Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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26/01/2018 (Nº 62) EDUCAÇÃO E INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL EM TRILHAS ECOLÓGICAS DE UMA ÁREA DE ECÓTONO NO NORDESTE BRASILEIRO
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EDUCAÇÃO E INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL EM TRILHAS ECOLÓGICAS DE UMA ÁREA DE ECÓTONO NO NORDESTE BRASILEIRO

Adrielly da Silva Vieira1, André Bastos da Silva2, Clarissa Gomes Reis Lopes3 e Patrícia Maria Martins Nápolis3,4

1. Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portella, Teresina, PI, Brasil.

2. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Núcleo de Referências em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste, Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portella.

3. Docente do Curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Universidade Federal do Piauí, Campus Ministro Petrônio Portella.

4. E-mail para correspondência: pnapolis@uol.com.br

RESUMO: Esse trabalho teve como objetivos elaborar Pontos Interpretativos em trilhas ecológicas de uma zona de ecótono situada em Teresina, Piauí, no meio-norte do Brasil. Foram feitos escolha, mapeamento e descrição dos pontos interpretativos selecionados usando a metodologia de Indicadores de Atratividade de Pontos Interpretativos (IAPI). Tendo como resultados 14 pontos interpretativos distribuídos em três trilhas: trilha da Lagoa, trilha da Abelha e do Babaçu. A vivência na trilha foi necessária para adquirir conhecimentos da flora e fauna do local, estabelecendo uma conexão com a Educação Ambiental, além dessa pesquisa permitir a divulgação da Interpretação Ambiental às disciplinas dos cursos de graduação da UFPI com a temática meio ambiente, proporcionando e oportunizando a realização de aulas práticas de campo.

Palavras-chave: Trilhas. Interpretação Ambiental. Trilhas Interpretativas.

ABSTRACT: This paper aimed to elaborate Interpretative Points in ecological trails of ecotone zone located in Teresina, Piauí, Brazil. It was made choices, mapping, and description of the selected interpretative points using the Indicators of Interpretive Points Attractiveness methodology (IAPI). The results indicate 14 interpretative points distributed in three trails: Lagoon Trail, Bee Trail, and Babaçu Trail. The experience on the trail was necessary to acquire knowledge about flora and fauna of the location, establishing a connection with Environmental Education. In addition, this research allows the dissemination of the Environmental Interpretation to the subjects of the UFPI's undergraduate courses with the environmental theme, providing and giving an opportunity to the accomplishment of practical classes in the field.

Keywords: Trails. Environmental Interpretation. Interpretive trails.

INTRODUÇÃO

As trilhas estão entre os principais mecanismos de contato do homem com a natureza, de forma a desenvolver a sensibilização e a conscientização no que diz respeito à preservação de áreas naturais (ANDRADE, 2007). Estes espaços são utilizados para a contemplação da natureza, práticas de esportes radicais, recreação e ecoturismo, além de servir como via de condução a ambientais naturais (COSTA et al. 2008, GUALTIERIPINTO et al. 2008). Atualmente as trilhas são usadas com o objetivo de sensibilizar e educar aqueles que as percorrem (PROJETO DOCES MATAS, 2002), sendo uma alternativa para mostrar a importância dos ambientes naturais por meio da Educação Ambiental (COSTA, 2006).

Nas trilhas ecológicas a Interpretação Ambiental (IA) é um instrumento educativo capaz de agregar valor à experiência do observador, de contribuir para a formação de uma consciência ambiental, no ordenamento da visitação e na minimização de seus impactos negativos (IKEMOTO, 2008). Embora a interpretação do ambiente seja menos popularizada do que a Educação Ambiental, ela vem ganhando espaço em programas educacionais diversos, como o turismo, uma vez que possui cunho educativo e recreativo (IKEMOTO et al., 2009). No Brasil, por exemplo, só foi possível se pensar em um sistema de trilhas a partir da criação do Parque Nacional de Itatiaia no ano de 1937 (CAMPOS; FEREIRA, 2006).

O Piauí é o Estado do meio-norte do Brasil conhecido pela extensa zona de ecótono influenciada pela Floresta Amazônica, Cerrado e Caatinga (SOUSA et al., 2009) e abrange áreas fito-ecológicas compostas de formações florestais (semidecidual e dicótilo-palmacea), cerrado, caatinga e outras formações lenhosas incluindo áreas de transição ecológica (JACOMINE et al., 1986). Nesta região o uso de trilhas ecológicas como ferramentas de educação e interpretação ambiental pode ser observado em unidades de conservação (e.g.: FEITOSA et al., 2013).

Considerando as trilhas interpretativas como um caminho para a mitigação dos impactos do uso público por terem alto potencial para motivar o entendimento crítico sobre ambientes naturais e favorecer ações de conservação da natureza (BARCELLOS et al, 2013), este estudo teve por objetivo elaborar pontos interpretativos em trilhas ecológicas inseridas em um remanescente florestal situado na zona urbana de Teresina-PI, no Nordeste brasileiro.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estudo foi desenvolvido no campus Ministro Petrônio Portella da Universidade Federal do Piauí (5°3'35.50"S; 42°48'12.31"W) situado em Teresina, capital do estado do Piauí. Este município possui uma área de 1.391,981 km2 e um total estimado de 850.198 habitantes (IBGE, 2017). O clima da região é quente e úmido, segundo a classificação de Köppen (JACOMINE et al., 1986) e apresenta médias anuais de precipitação de 1.393,2 mm, temperatura de 27,7ºC e duas estações bem definidas (estiagem de junho a outubro e cheia de novembro a maio) (INMET, 2017).

As unidades fito-ecológicas predominantes são florestas estacionais semidecidual e dicótilo-palmácea com babaçu (Attalea speciosa Mart. ex Spreng), além de Cerrado e suas transições (ecótono) para floresta e Caatinga (JACOMINE et al., 1986). Os solos da região predominantes são Latossolos Amarelos e Podzólicos Vermelho – Amarelo que possuem maior acidez e baixa fertilidade, mas, pode se encontrar os solos do tipo Brunizem Avermelhado que tem baixa acidez, alto teor de argila e possuem elevado valor nutricional (FORTES, 2010).

Indicadores de Atratividade de Pontos Interpretativos (IAPI)

Esse trabalho tem sua metodologia baseada na simplificação feita por Vascocellos (2006) do método de Indicadores de Atratividade de Pontos Interpretativos (IAPI) criado por Magro e Freixêdas (1998) para facilitar a seleção de pontos interpretativos. O IAPI é constituído de cinco fases segundo Magro e Freixêdas (1998), ao passo que Vasconcellos (2006) considera este método sendo composto por quatro fases, descritas a seguir:

  1. Fase 1 (levantamento dos pontos potenciais para a interpretação): Depois de selecionado o tema e feito um inventário do que é mais importante para interpretação ao longo da trilha. Inicia-se a seleção dos pontos potenciais para interpretação e esses devem ser enumerados.

  1. Fase 2 (levantamento e seleção de indicadores): Indicadores de atratividade são elementos ou recursos visíveis encontrados em cada ponto potencial para interpretação selecionado. Nessa fase é feito um levantamento desses indicadores que devem estar visíveis para que um outro observador possa avaliá-los. Simplificadamente pode-se trabalhar com três indicadores: diversidade, beleza e conforto. Sendo que a diversidade pode se referir a paisagens, seres, cores e etc. A beleza é bem subjetiva e deve ser avaliada por mais de uma pessoa e o conforto refere-se a largura da trilha, sons agradáveis, ausência de insetos ou de plantas urticantes, com espinhos e etc.

  1. Fase 3 (elaboração da ficha de campo): A ficha de campo mostra quais os indicadores existentes em cada ponto potencial para interpretação. Valores de 1 a 3 serão atribuídos para cada um dos indicadores existentes nos pontos com base na sua relevância para a qualidade da experiência do visitante.

  1. Fase 4 (seleção final): Nessa fase ocorre a comparação dos resultados dos pontos potenciais para interpretação para cada um dos subtemas ajudando na seleção final. Geralmente são selecionados aqueles pontos que dentro do mesmo assunto tiveram pontuação maior na ficha de campo.

A implantação das trilhas deu-se no período de outubro de 2014 a maio de 2015 pelo Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Etnoconhecimento (GPEEA). Para o desenvolvimento desse trabalho foram realizadas visitas semanais a campo durante um período de dez meses. Essas visitas visaram realizar atividades de implantação, manejo e a análise do local nos períodos de seca e chuvoso, além da análise de potenciais pontos interpretativos até sua escolha por definitivo com auxílio de uma ficha de campo. Muitas vezes a interpretação é planejada em trilhas já existentes, mas quando os educadores intérpretes participam desde o processo de implantação da trilha, podem incluir novos critérios de decisão (VASCONCELLOS, 2006).

Após o término da implantação das trilhas, ocorreu a escolha dos pontos interpretativos durante as primeiras semanas de junho de 2015. O percurso da trilha e cada ponto interpretativo georreferenciados com receptor de satélite Garmim (Figura 1). É importante enfatizar que as denominações e as informações descritas são de cunho didático, mesmo porque, a interpretação ambiental deve ter uma linguagem informal e acessível a todos independentemente da idade e do grau de instrução do visitante.

Figura1. Mapa da área das trilhas com os pontos interpretativos selecionados.

Fonte: Google Earth (2017).

Todos os pontos interpretativos escolhidos foram descritos separadamente, organizados por trilha, enumerados e com suas respectivas denominações. Na sessão “Trilha da Lagoa/trilha do Babaçu” estão descritos os pontos selecionados que são compartilhados pela Trilha da Lagoa e do Babaçu. Na “Trilha do Babaçu” estão descritos os pontos da trilha do babaçu que não são compartilhados com a Trilha da Lagoa. Nesta última, estão os pontos da Trilha da Lagoa que não são compartilhados com a Trilha do Babaçu. Na “Trilha da Abelha” consta o ponto de entrada em comum com as outras trilhas e como este foi o primeiro ponto a ser descrito, ele não constará entre os pontos dessa trilha.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram selecionados 23 pontos potenciais à interpretação dos quais 15 pontos interpretativos foram escolhidos. Todas as trilhas têm a entrada como ponto em comum. Estes foram distribuídos ao longo de três trilhas (Tabela 1). Na Trilha da Lagoa foram selecionados 10 pontos interpretativos, ao passo que na Trilha do Babaçu foram escolhidos dois pontos e outros seis que esta compartilha com a Trilha da Lagoa, totalizando oito pontos de parada. Já na Trilha da Abelha foram escolhidos três pontos interpretativos.

Tabela 1: Comprimento, Tempo de percurso e grau de dificuldade de cada trilha

Trilha

Tamanho

Tempo de Percurso

Grau de dificuldade

Trilha da Lagoa

1.300 m

1h e 20min

Moderada

Trilha do Babaçu

630 m

30 min

Leve

Trilha da Abelha

130 m

10 min

Leve

Fonte: pesquisa direta.

  • Trilha da Lagoa/Trilha do Babaçu

  1. Ponto 1 (Entrada): neste ponto há uma divisão em que do lado direito existe o acesso a trilha da abelha e do lado esquerdo o acesso as trilhas da Lagoa e do Babaçu. Há uma placa mostrando o mapa das trilhas com o tamanho e o tempo de duração de cada uma. Neste ponto também são explanadas as características da trilha para os visitantes, as informações de segurança necessárias e os cuidados antes do percurso como a verificação da quantidade de visitantes, uso de roupas e calçados adequadas, bem como o uso do repelente (Figura 2-A).

  1. Ponto 2 (Azeitona Roxa): este ponto recebe esse nome por haver uma árvore de azeitona roxa/jamelão, uma espécie exótica entre as plantas do entorno do ponto. Neste trecho existe um alargamento da trilha, o solo é escuro e úmido parcialmente coberto por capim, folhas e galhos de plantas. Existe também uma palmeira caída no chão e a vegetação em volta é mista com árvores de variadas alturas, arbustos e palmeiras. É nesse ponto que o interprete vai fazer uma introdução do tema que será abordado na interpretação. Dependendo do tema abordado o interprete pode aproveitar a presença da palmeira caída e discutir acerca de organismos decompositores e da diversidade das plantas. Mas aqui sugere-se falar sobre a influências das espécies introduzidas no ambiente natural (Figura 2-B).

  1. Ponto 3 (Árvore Mãe): essa denominação foi dada tendo em vista a ocorrência de uma árvore de porte elevado que dá bastante sombra neste trecho, fazendo-se assim uma alusão às árvores que selecionam outras que se desenvolvem a sombra de outras. Neste ponto o solo é escuro e úmido coberto por serapilheira (galhos, folhas, frutos caídos e etc.). A vegetação é composta por árvores e arbustos, sendo ausente espécimes de palmáceas. Há também uma lagoa ao fundo de uma depressão (Figura 2-C).

  1. Ponto 4 (Palmeiras): o ponto das palmeiras fica à direita da trilha e a esquerda avista-se a lagoa próxima ao local. Nesse ponto o solo não é tão seco, levemente mais arenoso, provavelmente por ter sofrido com queimadas e, por isso, há grande predominância de palmeiras de variados tamanhos e algumas queimadas também. O que pode chamar atenção visualmente é uma samambaia que cresceu no alto de uma das palmeiras. Ao ver essa relação o interprete, além de poder discutir sobre as palmeiras e seu valor econômico e desenvolvimento em áreas que sofreram ação antrópica, pode discorrer sobre as samambaias e sua reprodução caso seja coerente com seu roteiro (Figura 2-D).

  1. Ponto 5 (Lagoa do Jacaré): o solo é bem úmido e escuro, o interprete pode encontrar pegadas e fezes de animais da fauna silvestre. Esse ponto tem uma vegetação bem diversificada, com presença de cipós e espécimes de palmácea. O maior atrativo desse ponto é a presença de uma lagoa, a qual abriga um jacaré que raramente aparece, mas sempre deixa suas pegadas (Figura 2-E).

  1. Ponto 6 (Pântano): recebe esse nome por ser a área da região que passa mais tempo alagada na época das cheias da lagoa. O solo nesse local é de cor escura, extremamente úmido. A vegetação é composta por espécies arbóreas cujas copas fazem sombra, como a azeitona roxa/jamelão. Esse ponto é divisório entre duas trilhas, sendo que seguindo em frente ela chega aos próximos pontos da trilha do babaçu e seguindo para a direita ela continua a trilha da lagoa (Figura 2-F).

Figura 2. A-F. A. Ponto 1 (Entrada). B. Ponto 2 (Azeitona Roxa). C. Ponto 3 (Árvore Mãe). D. Ponto 4 (Palmeiras). E. Ponto 5 (Lagoa do Jacaré). F. Ponto 6 (Pântano)

Fonte: pesquisa direta.

  • Trilha do Babaçu

  1. Ponto 7 (Mangueira): a denominação desse ponto se deu por conta da presença de indivíduos de mangueiras. O solo é de cor mais clara com poucas plantas rasteiras, poáceas, e presença de serapilheira. Além das mangueiras, outras árvores são observadas até o último ponto interpretativo dessa trilha. Nas proximidades deste ponto aparecem vários fungos de cores e formatos diferentes durante o período chuvoso. É um ótimo espaço para se desenvolver atividades lúdicas, por ser amplo, com poucos obstáculos e a presença de insetos é bem reduzida (Figura 3-A).

  1. Ponto 8 (Babaçu): É a saída da trilha do Babaçu onde o interprete vai concluir a interpretação fazendo um aparato geral do que foi visto no percurso. Nesse ponto o solo é superficialmente arenoso. Existem muitas palmeiras e na época chuvosa o estrato inferior fica coberto por plantas rasteiras, capim e arbustos. Na época da seca predomina o babaçu, por ser uma área que já sofreu com constantes queimadas (Figura 3-B).

Figura 3. A-B. A. Ponto 7 (Mangueira). B. Ponto 8 (Babaçu). Fonte: pesquisa direta

  • Trilha da Lagoa

  1. Ponto 9 (Cerrado): o solo é avermelhado e pouco úmido. Há vestígios da ação do homem na natureza, como tijolos. Nesse ponto avista-se a ponta da lagoa, parte em que a água está mais transparente, onde são observados espécimes de peixe. Percebe-se nitidamente uma transição de vegetação em que no lado da lagoa a vegetação possui árvores altas e de tronco largo com cipós enroscados aos seus galhos. No outro lado vê-se árvores não tão altas, com troncos mais delgados, semelhante à vegetação encontrada no Cerrado, motivo pelo qual este ponto recebeu esse nome (Figura 4-A).

  1. Ponto 10 (Juazeiro): Recebe esse nome por ter um juazeiro próximo ao ponto, o solo dessa área é seco com a presença de tijolos e pedras. A vegetação é predominantemente de árvores de porte mais baixo. O principal atrativo são as ruínas encontradas nesse local que provavelmente era de uma casa que havia ali. Nessa área pode-se trabalhar tanto com a questão do valor econômico do juazeiro, dessa árvore ter dado nome a uma cidade bem famosa e também pode-se trabalhar a ação do homem na natureza (Figura 4-B)

  1. Ponto 11 (Árvores Rainhas): São três árvores que aparecem no fim da trilha, muito próximas entre si, frondosas, altas e com troncos bem largos. Essas árvores são as rainhas que dão nome a esse ponto. O solo e a vegetação predominante são parecidos com os do ponto 9. Aqui pode ser enfatizado a exuberância dessas árvores e fazer especulação de quanto tempo de vida esses indivíduos possuem (Figura 4-C).

  1. Ponto 12 (Árvores Espinhosas): há um predomínio de árvores com espinhos, dando nome ao ponto. Essa área exibe um solo muito seco coberto por folhas, a vegetação e composta por árvores de porte médio, com espinhos, que perdem as suas folhas na época da seca. Esse é o ponto de conclusão da trilha da lagoa, onde ocorre a recapitulação do que foi visto e são feitas perguntas acerca do que o visitante achou da experiência e do local visitado (Figura 4-D).

Figura 4. A-D. A. Ponto 9 (Cerrado). B. Ponto 10 (Juazeiro). C. Ponto 11 (Árvores Rainhas). D. Ponto 12 (Árvores Espinhosas). Fonte: pesquisa direta

  • Trilha da Abelha

  1. Ponto 13 (Ponto da Abelha): este local recebe esse nome devido à existência de uma colmeia de abelhas que foi retirada pelo Grupo de Estudos e Trabalho de Apicultura da UFPI (GTAP). Esse ponto tem o solo úmido, amarronzado e fica próximo a uma depressão que leva a um córrego o qual divide a área da trilha da abelha e da trilha da lagoa. A vegetação é composta por árvores, arbustos e algumas plantas rasteiras. Como a trilha da abelha e voltada para o público infantil é aconselhável fazer atividades lúdicas e de percepção do ambiente, como brincadeiras que usem os cinco sentidos para fazer a criança perceber o ambiente e ter sensações, impressões de forma diferenciada (Figura 5-A).

  1. Ponto 14 (Ponto dos pássaros): esse ponto interpretativo recebe essa denominação por ser possível avistar aves nos galhos mais baixos das árvores. O solo dessa área tem cor marrom escuro, é úmido e com várias raízes e vegetação rasteira, além de folhas e galhos e gravetos. A vegetação é composta por árvores, arbusto e algumas palmeiras. Nesse ponto pode se trabalhar o sentido da audição das crianças fazendo jogos lúdicos estimulando a percepção da natureza (Figura 5-B).

  1. Ponto 15 (Ponto do Lagarto): Ponto de conclusão da trilha, onde o interprete vai revisar o que foi visto de mais interessante, vai interligar esses assuntos concluindo a visita a partir de tudo que foi dito e percebido. É aqui também que se fazem perguntas sobre o que as crianças mais gostaram na trilha, se elas gostaram do passeio e gostariam de retornar. Esse ponto recebeu tal denominação por corriqueiramente serem avistados pequenos lagartos pelo chão e nos troncos das árvores (Figura 5-C).

Figura 5. A-C. A. Ponto 13 (Ponto da Abelha). Ponto 14 (Ponto dos pássaros). Ponto 15 (Ponto do Lagarto). Fonte: pesquisa direta.

CONCLUSÕES

O método Indicadores de Atratividade de Pontos Interpretativos criado por Magro e Freixêdas (1998) e adaptado por Vasconcellos (2006) facilitou as escolhas dos pontos interpretativos dessas trilhas, otimizando o tempo gasto para análises da área, sendo que a pontuação da ficha de campo foi determinante para a escolha de cada ponto interpretativo. Embora alguns pontos interpretativos não apresentaram pontuações maiores na ficha de campo nos indicadores conforto, beleza ou diversidade, eles foram selecionados por serem importantes para o tema da interpretação ou por serem o acesso a saída das trilhas.

As experiências e vivências acumuladas desde a implantação da trilha levou a maior grau de conhecimento sobre a área por observação, a maior facilidade para o desenvolvimento da descrição dos pontos e principalmente foi determinante para a escolha de critérios a serem utilizados para a seleção dos pontos interpretativos. Portanto, este estudo poderá ser usado por alunos, professores e toda comunidade afim de tornar a interpretação ambiental mais popular, no intuito de difundi-la na cidade de Teresina por meio das escolas e da própria Universidade.

REFERÊNCIAS

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Ilustrações: Silvana Santos