Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 61) REVITALIZAÇÃO DO AMBIENTE ESCOLAR: PROMOVENDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AGROECOLÓGICA NO ENSINO BÁSICO
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REVITALIZAÇÃO DO AMBIENTE ESCOLAR: PROMOVENDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AGROECOLÓGICA NO ENSINO BÁSICO

 

 

Adriana Ferreira Nascimento (adrifernasci@outlook.com)

Discente do curso Licenciatura em Ciências Agrárias do do IFBaiano - Campus Senhor do Bonfim-BA.

Iara Vieira de Carvalho Araújo (iara.10araujo@hotmail.com)

Discente do curso Licenciatura em Ciências Agrárias do do IFBaiano - Campus Senhor do Bonfim-BA.

Josiane de Souza Carvalho da Silva (josikat159@hotmail.com)

Discente do curso Licenciatura em Ciências Agrárias do IFBaiano - Campus Senhor do Bonfim-BA.

JuracirSilva Santos(juracir.santos@ifbaiano.edu.br)

Docente do IFBaiano – Campus Senhor do Bonfim - BA; Doutor em Química (UFBA)

Marinalva Batista Pereira (nalvaagrarias@gmail.com)

Discente do curso Licenciatura em Ciências Agrárias do IFBaiano – Campus Senhor do Bonfim-BA .

Rosimar Souza da Silva Galvão (rosipink.cl@hotmail.com)

Discente do curso Licenciatura em Ciências Agrárias do IFBaiano - Campus Senhor do Bonfim-BA.

Viviane Brito Silva(viviane.silva@bonfim.ifbaiano.edu.br)

Docente do IFBaiano – Campus Senhor do Bonfim - BA; Doutora em Letras (UFPB)

 

RESUMO

O presente artigo trata da divulgação de ações realizadas no Colégio Municipal Dr. Rômulo Galvão de Campo Formoso – BA,visando à promoção de práticas agroecológicas e de convivência com o semiárido. Foram realizadas atividades que motivaram os alunos a ações críticas e reflexivas, por meio do desenvolvimento de oficinas onde foram utilizadosdiversos materiais descartados no lixo, como pneus, descargas, latas de alumínio e paletes de madeirapara a construção de jardins suspensos agroecológicos na área interna e externa do colégio. A atividade proposta promoveu a aquisição de novos valores e atitudes, transformando a forma de pensar e agir, já que valorizou o trabalho em equipe, a cooperação, desenvolveu a criatividade e o senso de responsabilidade, além de sensibilizar a comunidade escolar para o diagnóstico de problemas e alternativas para uma educação ambiental efetivamente contextualizada.

 

Palavras Chave:Agroecologia, Sustentabilidade, Semiárido.

 

INTRODUÇÃO

A educação pode ser definida como uma prática social, que busca aprimorar o ser humano naquilo que pode ser aprendido e recriado a partir dos inúmeros saberes existentes em uma cultura, de acordo com a demanda e exigências de uma sociedade. Assim consideramos que a educação é,sobretudo,atividadereflexiva, que promove sensibilização e transformação de comportamentos e atitudes.

 O objetivo da Educação Ambiental é a promoção de comportamentos e atitudes que favoreçam uma compreensão mais ampla sobre a interdependência entre os elementos da natureza, ou seja, é um ato voltado para a transformação da ação do homem, sensibilizando-o para o desenvolvimento da cidadania e sustentabilidade. Destaca-se, pois a preocupação com a preservação do meio ambiente sendo esse um tema que tem mobilizado a sociedade civil e governos, destacando-se como um dos assuntos mais debatidos ao redor do mundo. Nesse contexto,a Educação Ambiental se constitui como uma necessidade urgente e se propõe a atingir todos os cidadãos, através de um processo participativo permanente procurando conscientizar a população sobre a problemática ambiental. A Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999 nos afirma que:

 

Entendem- se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade(Lei nº 9795/1999, Art 1º).

 

Ao contextualizar a legislação brasileira, as normatizações e diversos documentos destinados à Educação Ambiental para a educação básica, Oliveira et al (2017) conclui que apesar da existência dos diversos documentos norteadores, a efetivação dessa política ainda não ocorre a contento, carecendo, portanto que sejam potencializadas ações que gerem resultados mais efetivos.

Bortolozzi e Filho (2000, p,167), afirmam que grande parte das atividades desenvolvidas nas escolas voltadas para a Educação Ambiental procura de alguma forma e de maneira imediatista resolver problemas ambientais complexos, tais como: coleta seletiva e reciclagem do lixo, assoreamento dos rios e plantio de árvores. Os autores destacam a necessidade da contextualização desses problemas em uma discussão mais aprofundada com os alunos, buscando-se assim uma maior conscientização da problemática a nível global. Segundo Oliveira e Pinto (2014, p.142):

 

Sabe-se que os problemas ambientais ocorrem em nível global, apesar da legislação que visa à proteção do meio ambiente. Assim, para abordar a Educação Ambiental em sala de aula é preciso mostrar aos alunos sua importância no contexto ambiental; é preciso que eles tenham consciência de que podem ser agentes transformadores, que podem mudar a realidade ao seu redor, e que essa realidade transformadora transbordará em várias outras realidades e haverá a união das partes com o todo.

 

            Nessa perspectiva, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) do curso de Licenciatura em Ciências Agrárias do IF Baianotorna-se um elemento norteador que proporcionará a efetivação de novas práticas metodológicas de ensino na escola, atravésda inserção da educação ambiental, bem como da agroecologia e da convivência com o semiárido, formando um elo entre a escola e o programa, firmando uma parceria que viabiliza a consolidação da relação indivíduo/escola/meio ambiente/convivência com o semiárido, facilitando assim, o processo de ensino-aprendizado.

A concepção do PIBID/IF Baiano é atuar na formação inicial de professores para que os futuros docentes, além de trabalharem os aspectos globais do conhecimento, existentes no currículo, abordem as questões que estão presentes no cotidiano dos alunos, ou seja, no seu espaço de mundo. Em relação ao semiárido, por exemplo, deve-se aprofundar o conhecimento sobre suas características e potencialidades, bem como sobre as principais questõesambientais que impactam essa região, tais como:escassez de água, uso incorreto do solo, poluição e assoreamento de rios, lixo, impacto das mudanças climáticas, dentre outras tantas questões, contribuindo assim para a formação de uma consciência ambiental fundamentada na agroecologia, a fim de promoverconvivência harmoniosa com o semiárido.

Dessa forma, o Programa está estruturado e baseado em promover práticas agroecológicas na escola que possam ser incorporadas pelas comunidades em que estão inseridas. De acordo com o que diz no inciso IX do Art. 3° dos objetivos do Regimento do programa, “deve-se promover, na práxis pedagógica dos (as) docentes em formação inicial, atividades didático-metodológicas que possibilitem a criação de materiais didáticos inovadores e contextualizados com a realidade dos educandos (as) da Educação Básica.”(PIBID, 2014)

É possível perceber que tal processo educativo destaca várias vertentes, sendo capaz de envolver o aluno com o objeto de estudo de maneira a potencializar uma aprendizagem mais significativa, bem como promover ao licenciando um momento através do qual o mesmo irá desenvolver a prática docente por meio das ações planejadas e executadas, tornando assim tanto os alunos quanto os docentes formadores de opinião a respeito das questões socioambientais.

Sendo assim, a partir da proposta deste trabalho buscou-se sensibilizar a comunidade escolar do Colégio Municipal Dr. Rômulo Galvão, através de ações educativas que despertassem a atenção de todos para os problemas ambientais que envolvem a realidade local, discutindo suas causas e consequências e promovendo a busca por soluções. Nesse sentido, foi lançada a proposta de construçãode jardins suspensos na área interna e externa do colégio,a fim de tornar as aulas mais dinâmicas e interativas, trabalhar as questões ambientais considerando os aspectos agroecológicos e de convivência com o semiárido, revitalizar e embelezar o ambiente escolar, bem como reaproveitar diversos materiais até então considerados como lixo: pneus, descargas, latas, madeiras, etc.

 

 

MATERIAIS E MÉTODOS

 

          O desenvolvimento do projeto ocorreu no Colégio Municipal Dr. Rômulo Galvão, situado no povoado de Poços, localizado a aproximadamente nove quilômetros do município de Campo Formoso – BA. As questões ambientais foram abordadas de forma interdisciplinar, contudo, a disciplina de ciências foi principal norteadora do processo. O trabalho foi realizado a partir da parceria entre o PIBID/IF Baiano do curso de Licenciatura em Ciências Agrárias e os professores e coordenador pedagógico do Colégio. Os alunos do sexto e sétimo ano do ensino fundamental foram os principais envolvidos. Os outros alunos participaram na observação do andamento das atividades e culminância do projeto. Em linhas gerais, o objetivo desse trabalho foi possibilitar aos alunos a realização de ações agroecológicas que favoreçam uma convivência mais produtiva com o semiárido.

          As primeiras atividades do projeto foram as reuniões entre bolsistas, professora e coordenador, nas quais foram apresentados os objetivos e etapas do projeto. Durante três meses,as aulas de ciências foram compartilhadasentre a professora da disciplina e os bolsistas de iniciação à docência do PIBID para a realização das atividades. Todo o processo ocorreu utilizando o sistema de alternância entre teoria e prática, onde, o embasamento teórico estava sempre ligado aos conteúdos curriculares da disciplina, buscando assim um maior envolvimento dos alunos.

         As abordagens em sala de aula foram voltadas para caracterizaçãodo ambiente no qual o aluno está inserido, ou seja, o semiárido, através de aulas expositivas e participativas. Durante as explanações foram apresentados exemplos de plantas nativas e adaptadas ao semiárido. Além disso, foi apresentado o potencial ornamental, a beleza e a exuberância dessas plantas. Durante as aulas teóricas várias temáticas foram abordadas, como: lixo urbano e rural, poluição, meio ambiente,utilização do solo e da água, sustentabilidade, agroecologia e semiárido, permitindo reflexões sobre a realidade local e mundial.

         As atividades práticas consistiram na construção dos jardins suspensos, planejadas e executadas pelos participantes do projeto.Os alunos ficaram responsáveis por levarem os exemplares de plantas do semiárido, as quais seriam coletadas nas proximidades de suas casas para serem plantadas nos jardins suspensos. O solo utilizado para o plantio foi extraído das áreas da escola e foi enriquecido com adubação orgânica (estrume de bovinos, caprinos e aves) pelos alunos durante o desenvolvimento do projeto.

            Simultaneamente, os alunos foram convidados a recolher materiais descartados como lixo que estavam no meio ambiente, como pneus, garrafas pets, descarga, madeira e latas provenientes da própria merenda escolar. Todos os materiais recolhidos foram lavados e pintados com cores vibrantes, de acordo com a criatividade de cada aluno. Em seguida, pneus, paletes, garrafas pets e latinhas foram afixados no ambiente interno e externo da escola (muros e paredes), com arame liso galvanizado. Depois, os alunos colocaram o substrato e as plantas escolhidas, concluindo-se assim a montagem dos jardins.O último passo foi o processo de irrigação, também realizada pelos alunos, os quais ficaram responsáveis por irrigar e cuidar do jardim posteriormente à conclusão do projeto.

          Houve intensa participação dos alunos na coleta de materiais, preparação da terra, escolha de mudas, bem como na decisão de como organizá-las e posicioná-las nos muros da escola. Em alguns momentos, os alunos se propuseram a realizar atividades no turno oposto, por exemplo, lavar os materiais, cortar, pintar, etc. Ao finalizar os jardins, os mesmos foram apresentados formalmente à comunidade escolar, numa atividade de culminância do projeto em que todos foram sensibilizados a cuidar das dependências da escola e preservar os jardins suspensos.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

 

            A partir da proposta do planejamento e execução dos jardins suspensos buscou-se aampliação do conhecimento associando a teoria e a práticae aproveitando os conhecimentos prévios dos alunos, sendo possível promover uma aprendizagem mais significativa dos conteúdos, levando em consideraçãoa realidadedos alunos. Além disso, o eixo norteador foi aformaçãode cidadãos conscientes de suas responsabilidades sociais, políticas, históricas, culturais, éticas, e ambientais.A conscientização de que o aluno é um agente ativo e transformador na sociedade pode contribuir para a disseminação da informação de que é possível produzir e utilizar os recursos naturais de forma sustentável.

          Os princípios da educação ambiental e da agroecologia foram utilizados para demonstrar aos alunos que é possível produzir de forma sustentável, minimizando os efeitos adversos ao meio ambiente e o uso indiscriminado dos recursos naturais e, no caso específico da região, que é possível conviver com o semiárido de forma mais produtiva.

          No âmbito de formar cidadãos que exerçam o seu papel na comunidade local é necessário conhecer bem a região na qual o indivíduo está inserido, a saber: características e localização geográficas, relevo, hidrografia, tipo de solo, vegetação e clima. Por exemplo, a maioria dos alunos do Colégio Municipal Dr. Rômulo Galvão é proveniente da zona rural de uma região semiárida, onde a falta de água é um dos principais entraves para o desenvolvimento de várias atividades básicas de seus familiares, dentre eles a produção de alimentos. Como entender ou resolver a situação da falta de água sem entender quais são fatores que ocasionam a escassez dos recursos hídricos? Como utilizar os recursos hídricos de forma sustentável? Quais são as causas que contribuem para comprometer a qualidade das águas nos poucos reservatórios de água superficial ou subterrâneas?Quais são as formas alternativas de se obter esse recurso? Existe uma política das secas? O que é isso? Deve-se combater a seca ou buscar alternativas de convivência com a mesma? Todasessas questões foram abordadas durante a realização das atividades práticas.

          A associação entre teoria e a prática possibilitou uma ampliação dos conteúdos do currículo para além do livro didático, possibilitando um conhecimento mais profundo das especificidades regionais, oportunizando a reflexão sobre a importância do manejo adequado dos recursos naturais e as várias formas de preservar tais recursos. Além disso, as aulas ocorreram de forma dinâmica e participativa, o que resultou na melhoria do desempenho qualitativo dos alunos,já que muitos alunos compareceram no turno oposto ao das aulas para pesquisar na biblioteca ou desenvolver atividades no jardim.

          Propostas como essa faz com que a escola cumpra a sua missão na sociedade de contribuir para o aprendizado, bem comopromover mudanças de atitudesde forma consciente e responsável. Sobretudo isso só é possível com participação de todos os envolvidos no ambiente escolar. (BRASIL, 2001).

          O desenvolvimento das ações aliando teoria e prática nas aulas de ciênciastornaram as aulas diferenciadas, interessantes e participativas, tanto para os alunos como para professores e bolsistas de iniciação à docência do programa do PIBID. Logo na execução da primeira etapa, iniciada com a parte teórica, a qual tinha uma abordagem voltada para a contextualização por meio da construção de jardins suspensos, notou-se uma grande interação e participação dos alunos na aula, comprovando que quando os conteúdos estão voltados para o entendimento e transformação de sua própria realidade despertam um maior interesse e consequentemente maior participação nas discussões.

Saviani (2011) em uma análise crítico reflexiva da Lei de Diretrizes Bases (LDB), destaca que todas as discussões no ambiente escolar devem trazer em seus conteúdos curriculares metodologias que atendam as reais necessidades e interesses dos alunos, sejam eles de áreas rurais ou urbanas. Assim a educação ambiental nos traz a ideia de que é necessário adotar novos valores, onde o foco principal seja a sustentabilidade, ou seja, contribuir para o desenvolvimento de uma comunidade sem agredir omeio ambiente. Portanto, para uma sociedade tornar-se sustentável é imprescindível promover uma mudança de hábitos em todos os envolvidos nesse processo. Aeducação ambiental é um tema amplamente discutido na mídia, contudo, são mencionados apenas os aspectos globais (por exemplo, o buraco na camada de ozônio ou o degelo das calotas polares), que fazem com que os alunos achem que a problemática está distante e não os alcança ou interfere de forma mais concreta na sua vida.Nesse sentido, é de suma importância que haja um olhar mais detalhado sobre o ambiente local no qual o indivíduo está inserido para permitir que ocorra um entendimento mais amplo dos problemas ambientais. Desta forma, é possível demonstrar que cada um tem responsabilidade quanto aos fatores que contribuem para a conservação ou destruição do meio em que vivem. Segundo De Moraes e Cruz:

 

[...] para melhorar o ensino da educação ambiental é necessário, principalmente, que o professor transmita e o aluno aprenda sobre a condição humana, compreenda a nossa relação com o planeta, adote em sua vida e aja sob o manto de valores como a ética e a solidariedade, busque uma visão complexa, enfocando tanto problemas locais como globais, bem como a influência de um sobre o outro[...] .(DE MORAES e CRUZ,2015, p.943).

 

Assim, a promoção da educação ambiental possibilita a conscientização sobre deveres e valores que contribuirão para a formação do ser e a preservação do meio existente, sendo de suma importância o papel do docente uma vez que cabe ao mesmo inserir nas suas aulas ações que mostrem a real situação do planeta, a partir do seu espaço, apontando os diversos problemas existentes e possibilidades de transformação.

Ao abordar o semiárido, os alunos refletiram sobre a importância e as potencialidades da região, entendendo que o semiárido tem suas especificidades,que o efeito climático da falta de água não pode ser combatido, mas que é preciso buscar novas maneiras para lidar com essa realidade e transformá-las em alternativas para um convívio produtivo.

            Além de requerer menos cuidados que as plantas ornamentais convencionais, as plantas da Caatinga apresentamuma baixa demanda hídrica e proporcionam um belo efeito estético ao ambiente escolar. Em adição, a construção dos jardins podem se constituir emlaboratórios vivos para o estudo de plantas e animais de pequenos portes, nativos ou adaptados ao semiárido brasileiro.Diante disso Alvarez e Kiill (2014, p. 63) nos mostram que das riquezas existentes na Caatinga, no que se refere ao potencial ornamental, a maioria das espécies tradicionalmente utilizada no Brasil com esse fim é exótica. Outro aspecto abordado durante as aulas foi de como a aplicação de técnicas apropriadas, mesmo simples, podem contribuir para a preservação e conservação do meio ambiente. A organização dos canteiros do jardim vertical, um sobreposto ao outro e os furos nos canteiros superiores possibilitaram economia de água, pois a água utilizada para irrigar as plantas na parte superior seria reaproveitada pelas demais, dentro de um processo de sustentabilidade.A figura 1 apresenta dois modelos de jardins suspensos construídos na área externa do colégio Municipal Dr. Rômulo Galvão pelos alunos nas aulas de Ciências. Outros jardins foram construídos na área interna, um deles utilizando paletes de madeira.

 

Figura 1: Jardins suspensos elaborados e construídos pelos alunos do Colégio Municipal Dr. Rômulo Galvão com plantas ornamentais. À direita, jardim suspenso feito com latas reutilizadas da merenda escolar e, à esquerda, jardim suspenso feitos com pneus e descargas reutilizadas.

 

O processo de inserção da educação ambiental na educação básicavisa uma valorização do planeta em relação aos recursos naturais e a torna mais completa quando outras ciências e estratégias de ensino corroboram para ampliar os seushorizontes e para contribuir com a formação de cidadãos não apenasconscientes das questões ambientais, mas sociais, econômicas, culturais e éticas, ou seja, busca o desenvolvimento de uma região sem agredir o meio ambiente e considera o homem como ser social. A agroecologia é considerada uma ciência que está relacionada principalmente ao homem do campo, situação da maioria dos pais de alunos do colégio, que tiram o sustento e sua subsistência da agricultura.Nesse sentido, de acordo comCoporal (2004), agroecologia é “um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencionais para estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas sustentáveis”. Ainda segundo Coporal:

 

a transição agroecológica implica não somente na busca de uma maior racionalização econômico-produtiva, com base nas especificidades biofísicas de cada agroecossistema, mas também numa mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais.(COPORAL, 2004, p. 12.).

 

Com o ensino da educação ambiental e através da proposta de elaboração e construção de jardins suspensos com materiais recicláveis houve uma contribuição significativa para todo o corpo docente e discente da escola, tornando-os mais sensíveis no que diz respeito à valorização do ambiente em que estão inseridos ao trazer formas de reaproveitamento de materiais que até certo ponto eram vistos como lixo.

Espera-se que as contribuições do PIBID promovam mudanças de hábitos e valores em todos os envolvidos no programa para que a educação agroecológica para a convivência com o semiárido não seja apenas um tema ou subtema, mas o início de uma verdadeira transformação no processo ensino-aprendizagem, bem como sobre o modo de pensar de todos os envolvidos no que diz respeito ao semiárido.

A utilização de várias metodologias para promover o ensino de ciências é muito importante para envolver o aluno com o objeto de estudo de maneira a potencializar uma aprendizagem significativa, bem como promover ao licenciando um momento pelo qual o mesmo irá desenvolver a prática docente através das ações executadas de acordo com a dinâmica do programa que permite a utilização de métodos que facilitam o processo de ensino-aprendizagem tornando assim tanto os alunos quanto aos docentes formadores de opinião a respeito da temática elaborada pelo programa como o exemplo das questões socioambientais.

 

 

CONCLUSÃO

 

 

          O planejamento e execução desse projeto demonstraram que a educação escolar, se contextualizada, pode ser, de fato, transformadora. Para que a aprendizagem seja efetivamente significativa é necessário que teoria e prática sustentem a adoção de ações realmente eficazes para solucionar problemas encontrados. Projetos como esse demonstram que a educação pode contribuir de fato para a transformação de hábitos e comportamentos, incentivando os participantes a perceberem que existem possibilidades de transformação da realidade. A princípio, buscou-se sensibilizar os envolvidos, despertando sua atenção para os problemas ambientais existentes naquela comunidade escolarpara poder assim incentivá-los e impulsioná-los a perceber que poderiam ser agentes transformadores de sua própria realidade. Todos os participantes tiveram a oportunidade de observar e aprender na prática a forma mais econômica e eficiente de manter um jardim no ambiente escolar localizado no semiárido brasileiro. Foi possível notar também um maior envolvimento e desempenhodos alunos na disciplina de ciências e nas demais disciplinas contempladas no currículo, além de uma maior participação desses alunos em outras atividades e nas programações da escola. 

Diante do que foi exposto percebeu-se que a educação ambiental tem uma gama de opções para ser trabalhada no âmbito escolar constituindo-se como ferramenta realmente eficaz para solucionar diversos problemas causados pelo próprio homem que na maioria das vezes, torna-se o principal agressor da natureza. Tendo em vista que o conhecimento adquirido na escola pode influenciar os familiares e toda a sua comunidade, espera-se que esse projeto seja importante para incentivar o planejamento e a execução de outras ações inovadoras, criativas e de responsabilidade social, que contribuam, de fato, para a resolução deproblemas diagnosticados pela comunidade escolar.

 

REFERÊNCIAS

 

ALVAREZ, Ivan André; KIILL, Lúcia Helena Piedade. Arborização, Floricultura e Paisagismo com Plantas da Caatinga. Informativo ABRATES,vol.24, n°.3, 2014, P. 63.

 

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm. Acesso em: 17 de setembro de 2015.

 

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio ambiente. Secretaria de educação Fundamental – Brasilia: MEC/SEF, 1997.  Disponível em: www.portal.mec.gov.br. Acesso em 17 de setembro de 2015.

 

CAMPOS, Sirlei Sebastiana Polidoro; CAVASSAN, Osmar. A oficina de materiais recicláveis no ensino de ciências e nos programas de educação ambiental: refletindo sobre a prática educativa. 2007.

 

CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio.Agroecologia: alguns conceitos e princípios. 24 p. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004. Disponível em: <http://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/Agroecologia-Conceitoseprincipios. pdf>. Acesso em: 27 de outubro de 2016.

 

DE MORAES, Kelly Farias e CRUZ, Monique Rodrigues da. "O ensino da educação ambiental." Revista Direito e Política 10.2 (2015): 928-945.

 

PIBID. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO – Regimento Institucional do Programa de Bolsas do PIBID/IFBAIANO- 2014. Disponível em: http://ifbaiano.edu.br/portal/quimica-guanambi/wp-content/uploads/sites/15/2017/03/Regimento-Interno-do-PIBID-IF_Baiano.pdf. Acesso em 15 de setembro de 2016.

 

SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetórias, limites e perspectivas, 12º edição. Ed. autores associados, Campinas São Paulo, p. 192, 2011. 

 

OLIVEIRA, Jangirglédia de et al. Educação ambiental e a legislação brasileira: contextos, marco legal e orientações para a educação básica. Revista Educação Ambiental em Ação, n. 59, Ano XV. Março-Maio, 2017. Disponível em http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=2674 . Acesso em 02 de maio de 2017.

 

 

Ilustrações: Silvana Santos