Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 61) A GRAFITAGEM DE EDUARDO KOBRA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO SOBRE O MURAL “ETNIAS”
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A GRAFITAGEM  DE EDUARDO KOBRA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO: UM ESTUDO SOBRE O MURAL “ETNIAS”

 

 


Norberto Stori (*)

Romero de Albuquerque Maranhão (**)

* Professor Titular do programa de Pós-Graduação em Educação, Arte e História da Cultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie. E-mail: nstori@uol.com.br

** Doutor em Administração, Mestre em Geografia e Graduado em Ciências. E-mail: romeroalbuquerque@bol.com.br


 

 

Resumo: O objetivo deste texto é apresentar o mural produzido pelo artista e suas conexões sobre a união dos povos, bem como a diversidade existente no globo. A reestruturação da área portuária do Rio de Janeiro e os Jogos Olímpicos inspiraram o artista Eduardo Kobra a pintar o Mural "Etnias". O mural é composto por cinco rostos indígenas, representando os cinco continentes e, por extensão, os anéis olímpicos. No mural, o artista representa os índios do grupo étnico Mursi da Etiópia, seguido por um da tribo Karen da Tailândia, outro da tribo Tapajós do Brasil, um dos Chukchi da Sibéria e por último do grupo étnico Hulis da Nova Guiné. Conclui-se que a obra enaltece a importância de deixar de lado as desavenças religiosas e as diferenças políticas; de evitar os conflitos; e a importância da união entre os povos.

Palavras-chave: grafite; diversidade; arte urbana.

 

 


Abstract: The aim of this text is to present the mural produced by the graffiti artist and his connections on the union of the peoples, as well as the diversity existing in the globe. The redevelopment of the port area of ​​Rio de Janeiro and the Olympic Games inspired the artist Eduardo Kobra to paint the Mural "Etnias". The work is composed of five indigenous faces, representing the five continents and, by extension, the Olympic rings. On the mural the artist represents Indians of the Mursi ethnic group from Ethiopia, followed by one from the Karen tribe of Thailand, another from the Tapajós in Brazil, one from the Chukchi of Siberia and the last from the Hulis ethnic group of New Guinea. It is concluded that the work extols the importance of putting aside religious disputes and political differences; avoid conflicts; and the importance of unity among peoples.

Keywords: graffiti; diversity; urban art.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

 

O projeto de revitalização da Zona Portuária do Rio de Janeiro ganhou notoriedade a partir das transformações arquitetônica e ações culturais.  Entre as ações culturais mais comuns, destacam-se a valorização das tradições locais e da cultura popular, a instalação de museus e centros culturais monumentais, a preservação do patrimônio cultural e arquitetônico, o incentivo a eventos (conferências, festivais, mostras culturais) e o estímulo ao turismo de cunho cultural (CARNEIRO, 2015; PIO, 2013) .

No ano de 2016, em consequência dos jogos olímpicos, a Secretaria de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro, idealizou e colocou em prática o projeto do Boulevard Olímpico, no trecho da orla entre a Gamboa e a Praça XV, com o intuito de integrar a cidade com os jogos, para que todos, tendo ou não ingressos, pudessem curtir o clima olímpico.

O objetivo do projeto Boulevard Olímpico era integrar os espíritos carioca e o olímpico, numa grande confraternização, dando ao público a oportunidade de ver as transformações urbanas da região e visitar seus novos e antigos atrativos, como o Museu do Amanhã, o MAR e a Orla Conde.

Além disso, existiam telões de alta definição para o público assistir às principais provas olímpicas em telões, três palcos, ao longo do Boulevard, com programação diária de shows, inúmeras apresentações de artistas de rua e outras intervenções culturais, dentre as quais destaca-se o mural “Etnias” do grafiteiro Eduardo Kobra (Figuras 1 e 2).

O mural, elaborado por Eduardo Kobra na técnica do grafite, foi idealizado para falar sobre a união dos povos. Ressaltando justamente da importância de deixar de lado as diferenças religiosas e as diferenças políticas; de evitar os conflitos, e de realmente buscar a união dos povos (KOBRA, 2016a).

De acordo com Eduardo Kobra: "Este projeto é um seguimento de alguns murais que fiz por todo o mundo e que chamei de "Olhando a Paz". São painéis que fiz com algumas personalidades que são importantes em relação à paz, como Malala, Martin Luther King e Nelson Mandela. Já fiz alguns na Europa e nos Estados Unidos" (KOBRA, 2016a).

O mural é composto por cinco rostos indígenas, que representam os cinco continentes e, por extensão, os anéis olímpicos. Possuí 2.646,34 m², com 15 metros de altura, 170 metros de comprimento, levou 70 dias para ser realizado (sendo 45 de pintura e 25 de produção), foram utilizados 1.890 litros de tinta branca para a base e 2.800 latas de tinta spray para a grafitagem.

No mural o artista representa índios da etnia Mursi, da Etiópia, seguido por um da tribo Karen, da Tailândia, outro dos Tapajós, no Brasil, um dos Chukchis, da Sibéria, e o último da etnia Hulis, de Nova Guiné. Foi reconhecido como o maior grafite do mundo pelo “Guiness world records”, o livro dos recordes.

Para Eduardo Kobra: “O projeto do Mural Etnias é a continuação dessa história, uma história de luta através da arte. Meu trabalho nesse período todo tem se concentrado na defesa e preservação dos animais, no resgate da história, na busca da igualdade entre as pessoas. Esse recorde para mim não se trata do maior mural do mundo, se trata da maior pintura pela paz entre as nações. ” (ESTADÃO, 2016).

 

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Figura 1. Eduardo Kobra apresentando o mural “Etnias”.  

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/mundo/2016/08/24/interna_mundo,545611/mural-etnias-de-kobra-entra-para-o-guinness-como-maior-grafite.shtml.

 

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Figura 2. Vista aérea  do mural “Etnias”.  

Fonte: http://cenapop.virgula.uol.com.br/2016/08/23/120673-grafite-de-eduardo-kobra-para-olimpiadas-entra-para-o-guinness/

 

Desta forma, o objetivo deste texto é apresentar o mural produzido pelo grafiteiro e suas conexões sobre a união dos povos, bem como a diversidade existente no globo (KOBRA, 2016b).

QUEM É O ARTISTA?

 

Nascido em 1976 em São Paulo, Eduardo Kobra começou sua carreira como pichador quando segurou a primeira lata de tinta spray aos 12 anos de idade em Campo Limpo, bairro da zona sul da cidade, depois se tornou grafiteiro e hoje se considera um muralista. Além dos murais elaborados com tinta Latex e Spray, Eduardo pesquisa o uso de materiais reciclados e novas tecnologias, como a pintura 3D em pavimentos, que cria uma ilusão de ótica com efeitos de perspectiva, luz e sombra confundindo o olhar do público. O artista tem obras em diversas cidades brasileiras como também em outros países (STORI e MARANHAO, 2016).

No início, seu trabalho na linguagem do Grafite indicava uma forte influência dos elementos do Hip-Hop. Em 1995, fundou o Estúdio Kobra, especializado em painéis artísticos. Tornou-se conhecido quando criou em 2005, na cidade São Paulo, o projeto “Muros da Memória”, seus primeiros Grafites de grandes proporções muralística, resgatando imagens nostálgicas da cidade antiga. De acordo com o artista, a ideia surgiu após visitar uma exposição que mostrava casarões e árvores da Avenida Paulista dos anos de 1920. Com um traço hiper-realista, sua principal inspiração veio de pintores muralistas, como o mexicano Diego Rivera (1886-1957) e das obras do brasileiro Emiliano Di Cavalcanti (1897–1976), começando assim a consolidar seu estilo e a se enxergar também como um muralista. Suas obras gigantescas espalhadas pela cidade de São Paulo começaram a ganhar visibilidade e o mundo (STORI e MARANHAO, 2016).

 

No exterior as principais obras de Eduardo Kobra são:

1 – O Beijo, na High Line, em Nova York, EUA;

2 – Arthur Rubinstein, em Lodz, na Polônia;

3 – Artistas, em Wynwood, Miami, Flórida, EUA;

4 – A Bailarina (Maya Plisetskaya), em Moscou, Rússia;

5 – Malala, em Roma, Itália;

6 – Olhar a Paz, em Los Angeles, Califórnia, EUA;

7 – Sarasota Antiga, em Sarasota, Flóriada, EUA;

8 – Abraham Lincoln, em Lexington, Kentucky, EUA;

9 – Fight for Street Art (releitura da cena clássica de Andy Warhol e Jean Michael Basquiat), em Williamsburg, Brooklyn, EUA;

10 – Alfred Nobel, na cidade de Boras, Suécia;

11 – MariArte, em San Miguel de Allende, México;

12 – Ritmos do Brasil, em Tóquio, Japão;

13 – O Beduíno, em Dubai, nos Emirados Árabes;

14 – Mural ainda sem nome, Papeete, Taiti;

15 – Bob Dylan, The Times They Are a-Changin. Minneapolis, Minnesota, EUA;

16 –  Hamlet, West Palm Beach, Florida, EUA;

17 – Einstein vai à Praia, West Palm Beach, Flórida, EUA;

18 – Give Peace a Chance,  Wynwood, Miami, Flórida, EUA;

19 – Stop Wars  –  Wynwood, Miami, Flórida, EUA;

20 – The Fallen Angel  (O Anjo Caído),  Wynwood, Miami, Flórida, EUA;

21 – Muddy Waters, Chicago, Illinois, EUA;

22 – Rio (com imagem do Cristo) em Tóquio, Japão; e

23 – Armstrong, Cincinnati, Ohio, EUA.

 

Aqui no Brasil, Eduardo já grafitou em diversas cidades, seguem alguns dos seus expressivos murais:

1 – Oscar Niemeyer, Praça Oswaldo Cruz, av. Paulista, em São Paulo, São Paulo;

2 – A Arte do Gol (projeto Muro das Memórias), av. Hélio Pellegrino com av. Santo Amaro, em São Paulo, São Paulo;

3 – Belém Antigo, esquina da rua Castilhos França com a rua Portugal, em Belém, Pará;

4 – Candango, no Complexo Bancário, em Brasília;

5 – Chico e Ariano, na avenida Pedroso de Morais, Pinheiros, em São Paulo, São Paulo;

6 – Novos Ventos, nos tanques da Linde Gases, na rodovia Cônego Domênico Rangoni, no trecho do sistema Anchieta-Imigrantes, que liga Cubatão a Guarujá, São Paulo;

7 – Mural da 23 de Maio (projeto Muro das Memórias), av. 23 de Maio (próximo ao viaduto Tutóia), em São Paulo, São Paulo;

8 – Murais do Parque do Ibirapuera, ao lado do MAM, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, São Paulo;

9 – Pensador, Senac Tatuapé, em São Paulo, São Paulo;

10 – Muro das Memórias Caixa d’água, Senac Santo Amaro, em São Paulo, São Paulo;

11 – AltaMira (projeto Greenpincel), rua Maria Antônia, São Paulo, São Paulo;

12  – Muro das Memórias, Senac Tiradentes, em São Paulo, São Paulo;

13 – Gonzagão, Recife, Pernambuco;

14 –  Viver, Reviver e Ousar, Igreja do Calvário, em Pinheiros, São Paulo, São Paulo;

15 –  Brasil!, muro da usina termelétrica de Macaé, Rio de Janeiro;

16 – Sem Rodeio (Projeto Greenpincel), av. Faria Lima, em São Paulo, São Paulo;

17 – Muro das Memórias Senac Tiradentes, av. Tiradentes, em São Paulo, São Paulo;

18 – Racionais MC’s, Capão Redondo, São Paulo, São Paulo;

19 – Genial é Andar de Bike, Oscar Freire, São Paulo, São Paulo;

20 – A Lenda do Brasil, rua da Consolação, São Paulo; e

21 – Etnias – Todos Somos Um, Boulevard Olímpico, Porto Maravilha, Rio de Janeiro, RJ

 

ETNIAS – TODOS SOMOS UM

 

No mural “Etnias – Todos Somos Um”, Eduardo Kobra representa índios da etnia Mursi, da Etiópia, seguido por um da tribo Karen, da Tailândia, outro dos Tapajós, no Brasil, um dos Chukchis, da Sibéria, e o último da etnia Hulis, de Nova Guiné.

De acordo com Kobra: "Esse trabalho vem de uma série de outros murais que tenho feito sobre a paz. Nesse, cada continente foi representado por seus nativos, mostrando que todos nós viemos da mesma origem e devemos prezar o relacionamento entre os povos. Os Jogos Olímpicos estão aí para reforçar a importância de se manter a harmonia entre as nações” (ESTADÃO, 2016).

Inspirado no ideal olímpico da paz mundial, Kobra escolheu desenhar o rosto de cinco etnias nativas, número de continentes e dos anéis que representam as Olimpíadas. O primeiro rosto (Figura 3) com os adereços e as argolas sobre a cabeça e ao lado das orelhas é dos mursis.

Figura 3. Rosto de um nativo do povo Mursi pintado por Eduardo Kobra.  

Fonte: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/viajologia/noticia/2016/08/boulevard-olimpico-da-rio-2016-traz-novas-cores-ao-velho-cais-do-porto.html.

 

O enigmático povo Mursi (Figura 4), um grupo étnico, ainda, muito primitivo, composto de 4 a 5 mil indivíduos, vive no sudoeste da Etiópia, região do rio Omo, habitada por uma notável quantidade de etnias que, não obstante a proximidade entre elas conservam inalteradas as singulares características tribais. Os Mursi dedicam-se ao pastoreio e à agricultura. Para se chegar a essa região, a principal via de acesso é esta: a travessia do rio Omo, o mesmo que presumivelmente foi testemunha de nossa origem.

Figura 4. Rosto de um nativo do povo Mursi.  

Fonte: https://www.hevp.com.br/BlogView_38/-Tribo-Mursi---Isolada-E-Fantastica.html.

 

O segundo painel, de uma mulher com argolas douradas no pescoço, também se revela: são as chamadas mulheres girafas da etnia Karen, de Mianmar e da Tailândia (Figura 5). Elas colocam argolas desde criança para que seus pescoços fiquem bem decorados e, aparentemente, mais longos.

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Figura 5. Rosto de um nativo do povo Karen pintado por Eduardo Kobra.

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/658510776734913451/.

  

Os karens são um grupo étnico formado por diversas comunidades nativas do Sudeste Asiático. Suas populações se concentram em Myanmar, onde reside a maior parte dos karens, cerca de 3,5 milhões de indivíduos, e na Tailândia, com 400 mil pessoas.  Vivem principalmente em vilarejos nas montanhas próximas ao delta do rio Irrawaddy (conhecidas como "Montes Karen"), no estado de Kayin, região leste de Myanmar; os karens são a terceira maior etnia do país, depois dos birmanes e dos shan. Na Tailândia, os karens, embora em menor número, representam a maioria dos chamados povos das montanhas do país.

A terceira imagem (Figura 6), a do centro, é de um nativo brasileiro, como representante das Américas. Todavia, deixa em dúvida se é um caiapó ou um tapajó, pois ambos usam cocares de penas da arara-azul, a principal característica da pintura de Kobra. Mas, como pronunciado pelo artista é um representante do povo tapajós.

Os tapajós são uma tribo indígena que vive no estado brasileiro do Pará. São conhecidos por sua cerâmica, principalmente pelos famosos muiraquitãs – pedra verde esculpida em forma de sapo, usada pelas mulheres tapajós como amuleto para prevenir doenças e evitar a infertilidade.

Depois dos representantes da África, da Ásia e das Américas, a quarta pintura é de algum povo do norte da Europa (Figura 7), os Chukchis da Sibéria. Os Chukchis são um povo muito antigo do Ártico, que vivem principalmente na península de Chukotka. Distinguem-se entre duas culturas, os de pastores de renas, sendo nômades e os caçadores de mamíferos. Nas artes, as mulheres são hábeis nos bordados e confecções de todas as roupas e os homens fazem esculturas com ossos de morsas. Ambos os sexos são responsáveis pela caça, porém, as tarefas mais habituais a elas em tempos bons são da limpeza e reparação das carnes, cozinhar alimentos, costurar e trabalhar na reparação de roupas e preparar as peles de renas ou morsas. E a função principal dos homens é a de caçar mamíferos e pescar.

 

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Figura 6. Rosto de um indígena do povo tapajós pintado por Eduardo Kobra.

Fonte: https://mulpix.com/instagram/grafite_do_mundo_riodejaneiro.html

 

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Figura 7. Rosto de um nativo do povo Chukchi pintado por Eduardo Kobra.

Fonte: http://www.pictaram.com/tag/Chukchis.

 

Finalmente, para fechar o planeta, um representante da Oceania como a quinta figura (Figura 8). O rosto é extremamente familiar: barba cerrada, pintura vermelha ao redor dos olhos e amarela em grande parte da face. Os únicos que se pintam dessa maneira para seus festivais de danças, os sing-sing, são os hulis, uma tribo das montanhas de Papua-Nova Guiné.

Os hulis de Papua-Nova Guiné são famosos por sua tradição de fazer perucas ornamentadas de seu próprio cabelo. Eles praticam a agricultura cíclica, movendo-se para um novo local depois que o solo é esgotado para permitir o reflorestamento e recuperação. As mulheres são excepcionais agricultoras, cultivam batata doce, milho, couve e mandioca.

 

Figura 8. Rosto de um nativo do povo Huli pintado por Eduardo Kobra.

Fonte: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/viajologia/noticia/2016/08/boulevard-olimpico-da-rio-2016-traz-novas-cores-ao-velho-cais-do-porto.html

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A compreensão do mural “Etnias” é um processo complexo. Pois, a preocupação do artista foi registrar povos nativos em consonância com os jogos olímpicos na Cidade do Rio de Janeiro, enfatizando a união entre os povos dos cinco continentes e não a visão romântica dos deuses do olimpo.

Eduardo Kobra sugere que é possível compreender o grafite não apenas como uma arte urbana, mas como uma forma de apropriação do espaço urbano, além de democratizar o acesso à cultura, incentiva o debate sobre diversas questões sociopolíticas e econômicas, desperta a necessidade da sociedade aprender com o outro.

De acordo com o artista: Sempre disse que esse seria o maior painel grafitado no mundo e que era o único recorde já garantido antes do início dos Jogos. Mas é claro que esse número só é importante para dar ainda mais visibilidade à obra. O importante é a mensagem! Infelizmente há no mundo uma intolerância cada vez maior, em que pessoas de diversos continentes, especialmente da Europa, rejeitam o imigrante ou o ‘diferente’ e se julgam detentoras dos direitos territoriais. Espero que esse mural, dentro do espírito olímpico dos jogos, tenha ajudado e continue a ajudar a lembrar que todos temos origens ‘semelhantes’, que todos somos diferentes mas iguais; que a diversidade é bela, mas que no fundo Todos Somos Um: a espécie humana” (KOBRA, 2016b).

Com cores fortes e vivas, Kobra tenta, neste mural, sensibilizar as pessoas para o humanismo e talvez despertar para que tenham uma atitude mais proativa diante dos problemas da humanidade. Conclui-se que a obra enaltece a importância de deixar de lado as desavenças religiosas e as diferenças políticas; de evitar os conflitos; e a importância da união entre os povos.

 

REFERÊNCIAS

 

CARNEIRO, M. V. Telhado de Vidro: uma reflexão sobre os processos de inventário de patrimônio imaterial do IPHAN-RJ a partir do caso do inventário da Festa de Nossa Senhora da Conceição-RJ. Tese de Doutorado – Fundação Getúlio Vargas, 2015. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/13983. Acesso em: 23 de abril de 2017.

 

ESTADÃO. Sucesso durante a Olimpíada, mural de Kobra no Rio entra para o Guinness Book. 2016. Disponível em: http://viagem.estadao.com.br/blogs/viagem/sucesso-durante-a-olimpiada-mural-de-kobra-no-rio-entra-para-o-guinness-book/.  Acesso em: 15 de março de 2017.

 

KOBRA, E. Entrevista ao Sítio Terra, em 19JUL2016. Disponível em: https://esportes.terra.com.br/jogos-olimpicos/2016/mural-grafitado-por-kobra-simboliza-uniao-de-etnias-dos-5-continentes-no-rio,aecdcff8126ab77955e777b5410f8e612cem4ts5.html. 2016 (a). Acesso em: 15 de março de 2017.

 

KOBRA, E. 2016. Entrevista ao Jornal Coroa Metade. Em 3 de setembro de 2016. 2016 (b). Disponível em: http://jornal.coroametade.com.br/apos-entrar-no-guinness-book-eduardo-kobra-entrega-obra-em-cincinnati-e-faz-novo-mural-em-sao-paulo/. Acesso em: 15 de março de 2017.

 

 

PIO, L. G. Novas tendências na revitalização de áreas ‘históricas’: o caso Porto Maravilha”. Anais... do IV Seminário Internacional-Políticas Culturais, realizado de 16 a 18 de outubro/2013 - Setor de Políticas Culturais – Fundação Casa de Rui Barbosa – Rio de Janeiro – Brasil. Disponível em: http://culturadigital.br/politicaculturalcasaderuibarbosa/files/ 2013/11/Leopoldo-Guilherme-Pio.pdf. Acesso em: 22 de abril de 2017.

 

STORI, N.; MARANHAO, R. A. Eduardo Kobra e a grafitagem na cidade de São Paulo/SP. Revista CROMA , v. 4, p. 100-108, 2016.


 

 

Ilustrações: Silvana Santos