Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Reflexão
30/05/2022 (Nº 79) O MONGE E SEU HÁBITO
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O monge e seu hábito

Esta crônica é especial e teve vários inícios que ficavam a espera de um seguimento melhor.

Uma ideia pensando sobre o hábito, as frases que conhecemos, algumas que conseguimos recordar mais ou menos. Tudo para falar sobre o hábito, compreender melhor porque algumas maneiras de pensar e agir não mudam.

O que podemos fazer para evoluir, melhorar nossas vidas e sermos longevos, enquanto espécie?

Lembrei do ditado “o hábito não faz o monge”. Tinha como fundo a questão da vida monástica e de que não bastava a vestimenta, o hábito, para se tornar monge. Era preciso uma evolução interior, viver uma vida de abnegação, ter somente o necessário e outros mais.

Esse dito deve ser bem antigo, porque em 1854 José de Alencar, nos Folhetins publicados no Correio Mercantil, escreveu “hoje mesmo, apesar do rifão antigo, todo o mundo entende que o hábito faz o monge; e se não, vista alguém uma calça velha e uma casaca de cotovelos roídos, embora seja o homem mais relacionado do Rio de Janeiro, passará por toda a cidade incógnito e invisível, como se tivesse no dedo o anel de Giges”.

Alencar fazia um alerta para a sociedade dos invisíveis e existem vários experimentos contemporâneos de pessoas que se vestiram como mendigos e passaram, totalmente, despercebidos, mesmo estando próximos dos locais que frequentavam.

Até agora, sempre estamos com o hábito, a veste que uma pessoa poderia usar. E como ficaria a questão daquilo que fazemos por hábito? Aquela ação que fazemos, repetidamente, automaticamente, sem nos darmos conta dela.

Se você se dirige a uma porta que está fechada, por hábito, sua mão vai direto para a maçaneta para abrir a porta. Você não precisa parar para pensar sobre a porta, que ela tem movimento e que em algum lugar você pode travar ou destravar a mesma, ou fazer determinado trajeto, quer indo para o trabalho ou mesmo uma caminhada relaxante. Se você fizer ele diversas vezes, daqui a pouco ficará automatizado, um hábito e algumas mudanças ao longo do trajeto começam a passar despercebidas.

O cérebro minimiza a energia gasta para ligar o seu ponto de partida com seu ponto de chegada. Assim, temos muitas situações nas quais, por hábito, repetimos sem ter que pensar. Lembrando que podem ser tanto hábitos que nos são bons quanto aqueles que não o são.

Convido o leitor a aprofundar a questão do hábito, daquilo que fazemos, procurando estudos e novas abordagens. Vale a pena uma pesquisa!

Enquanto espécie humana, nós, como todas as espécies vivas, buscamos sobreviver e ter descendentes, porque isso faz com que a espécie se perpetue. Daí, podemos perceber que um hábito bom é aquele que vai ao encontro dessa busca e, o hábito mau, é o contrário. Nesse ponto quero levar você a dar um salto.

Você aprende a ter hábitos. Se uma criança vê os pais comerem frutas ela vai aprender a comer frutas. Se um jovem vê um adulto jogando lixo em qualquer lugar, ele irá fazer o mesmo.

Vamos voltar no tempo. Anos atrás tínhamos menos pessoas morando nas cidades. Vou usar o termo cidades para facilitar, mas poderá pensar numa vila, num bairro, numa comunidade. Enfim, jogar algum lixo aqui ou ali não faria grande diferença e as pessoas foram se acostumando com esse hábito.

Derrubar uma mata para plantar, deixar algum resíduo perigoso a céu aberto, um depósito de material inservível, não causava grande impacto. Podia ficar até em algum lugar retirado para não contaminar. Passou a ser automática essa ação, passou a ser um hábito.

De uns anos para cá temos mais pessoas ocupando o mesmo espaço e o hábito anterior precisa ser mudado.

Antes que alguém diga que não posso dizer que precisa ser mudado vou argumentar que não sou eu que quero. É o argumento apresentado anteriormente, a espécie quer sobreviver e ter descendentes. Aqui, vou sugerir uma parada para reflexão sobre o sobreviver e ter descendentes. Ter muitos descendentes, sem saúde, é bom? Ter lá na frente menos alimentos será bom?

Duvido que alguém discorde quanto ao básico para sobreviver e ter descendência. A pergunta inicial volta aqui. O que podemos fazer para evoluir, melhorar nossas vidas e sermos longevos enquanto espécie?

Precisamos mudar nossos hábitos. Não será nada fácil, porque, inicialmente, o cérebro precisará de um gasto maior de energia.

James Clear em seu livro Hábitos Atômicos, nos diz que “o processo de mudança de comportamento sempre começa com a consciência. Você precisa estar ciente de seus hábitos antes de poder mudá-los”. E para não ficar parecendo somente uma frase de efeito, ele sugere que avaliar os hábitos atuais é um exercício simples para ficar mais consciente sobre nosso comportamento automático.

Para melhorar nossas vidas dentro do contexto atual podemos começar com uma pequena lista de nossos hábitos rotineiros, ficar atentos, conscientes, e classificar se são bons ou maus. Claro, sem jogar a responsabilidade a terceiros. Jogar a responsabilidade para os outros é uma fuga atual para não querer mudar, para não tornar a vida em comum mais agradável.

Precisamos, com urgência, assumir nossa responsabilidade, adquirir novos hábitos, para viver melhor!

Cláudio Loes

Ilustrações: Silvana Santos