Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Entrevistas
26/01/2018 (Nº 62) ENTREVISTA COM SABRINA DINORÁ SANTOS DO AMARAL PARA A 62ª EDIÇÃO DA REVISTA VIRTUAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO
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ENTREVISTA COM SABRINA DINORÁ SANTOS DO AMARAL PARA A 62ª EDIÇÃO DA REVISTA VIRTUAL EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM AÇÃO por BERE ADAMS

Foto: Varanda de casa (meu lugar predileto) Agosto de 2017

Apresentação: A entrevistada desta edição é Sabrina Dinorá Santos do Amaral. Eu a conheci pelas redes de Educação Ambiental e o nosso primeiro contato pessoal se deu em 2009, no VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental que ocorreu no Rio de Janeiro. Sabrina tem uma trajetória incrível e inspiradora. Ela é Educadora Ambiental, militante de movimentos socioambientais e de juventude e meio ambiente. Entre outras tantas atividades (atua em ONGs, Coletivos Educadores, Redes de Educação Ambiental), ela se dedica a implementação da Agenda 21 escolar, a práticas cotidianas para uma escola sustentável e em processos formativos e de gestão hídrica. É graduada em Pedagogia e em Ciências Biológicas, Especialista em Educação Ambiental, Mestre em Educação e Doutoranda em Qualidade Ambiental. Atualmente é coordenadora de Educação Ambiental da Prefeitura Municipal de Taquara. Também é coordenadora local do Projeto Peixe Dourado - do Comitê de Gerenciamento da Bacia do Rio dos Sinos -, é integrante do Programa Permanente de Educação Ambiental deste comitê do Grupo de Estudos Socioambientais e participa do Projeto Verde Sinos. Com toda esta trajetória, certamente teremos muito que aprender com esta grande Educadora Ambiental.

Foto: Sabrina e Bere no VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental – 2009/RJ

Bere – Sabrina, é um imenso prazer tê-la como nossa entrevistada. Começo te perguntando: o que te levou ou te inspirou para seguir pela trilha da Educação Ambiental?

Sabrina – Olá Bere, acho que o correto é quem me inspirou. Tornei-me professora muito cedo, aos 15 anos de idade já estava nas salas de aula das escolas públicas da cidade de Parobé (RS). Foi quando conheci a professora Nelci Lázaro, ambientalista, e pessoa muito presente na comunidade, ela coordenava a educação ambiental do município, e eu me encantei com o trabalho dela a ponto de segui-la em todos os desafios que surgiam.

Bere – Como é importante termos profissionais de Educação Ambiental que promovem sopros de inspiração e que incentivam mais e mais pessoas a voarem em busca de realização de sonhos e ideais! Agora vamos para uma questão conceitual. Se é que isto é possível, como você define a Educação Ambiental, em poucas palavras?

Sabrina – Para mim, “Pertencimento”, pois deste sentimento vem meu amor pela educação, meu encantamento pela vida e minha vontade de lutar por tudo que acredito.

Bere – Em 1999 a Lei Federal nº 9.795 instituiu a Política Nacional de Educação (PNEA). Como você avalia as políticas públicas vigentes para a Educação Ambiental, desenvolvidas a partir de então?

Sabrina – A PNEA (Política Nacional de Educação Ambiental) foi um grande marco para a Educação Ambiental, logo após a ela, veio o ProNEA (Programa Nacional de Educação Ambiental), que foi revisitado ainda este ano, e ainda tivemos as DCNEA (Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Ambiental), lançadas em 2012. Todas elas foram importantes passos na construção de uma educação ambiental, crítica e emancipatória, porém, o que tenho observado é o desmantelamento das estruturas de educação ambiental, e seus espaços de proposição, encaminhamento e decisão no âmbito das políticas públicas.

Bere – Lamentável que isto venha acontecendo. Também venho percebendo “retrocessos” e perdas do que foi conquistado com muita luta. Sobre a Educação Ambiental propriamente dita, ainda hoje há certa dificuldade de uma compreendê-la como uma prática interdisciplinar, e volta e meia vem à tona a ideia de torná-la uma disciplina. O que você pensa sobre esta questão?

Sabrina – Realmente este é um debate antigo no âmbito da Educação Ambiental formal, educadores ambientais do Brasil todo consensuaram e expressaram a natureza transversal da EA na PNEA e no ProNEA. Acredito que podemos encontrar nas DCNEA um grande reforço neste tema, fazendo valer como prática educativa integrada, contínua e permanente, e não como uma disciplina específica do currículo.

Bere – Sim, as DCNEA reforçam e esclarecem muitos aspectos da Lei 9.795/99. Entre outras publicações, você é autora do livro Ecopedagogia: Refundamentando a educação na era planetária, de 2003. Fale-nos um pouco desta obra e do que você mudaria - ou acrescentaria - nela, hoje:

Sabrina – O livro Ecopedagogia: Refundamentando a educação na era planetária foi construído como trabalho de conclusão do meu curso de pedagogia. Nele procurei apresentar indagações pedagógicas para o processo de ensino-aprendizagem voltado às questões socioambientais. Procurei trazer a Pedagogia de Paulo Freire juntamente com as proposições de Gutiérrez e Prado. Para mim ele ainda é muito atual, pois traz uma proposta de educação que têm ganhado força e forma entre escolas e educadores, porém, com certeza o capítulo de experiências eco pedagógicas e seus espaços de aprendizagem se encontrariam com muitas outras proposições.

Bere – Você também é autora de diversas publicações dirigidas à formação de Educadores Ambientais. Você considera que os professores estão preparados para a aplicação de uma Educação Ambiental crítica e interdisciplinar?

Sabrina – Tenho acompanhado um importante movimento, em inúmeras frentes, para a ambientalização do currículo nas universidades. Observo que algumas têm buscado inserir nas licenciaturas, disciplinas voltadas ao tema, mas acredito que ainda não seja o suficiente, por este motivo, tenho me dedicado a formação continuada de professores.

Bere – Você atua, em diversas frentes, de muitas ações desenvolvidas pelas Redes de Educação Ambiental, então, gostaria que você comentasse qual a importância destas articulações, para a consolidação da Educação Ambiental?

Sabrina – Para mim as Redes são instrumentos de organização das lutas. Cássio Martinho as cita como principal forma de expressão e organização coletiva, no plano político e na articulação de ações, e sendo assim, é através delas que visualizo os maiores feitos da Educação Ambiental, tanto a nível global, quanto local.

Bere – Esta revista é a confirmação do que você pontuou, pois ela nasceu de uma rede informal articulada por mensagens eletrônicas, o GEAI (Grupo de Educação Ambiental da Internet), e lá se vão 15 anos de revista. Desde lá, a minha percepção de que tudo está relacionado vem se ampliando. Como você pensa que política, cultura e Educação Ambiental estão relacionadas?

Sabrina – Uma sociedade mais justa, este é o sonho, é a busca pela garantia para todos, do fim das opressões de raça e gênero, é acreditar no respeito e na conservação do meio ambiente, buscar a educação de qualidade, a saúde, alimentos, dentre outros. Nessa luta, existem diversas ferramentas como a educação, mudança cultural, diálogo, troca de saberes, todas se relacionam, todas colaboram com a caminhada.

Bere – Você, atualmente, pesquisa sobre como transformar as escolas públicas em Espaços Educadores Sustentáveis. Fale-nos um pouco sobre o que são Espaços Educadores Sustentáveis:

Sabrina – O exercício da cidadania perpassa diferentes tecidos de nossa sociedade, encontramos estruturas, princípios e diretrizes para a sustentabilidade em residências, entidades e diferentes organizações, fazendo delas espaços sustentáveis. Meu estudo se volta às entidades, instituições e ou organizações, que apresentam, além de estruturas, princípios e diretrizes sustentáveis, também a intenção de educar através delas. Neste caso, podemos fazer um recorte nas instituições educacionais, que enquanto espaços educadores encontram-se em transição a constituírem-se como Espaços Educadores Sustentáveis.

Neste contexto, me dedico às quatro dimensões propostas aos espaços educadores sustentáveis. No espaço físico, busco questionamentos sobre a adequação dos espaços em matrizes mais sustentáveis, e ecotécnicas que transformem e materializem a sustentabilidade da escola, através do potencial educador das edificações. Em currículo, trabalho com a incorporação da EA de forma inter e transdisciplinar, perpassando o Projeto Político Pedagógico, práticas e saberes socioambientais. Na dimensão da Gestão, o principal mote baseia-se na constituição e no desenvolvimento de ações das Comissões de Meio Ambiente Qualidade de Vida na escola, as COM-VIDA´s e na dimensão Comunidade, o desafio da mobilização e da facilitação da participação e do engajamento da sociedade.

Bere – Para finalizar, nesta sua vasta trajetória, quais foram as suas maiores dificuldades encontradas, de uma forma geral, e quais foram as maiores realizações?

Sabrina – Minha maior dificuldade foi, sem dúvida, a maior realização. Sensibilizar gestores para a importância de uma educação ambiental formal, crítica e emancipatória, constituída através de processos coletivos e participativos. Hoje temos em Taquara a Institucionalização da Educação Ambiental na Secretaria Municipal de Educação, e um programa de Educação Ambiental construído por educadores e comunidade no âmbito do Coletivo Educador Ambiental.

Bere – Finalizando, então, essa gostosa e elucidativa entrevista, deixa-nos uma frase, um pensamento:

Sabrina – "Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã."

- Victor Hugo

Bere – Sabrina, em nome de toda equipe da revista Educação Ambiental em Ação, te agradeço pela sua generosidade por estar compartilhando tantas riquezas da sua trajetória. Tu és uma pessoa inspiradora, que não só “veste a camiseta” da Educação Ambiental, mas a vive, em sua plenitude, parabéns e gratidão!

Bere Adams e Equipe da revista Educação Ambiental em Ação

Endereço de e-mail para contato com Sabrina Amaral <sdsamarall@gmail.com>

Ilustrações: Silvana Santos