Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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26/01/2018 (Nº 62) A EDUCAÇÃO FORMAL COM O AUXÍLIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL.
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A Educação formal com o auxílio da Educação Ambiental em Escola de Educação Infantil.

Lubienska Cristina Lucas Jaquiê Ribeiro1, Hadassa Hadassa Letícia de Oliveira2, Bárbara Caroline de Freitas Pantaleão3, Juliana Gonçalves4, Maria Gracia Villanueva Woo5

1 Professora Doutora da Universidade Estadual de Campinas

Rua Sumatra, 423, Residencial Ilha de Bali, CEP: 13482-870, Limeira, SP

(lubi@ft.unicamp.br)

2 Aluna de Graduação da Universidade Estadual de Campinas (haddyoliveira@gmail.com)

3,4,5 Aluna de Mestrado Interdisciplinar da Universidade Estadual de Campinas (barbara2212@gmail.com, julianamovel@gmail.com, graciavillanuevawoo@gmail.com)

Resumo: Fortalecer ações voltadas à qualificação da educação formal e o respeito ao meio ambiente são pontos prioritários para atingir a melhoria esperada para a educação no país. Acredita-se que utilizar a Educação Ambiental (EA), conforme Lei Federal nº9.795/99, na Educação Infantil (EI) o indivíduo pode exercitar a cidadania, desenvolver a solidariedade, o respeito e a responsabilidade, através do desenvolvimento de valores éticos e morais, compreendendo que são seres dignos de direitos e deveres. Esta proposta tem como objetivo ações que busca motivar professores da EI, entorno de ações de preservação e multiplicação de conhecimentos através da sensibilização e conscientização dos alunos na preservação do meio ambiente. Verificou-se que a EA efetivamente inserida na educação formal, pode contribuir para uma real mudança do indivíduo como ser transformador do meio ambiente.

Palavras chaves: Cidadania. Conscientização. Ética.

Abstract: Strengthen actions aimed at qualification of formal education and respect for the environment are priority issues for achieving the expected improvement to education in the country. It is believed that using the Environmental Education (EE), as Federal Law nº9.795/99, in Early Childhood Education (CE) the individual can exercise citizenship, develop solidarity, respect and responsibility through the development of ethical values and moral, understanding that are beings worthy of rights and duties. This proposal aims to actions that seeks to motivate teachers CE, environment preservation actions and multiplication of knowledge through awareness and awareness of students in environmental conservation. It was found that the EE effectively inserted into formal education can contribute to real change from the individual as a transformer environment.

Keywords: Citizenship. Awareness. Ethic.

Introdução

Pensar as razões que levam pesquisadores a pesquisar, a investigar é um questionamento com que nos deparamos frequentemente. Estas razões podem estar relacionadas às profundas mudanças verificadas no mundo atual. Alarcão (2001) nos mostra que podemos encontrar diferentes respostas, dentre elas podemos destacar a criação de conhecimento que possa ajudar no trabalho de profissionais ou até mesmo que possa melhorar a vida em sociedade. Quando pesquisamos, não podemos deixar de reconhecer e aceitar a complexidade da realidade. No que se refere a educação formal precisamos rever os saberes que estão envolvidos no processo educativo na formação das nossas crianças. Acredita-se que unir ensino e pesquisa é buscar a transformação das práticas pedagógicas nas escolas (ENS, PLOHARSKI e SALLES, 2001).

Ao falarmos em educação no Brasil é sempre oportuno retomar Paulo Freire, seu conceito de educação refere-se precisamente à ação simultaneamente reflexiva e dialógica, mediatizada pelo mundo, que possui na transformação permanente das condições de vida (objetivas e simbólicas), o meio para a conscientização, o aprender a saber e agir de educadores/educandos (LOUREIRO, 2004).

A educação é um dos meios de atuação pelos quais nos realizamos como seres em sociedade ao nos propiciar vivências de percepção, ao exercitarmos nossa capacidade de definirmos conjuntamente os melhores caminhos para a sustentabilidade da vida e ao favorecermos a produção de novos conhecimentos que nos permitam refletir criticamente sobre o que fazemos no cotidiano. A educação que nos referimos aqui ocorre quando estabelecemos meios de superação da dominação e exclusão, tanto em relação a nossos grupos sociais quanto em relação aos demais seres vivos e à natureza enquanto totalidade (DUARTE, 2002).

Investir em um sistema de educação para uma vida sustentável envolve uma pedagogia centrada na compreensão da vida, uma experiência de aprendizagem no mundo real que supere a nossa alienação da natureza e reacenda o senso de participação e um currículo que ensine às nossas crianças os princípios básicos de cidadania. Para Paulo Freire o conceito de educação é compatível com o de educação ambiental. A proposta básica da Educação Ambiental (EA) é o desafio contemporâneo de repensar as relações entre sociedade e natureza (CARVALHO, 2000; JACOBI, 2003).

Educação Ambiental (EA) é o nome que historicamente se convencionou dar às práticas educativas relacionadas à questão ambiental. Assim, EA designa uma qualidade especial que define uma classe de características que juntas, permitem o reconhecimento de sua identidade, diante de uma Educação que antes não era ambiental (LAYRARQUES, 2004).

Como agentes de mudanças, a escola determina não só o material curricular, mas indiretamente os hábitos das crianças. Fazer a troca de estilos e apresentar a diversidade são objetivos da EA na escola, e tem como finalidade fazer esse ambiente não só como agente, mas também objeto de mudança de ideias teóricas estudadas por Greig, Pike e Selby (1989) sobre educação que preveem uma mudança tanto nas atitudes individuais e coletivas, quanto no processo emocional.

Para as crianças na Educação Infantil tomar decisões racionais ainda não foi exercitado por causa da idade e a mentalidade cognitiva, por isso o auxílio dos monitores, professores e agentes externos como os funcionários da escola é muito importante para orientar as consequências de cada ação, o que permite mudanças emocionais nas crianças. Como o processo das emoções reage diretamente nas tomadas de decisões juntamente com a racionalidade, saber conceitos sobre natureza e poluição afeta o psicológico do indivíduo, que responde a essa problemática como consequência do raciocínio e seus sentimentos (GOLEMAN, 1996).

As temáticas: direito humanos, sustentabilidade, problemáticas ambientais e a percepção como seres vivos, introduzem ao universo das crianças uma responsabilidade individual e coletiva. Portanto, o conteúdo a ser trabalho deve ser bem avaliado, por se tratar de uma instituição escolar, logo deve existir uma permissão legal sobre os assuntos levados em sala. É nesse sentido que a EA mais conservadora é abordada, pois ela deve englobar as questões mais óbvias dos aspectos curriculares da escola, de como e por qual série, disciplina ou professor a ser abordada, mas também ir de encontro a outra postura que seria o papel da escola na sociedade não como produtora de problemas e peso, e sim como unidade de melhoria e redução dos impactos socio-ambientais (ANDRADE, 2000).

Andrade (2000) ainda diz que a EA interpreta a escola como unidade impactante, sua influência teria tal peso que demonstra autoridade. Para que essa autoridade não seja vista de forma impositora e predatória ao meio ambiente é preciso abordar novos temas que possam diminuir essa influência e transformá-la em benéfica.

[...]as mudanças na escola devem acontecer de forma contínua e progressiva, a partir das possibilidades de serem levadas adiante. Isto é de extrema importância, pois diminui a pressão sobre os atores envolvidos de que todas as mudanças precisarão ocorrer o mais rápido possível e de forma simultânea. Ao contrário, acreditamos, já que estamos tratando de uma mudança de paradigma, ou seja, de comportamento, que tal mudança deve ocorrer de forma paulatina, e então, à medida que estas inovações se tornem naturais, outras sejam pesquisadas e implementadas, em um longo e contínuo processo, cujo objetivo maior é o de sempre reduzir os impactos causados pela escola (ANDRADE, 2000, p.4).

Charlot (2013) afirmar que a educação ambiental, “contribui para a formação de um espírito crítico e de um indivíduo solidário com os demais seres humanos, as demais espécies vivas e o Planeta Terra”. Para Ribeiro e Pires (2016) as aquisições cognitivas no ser humano ocorrem por meio das relações práticas e verbais que existem entre a criança, as pessoas e o ambiente que a cerca. 

Assim, este trabalho de pesquisa teve como objetivo a realização de uma ação contínua junto a EMEI Teresa Veronesi D'Andrea para motivar professores, monitores e funcionários entorno de ações de preservação e multiplicação de conhecimentos através da sensibilização e conscientização de seus alunos na preservação do meio ambiente utilizando atividades de EA, na busca pela melhoria da educação. Baseado em Ribeiro e Pires (2016) os conteúdos visaram estimular o interesse, a curiosidade, o espírito de investigação e a capacidade de resolver problemas, estimulando a educação social por meio da conquista pelo senso crítico e o posicionamento, através da abordagem de temas atuais que envolvem quebra de tabus, pré-conceitos, direitos e deveres. É uma pesquisa de natureza quali-quantitativa, envolvendo pesquisa-ação-participativa e procedimentos descritivos, realizados através de conhecimento empírico e pesquisa de campo.

Metodologia

A ideia de ciência e de pesquisa da modernidade sofre mudanças vem sendo vislumbrada por um outro sentido em que a ciência da verdade absoluta e definitiva é substituída pela “busca da verdade”. Assim, esse trabalho entende pesquisa como busca investigativa, como situação reflexiva, como um desejo de conhecer e “ver” além das aparências tentando aproximar-se da verdade presenciada.

A primeira etapa da metodologia desta pesquisa está em motivar professores, monitores e funcionários para mudança de paradigma na escola, de modo a possibilitar articulação entre o conhecimento da academia com os conhecimentos produzidos pelos professores especialistas de ensino em suas práticas pedagógicas, visando mudanças efetivas no ensino praticado em nossas escolas. Contribuindo para que se tenha uma mudança contínua e progressiva na comunidade, esta etapa está apoiada em bases qualitativas, que considera a existência de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, ela é descritiva e utiliza o método indutivo, o processo é o foco principal. Segundo Ludke e André (1986) envolve a aquisição de dados descritivos, obtidos por contato direto com os objetos da pesquisa, destacando a observação através de processos da interação social: os conhecimentos, as ideias, técnicas, habilidades, normas de comportamento e hábitos adquiridos na vida social de um povo. É na pesquisa qualitativa que se descobre quais dados são importantes para a EA, identificando questões e a extensão total de respostas em uma dada população.

Como segunda etapa, a metodologia se apoia em bases quantitativas, com o intuito de gerar medidas precisas e confiáveis que se permita análise estatística, podendo ser apresentada em dados absolutos ou percentuais. A pesquisa quantitativa é apropriada para medir tanto opiniões, atitudes e preferências como comportamentos (GARAVELLO, 2009).

Para a realização da pesquisa com base quali-quantitativa, serão utilizados procedimentos descritivos e a pesquisa-ação-participativa, que segundo Thiollent (1992) é uma pesquisa social, com base empírica, concebida e realizada em estreita associação com uma ação e no qual os pesquisadores e participantes representativos da situação estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Com base no conhecimento empírico e pesquisa de campo sabe-se que uma determinada ação provoca uma reação, sem que, contudo, se saiba qual o mecanismo que leva da ação à reação. Sendo o conhecimento empírico adquirido de forma ingênua, através da mera observação e com base em deduções simples, é por vezes passível de erro.

A população alvo foi a EMEI Teresa Veronesi D’Andrea, localizada no município de Limeira – SP, a escola pode ser observada na figura 1.

Figura 1: EMEI Teresa Veronesi D’Andrea, localizada no município de Limeira.

Fonte: Ecoedu, 2017.

Para a pesquisa, foram utilizadas todas as salas da Escola, totalizando 132 alunos, conforme tabela 1. Os funcionários totalizam 25, sendo: 9 professores, 4 monitores, 3 merendeiras, 4 auxiliares, 2 secretários e 3 gestores. A confiança e apoio dos pais na Escola foi fundamental para a execução do projeto.

Tabela 1: População alvo trabalhada na EMEI Teresa Veronesi D’Andrea.

Sala

Nº de alunos

Maternal II - A

15

Maternal II - B

14

Maternal II -C

15

1ª Etapa - A

16

1ª Etapa - B

19

1ª Etapa - C

21

2ª Etapa - A

15

2ª Etapa - B

17

Total

132

Fonte: Ecoedu, 2017.

Figura 2: Apoio e confiança dos pais na EMEI para realização do projeto na escola.

Fonte: Ecoedu, 2017.

Os princípios pedagógicos que fundamentam a prática educativa estão baseados nas teorias de Jean Piaget e Vygotsky. Os princípios pedagógicos de Jean Piaget que são trabalhados: (1) o conhecimento não é adquirido como uma simples cópia da realidade, mas consiste na interpretação do real, de acordo com as estruturas cognitivas que o sujeito possui, através de um processo de construção; (2) O desenvolvimento da inteligência se dá por um processo contínuo, no qual se distinguem estágios, cuja ordem de sucessão é constante e invariável para todas as culturas; (3) As trocas sociais (interação social), que a criança realiza com seus pares e com os adultos desempenham papel importante no seu desenvolvimento e (4) A atividade lúdica é de fundamental importância para a criança pré-escolar. Os princípios pedagógicos de Vygotsky que são trabalhados: (1) o desenvolvimento cognitivo se dá a partir de sua interação com outros indivíduos e com o meio, trocando experiências e ideias, sendo a aprendizagem uma experiência social medida pela interação entre a linguagem e a ação; (2) a aprendizagem acontece dentro da zona proximal, distância entre o que o indivíduo já sabe, real, e o potencial de aprendizagem dele com os outros, seu conhecimento potencial. Todos os princípios são norteados por aspectos afetivo, social, cognitivo e perceptivo-motor.

Para o desenvolvimento da EA, foi utilizada a EA que encara a realidade como processo e não como algo estático, remete-nos a um tipo de pesquisa em que se estabelece uma integração entre o pesquisador, os sujeitos da pesquisa e o próprio meio ambiente, com propostas de modificação da realidade. Assim, professores e alunos das escolas são sujeitos potenciais desse modo de ver e fazer a pesquisa. A abordagem interdisciplinar e a transdisciplinar da educação ambiental suscita uma compreensão da realidade de modo complexo, pois quanto mais descobrimos mais nos damos conta da nossa limitação.

Resultados e Discussões

Foi iniciada a articulação entre Academia e Escola, o mérito maior pode-se dizer que está na direção da Escola, que na busca constante pela melhoria da educação acreditou no projeto proposto e não mediu esforços para sua realização. Iniciou-se então diálogos entre direção, equipe da escola e pais na tentativa de fazer o projeto acontecer. Todos assumiram participação no projeto através de termos de ciência e de registros nas atas do Conselho de Escola que aprovou o desenvolvimento do referido projeto.

Os professores se mostraram muito receptivos, mas ainda muito assustados com a proposta, mudanças aconteceriam e a perspectiva do que resultaria era incerta. Isso, inicialmente, gerou certa insegurança visto que a educação ambiental não era trabalhada de forma efetiva no processo de ensino na escola. Dessa articulação resultaram documentos, definidos e aprovados por todos, para acompanhamento de todo o processo que seria realizado. Os documentos são:

- documento de rotina diária de cada aula: nesse documento era possível visualizar como seria a programação da aula, sempre iniciando com a roda da conversa onde junto com os alunos era feito um entendimento do que seria trabalhado, posteriormente descrito qual seria a atividade coletiva que seria realizada, as atividades diversificadas e finalmente a atividade final;

- documento referente aos objetivos gerais de cada aula: cada aula tinha seus objetivos gerais, onde seriam relacionados aos aspectos afetivo, social, cognitivo e perceptivo motor;

- documento referente aos objetivos específicos: que também para cada aula relacionava os aspectos afetivo, social, cognitivo e perceptivo motor;

- documento de avaliação do diretor ou coordenador pedagógico sobre a aula que aconteceu;

- e um documento de observação do responsável pela aula sobre o comportamento das crianças (se houve algum destaque), sobre a aula (se teve alguma mudança e comentários gerais), algum problema de execução e qual foi, problemas com quem ministrou a aula e outras observações relevantes para o grupo.

Assumiu-se uma real parceria entre Universidade-Escola de forma a se alinhar com as propostas de ensino-aprendizagem de natureza construtivista ou sócio-construtivista, através de práticas de educação ambiental, em que as experiências e conhecimentos cotidianos dos estudantes são ensejos especiais e ponto de partida para deflagrar os processos de transformação/construção de suas estruturas intelectuais e cognitivas. Portanto, a EA desenvolvida aqui trabalhou com noções, conceitos e princípios das mais diferentes áreas. E isso só foi possível porque a metodologia de EA trabalha com a ideia de rede, que se caracteriza como uma verdadeira trama de conhecimentos, conhecimento esse que está constantemente em movimento, ou seja, contínuo processo de transformação, sem territórios previamente marcados, diretamente ligado a transversalidade. A EA é marcada pela participação, pela interação e pela emancipação.

Trata-se, tanto para Universidade, para os professores da escola como para seus respectivos alunos, de um processo de formação contínua, de ininterrupto procedimento de ação/reflexão. Tornam-se agentes reflexivos de sua ação pedagógica ou de seus processos formativos, passando a buscar autonomamente subsídios teóricos e práticos para iluminar questões decorrentes de sua reflexão, voltando, posteriormente, para novas ações que sofrerão novas reflexões e assim sucessivamente.

Na sala de aula as articulações entre saberes e fazeres ocorrem frequentemente. Assim, as crianças foram motivadas, em todas as atividades, a desenvolverem suas habilidades para que elas tivessem à oportunidade de conhecer seus dons e permitindo que elas enxergassem, dentro de suas limitações, sua capacidade de aprender os conteúdos abordados, que antes eram meramente informativos e que, agora, passaram a ser entendidos pelas crianças através da EA, figura 3.

Partindo dos conteúdos existentes no Currículo da Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino de Limeira, o Projeto Horta foi implantado com vistas a trazer para o contexto escolar práticas diferenciadas de educação ambiental que propiciassem uma mudança efetiva no comportamento das crianças, figura 4. Uma das premissas era de que o trabalho deveria ser integrado e que permeassem o maior número de disciplinas possível, desse modo, a EA passou a ser a guia mestra do desenvolvimento de diversos conteúdos e disciplinas. Surgiu, portanto, uma mudança efetiva nas práticas de educação ambiental na escola. Estruturar e pensar dessa maneira exigiu um esforço teórico para além das amarras e fronteiras já estabelecidas entre os conteúdos, exigiu um engajamento da EMEI no desenvolvimento de um trabalho mais coletivo. Ocorreu o envolvimento de 100% da escola e ainda, mesmo sem esta perspectiva uma participação de mais de 50% dos responsáveis pelas crianças.

Nas aulas desenvolvidas pelo projeto (artes, música, horta e reforço escolar) os conteúdos de ciências, matemática, português, dentre outras disciplinas passaram a ser ensinados dentro da visão da EA. Convêm ressaltar, que a construção da horta contou com a participação de toda a escola e colaborou para que o trabalho fosse desenvolvido.

Figura 3: Atividades desenvolvidas nas aulas da EMEI.

Fonte: Ecoedu, 2017.

Figura 4: A horta e o dia-a-dia da Escola.

Fonte: Ecoedu, 2017.

No que diz respeito aos alunos, foram desenvolvidas nas crianças habilidades necessárias para que elas pudessem acompanhar o processo de alfabetização, sem discriminação, trabalhando perspectivas de crescimento e ao mesmo tempo impondo limites. Promoveu-se o coleguismo e as práticas grupais entre as crianças, por meio da realização de atividades em grupo e atividades recreativas durante todo o projeto, tendo como base o conceito da Educação Ambiental vivencial.

Acrescentou-se ao cotidiano da escola a música e a educação nutricional. A música se mostrou como grande potencializadora da absorção dos conteúdos, figura 5. Ela, aliada a EA, possibilitou facilitar a concretização dos conceitos de difícil compreensão, pois os assuntos tratados passaram a ganhar corpo e forma na imaginação das crianças. Aprender com a música significou aprender a ouvir, a deixar-se mover pelos sons do cotidiano, estimular tanto o processo expressivo como o desejo real de recriar o modo onde vivemos. Acredita-se que, uma maneira de envolver a saúde cognitiva com a vivência de experiências na infância é com a música. Segundo Woo et al (2016) a música e a EA no processo de aprendizagem contínua podem trazer grandes benefícios para a melhoria da educação na escola de educação infantil, o que pode acarretar automaticamente a melhoria da educação para as etapas seguintes o que leva, se seguida por todas as escolas, a melhoria da educação no país.

Figura 5: Atividades de música.

Fonte: Ecoedu, 2017.

A educação nutricional (EN) junto com a EA, foi muito relevante, pode proporcionar a responsabilidade e o crescimento individual da criança porque ajudou na formação de seus padrões alimentares, de forma a proporcionar uma vida mais saudável que certamente será passada adiante, figura 6. Segundo Ribeiro et al (2016) o uso da EA e da EN como práticas educativas na educação assume um papel cada vez mais desafiador. Mostra uma demanda emergente de novos saberes para empreender processos alimentares, sociais, ambientais e educativos cada vez mais complexos. O repensar as práticas educativas pode trazer múltiplas possibilidades para melhoria da educação no país.

Todas as ações de mudanças realizadas no coração da EMEI, vem com o intuito de propiciar a todos um desenvolvimento global em todos os aspectos, de forma á permitir a autonomia intelectual, socialização, aquisição e construção do próprio conhecimento, aquisição do senso de responsabilidade, respeito ao indivíduo e ao estágio de desenvolvimento de cada um. O desenvolvimento foi considerado em seu aspecto afetivo, social, cognitivo e perceptivo-motor.

Figura 6: Atividades de nutrição.

Fonte: Ecoedu, 2017.

No aspecto afetivo pode ser verificado o desenvolvimento de uma imagem cada vez mais positiva nas crianças, com maior segurança ao expressar seus sentimentos, buscando ser aceita pelos colegas, o que possibilitou a realização de escolhas ao longo das atividades, sendo cada vez mais independentes, curiosas e criativas. No aspecto social, elas puderam estabelecer trocas sociais com base na solidariedade, cooperando entre si e sempre respeitando as regras de convivência. No cognitivo elas puderam conhecer melhor o meio físico e social que as cerca o que estimulou o seu pensar. O perceptivo-motor trabalhado com afinco estimulou a coordenação motora dos alunos que nessa etapa é de extrema importância para auxiliar no desempenho em sua interação com o mundo.

A horta foi estabelecida na escola e foi adotada por todos desta comunidade. A EA na EMEI com o Projeto Horta, passou a formar crianças mediadoras e multiplicadoras da preservação e respeito ao meio ambiente, incentivando a participarem do processo de construção do conhecimento de crianças protagonistas. Elas levaram seu aprendizado para casa e comunidade em geral. Formando uma rede de aprendizado. Proporcionou para as crianças, envolvidas no projeto, um laboratório de aprendizagem, sendo catalisadores dos processos de desenvolvimento local e sustentável para este grupo social. Tudo isso pode ser estendido a todas as pessoas que participaram, desde professores e funcionários de toda a escola.

Com o desenvolvimento dessa pesquisa foi possível notar uma diferença no comportamento das crianças e da escola como um todo, que passaram a perceber e reparar no meio ambiente em que estão inseridos. Como o processo é contínuo as ações continuam acontecendo e os resultados são cada vez mais positivos. A Escola passou a adotar essas novas práticas. Para o ano segunte foi realizado uma abertura oficial junto aos pais, alunos e funcionários e o projeto passou a integrar a Escola, figura 7.

Figura 7: Abertura do projeto para o ano seguinte.

Fonte: Ecoedu, 2017.

Conclusões

Para a efetivação da proposta, o projeto utilizou o conceito de trabalho em rede, onde teceu junto à sociedade referências participativas na formação e no desenvolvimento das crianças; a escola em seu papel de receptora e disseminadora da proposta, os professores como motivadores das atividades, as crianças como protagonistas, condutores da ideia e da metodologia, assimiladores e agentes de transformações, criando com isso uma verdadeira comunidade de propósitos. O fortalecimento das ações voltadas à qualificação da educação formal foi o foco de todos nós.

A pesquisa utilizou como referência projetos de educação ambiental, técnicas de mediação e exploração da educação infantil, música, educação nutricional e uma gama de atividades lúdicas, recreativas e educativas o projeto teve como objetivo ajudar na inclusão social das crianças, inserindo a criança e o formador em um mundo de possibilidades de participação ativa na formação de uma cultura de pensadores, de socialização e de melhoria do rendimento escolar, uma vez que cada indivíduo participante percebe-se integrante, dependente e agente de transformações positivas na sociedade e em seu meio.

Que estas pessoas possam também criar vínculo com a aprendizagem, vivenciando o prazer de “aprender a conhecer” e de “aprender a fazer” abrangendo de maneira holística o verdadeiro significado do educar-se. Que possam valorizar as experiências vivenciadas por si e produzidas pelos outros, podendo multiplicá-las e valorizá-las.

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Ilustrações: Silvana Santos