.

SETUVAL, Francisco; BEJARANO, Nelson. Os modelos didáticos com conteúdos de genética e a sua importância na formação inicial de professores para o ensino de ciências e biologia. Bahia, 2008. Disponível em: < http://posgrad.fae.ufmg.br/posgrad/viienpec/pdfs/1751.pdf>. Acesso em 12 de janeiro de 2020.

SILVA, Denise. Maria. Alves. Pinheiro. Formação docente em tecnologias digitais: em busca do caminho. 2012. 49 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2012. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/95746/000913667.pdf?sequence=1>. Acesso em: 08 out. 2019.

SILVA, Laydiane Cristina da; BERTAZZO, Claudio Jose. O lúdico, a geografia e a mediação didática. Revista Geoaraguaia, [S.l.], dez. 2013. Disponível em: <http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/geo/article/view/4868/3278>. Acesso em: 03 de agosto de 2020.

ZANELLA, Camila. As dificuldades que os professores enfrentam em sala de aula nos anos iniciais da docência. In: XI Congresso Nacional de Educação, Curitiba, PUCPR, setembro de 2013. Disponível em: < http://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2013/9875_6234.pdf > Acesso em 01 de julho de 2020.



Ilustrações: Silvana Santos