Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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26/01/2018 (Nº 62) LIXO ELETRÔNICO: UMA ANÁLISE DO DESCARTE NAS ORGANIZAÇÕES PRIVADAS DO MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL, RIO GRANDE DO SUL
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LIXO ELETRÔNICO: UMA ANÁLISE DO DESCARTE NAS ORGANIZAÇÕES PRIVADAS DO MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL, RIO GRANDE DO SUL

BARRETO¹, Felipe Elsemann; BARATA², Ana Júlia Senna Sarmento.

¹ Graduando em Gestão Ambiental – Universidade Federal do Pampa – UNIPAMPA (feebarreto@gmail.com). Avenida Antônio Trilha, 1847. São Gabriel (RS). Telefone: (055) 32370851. Cep: 97300-000.

² Doutora em Agronegócios (anasena@unipampa.edu.br). Professora Associada da Universidade Federal do Pampa. Avenida Antônio Trilha, 1847. São Gabriel (RS). Telefone: (055) 32370851. Cep: 97300-000.

RESUMO

Devido ao exponencial aumento das inovações, as tecnologias têm ficado obsoletas em menores espaços de tempo, ocasionando assim um excesso de lixo eletrônico. Partindo desta problemática, o objetivo do trabalho é analisar o descarte de lixo eletrônico em organizações privadas da cidade de São Gabriel, RS.

Palavras chave: logística reversa, resíduo computacional, política ambiental.

ABSTRACT

Due to the exponential increase of innovations, the technologies have become obsolete in smaller time slots, causing an excess of electronic waste. Based on this problem, the objective of article is to analyze the disposal of electronic waste in private organizations of São Gabriel city, RS.

Keywords: reverse logistic, computational residue, environmental politics

  1. INTRODUÇÃO

É inegável que os avanços tecnológicos tenham proporcionado a sociedade grandes evoluções no que tange a conectividade, facilidade na troca de informações, agilidade na realização de tarefas entre outros saltos evolutivos das últimas décadas. Essa evolução gerou uma dependência e avidez por inovações tecnológicas por parte da população, o que induz as empresas a aumentarem sua produção de maneira exacerbada para que consigam manter-se competitivas no mercado (VIEIRA; SOARES; SOARES, 2009).

Com cada vez mais inovações circulando, é natural que as tecnologias fiquem ultrapassadas em menores espaços de tempo. Esta rápida obsolescência acaba gerando um excesso de lixo eletrônico, tornando as empresas produtoras, as principais responsáveis por este problema ambiental. Estima-se que o volume de lixo eletrônico gerado anualmente no mundo é de 40 milhões de toneladas, lixo este que, em grande parte, não terá o destino correto (VIEIRA; SOARES; SOARES, 2009; LADOU; LOVEGROVE, 2008).

Reciclar pode ser uma saída para alguns componentes como o cobre, prata e ouro. Porém, devido ao alto custo para manusear e reaproveitar estes materiais que podem ser tóxicos, alguns países desenvolvidos acabam enviando seu lixo eletrônico para outros países, onde as leis ambientais não são tão rigorosas e há interesse em manuseá-los, apesar dos riscos à saúde (ROBINSON, 2009).

No Brasil, a lei federal nº 12.305/10, intitulada Política Nacional dos Resíduos Sólidos, dá suporte a logística reversa, regulando e ordenando fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes a criarem uma rede de coleta e destinação de eletrônicos obsoletos. Porém, apesar da crescente pressão de organizações não governamentais, a informação não chega para uma parcela da população, que acaba não fazendo sua parte, seja no descarte ou na simples conscientização (SERRANO, 2011; ROBINSON, 2009).

O presente artigo tem como objetivo analisar o descarte de lixo eletrônico nas organizações privadas localizadas em São Gabriel, Rio Grande do Sul.

  1. REFERENCIAL TEÓRICO

    1. GESTÃO AMBIENTAL NAS ORGANIZAÇÕES

A gestão ambiental nas empresas tem se caracterizado como a força motriz na implantação de políticas ambientais. O estreito relacionamento entre o desempenho organizacional e as estratégias ambientais, confere às empresas vantagens competitivas importantes, destacando-as frente as concorrentes. É papel desta mesma gestão, com o apoio da alta direção, operacionalizar as políticas ambientais necessárias para reciclagem, separação e destinação dos produtos obsoletos (ABNT ISO 14.001, 2015; ARAGÓN-CORREA; SHARMA, 2003).

Para a gestão ambiental, os resíduos que são vistos como lixo pela população, devem ser avaliados pelas organizações para então tomar o destino correto, podendo até entrar na linha produtiva novamente ou mesmo serem recuperados e doados fazendo assim um marketing societal. O marketing societal é uma ferramenta que não tem como foco apenas os lucros, mas sim busca melhorar a imagem da empresa diante da sociedade, assim trazendo e fidelizando clientes que se identificam com a ideia proposta (VEBER, 2010).

A gestão ambiental pode e deve ser desempenhada pelo Estado, comunidade e empresas com o objetivo de diminuir impactos e efetivar a preservação do meio ambiente. O Sistema de Gestão Ambiental (SGA) e suas normas, são meios que podem auxiliar a implantação de práticas socioambientais nas mais diversas realidades empresariais. Neste contexto, a logística reversa se mostra uma ferramenta de redução de impactos ambientais muito relevante (VIEIRA; SOARES; SOARES, 2009).

2.2 LOGÍSTICA REVERSA

Até 2010, a legislação brasileira não obrigava as empresas a realizar de fato a logística reversa. As grandes companhias deixavam a cargo de oficinas de assistência técnica autorizadas a receptação e destinação dos eletrônicos em desuso. Essa destinação ao que se sabe, muitas vezes não era a correta, podendo acontecer no lixo comum. Somente em 2010 aprovou-se a Política Nacional de Resíduos Sólidos, definindo-se parâmetros e responsabilizando os fabricantes pelos seus produtos (DEL GROSSI, 2011).

A logística reversa se dá no fluxo de materiais que retornam à empresa, o que pode ocorrer por diversos motivos, seja por defeito, política empresarial, dentre outros. Esta ferramenta, portanto, pode ser considerada uma versão contrária a logística convencional, que consiste em entregar o produto ao varejo ou ao cliente. As duas logísticas compartilham o mesmo planejamento no que consiste em armazenamento, transporte seguro dos equipamentos e sistema de informações. Entretanto, a logística reversa trabalha com equipamentos acabados, com o objetivo de recapturar seu valor ou direcionar ao destino correto (ROGERS; TIBBEN-LEMBKE, 1999; MUELLER, 2005).

Segundo a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, logística reversa é definida como um procedimento que viabiliza a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).

A logística reversa deve ter seu início a partir da iniciativa das empresas em diminuir seu impacto. Para isso, devem proporcionar meios aos clientes, para que possam devolver seus produtos obsoletos. Além disso, campanhas de educação ambiental devem ser veiculadas, pois sem a colaboração dos clientes, a logística reversa se torna ineficaz (VIEIRA; SOARES; SOARES, 2009).

Mesmo que o foco principal da logística reversa não seja o lucro, é possível aplica-la obtendo benefícios econômicos, além de sociais e ambientais. Apesar desta possibilidade, no Brasil, a logística reversa ainda não é muito explorada (XAVIER et al., 2010).

    1. LIXO ELETRÔNICO

O excesso de lixo eletrônico gerado e, principalmente, o descarte de seus componentes tóxicos, poluentes ou de valor, é uma das grandes problemáticas mundiais da atualidade. O aumento do uso de aparelhos eletrônicos e, consequentemente, o aumento da quantidade de descarte fica evidente ao se analisar que, em 20 anos, de 1994 a 2004, a quantidade de computadores que foram inutilizados aumentou em 80 milhões ao redor do mundo (PUCKETT; SMITH, 2002).

Se descartado incorretamente, o lixo eletrônico certamente causa impactos ao meio ambiente e a saúde humana. O resíduo eletrônico contém variadas substâncias, muitas delas tóxicas, como o mercúrio, arsênio, cádmio, selênio, entre outros metais pesados, em contato com o ser humano podem causar alergias, danos cerebrais e até câncer (PUCKETT; SMITH, 2002).

Em torno de 50% da composição do lixo eletrônico são metais, o que o torna o material mais presente dentre o total de componentes encontrados. A partir desta realidade, reciclar tem se mostrado uma saída bem eficaz, principalmente para os países desenvolvidos. Empresas da Suécia, Noruega e do Reino Unido tem investido nesta área tendo êxito (WIDMER et al., 2005).

As evoluções tecnológicas juntamente com a pressão dos órgãos reguladores trouxeram a diminuição dos elementos poluentes e contaminantes do qual os eletrônicos são compostos. Um exemplo disso foi a troca dos monitores de tubo CRT para os LCD, assim reduzindo a concentração de chumbo. Computadores pessoais que antes pesavam 25 kg em média, hoje, com o advento das telas LCD e outras tecnologias mais compactas, como notebooks, tablets e smartphones, pesam muito menos, assim gerando menos resíduos pois reduziu-se o tamanho e, consequentemente, o uso de matéria prima para produzi-los (PUCKETT et al., 2005; ROBINSON, 2009).

Substâncias tóxicas e metais pesados podem entrar em contato com sistemas aquáticos, com o ar, solo e finalmente com as pessoas, contaminando e trazendo as mais variadas consequências. Na água, elas podem se infiltrar por lixiviação, tendo como origem os lixões onde o resíduo eletrônico tenha sido erroneamente depositado. Por consequência, podem ocasionar danos a fauna e flora deste local, e aos habitantes do entorno caso façam uso ou entrem em contato com estes corpos d’água (ROBINSON, 2009).

Quanto ao ar, os contaminantes são normalmente dispersos via cinzas de resíduos queimados, entrando assim em contato com os seres humanos por inalação, ingestão e absorção pela pele. Por estas razões o ar se configura como a maior via de exposição a contaminantes (MIELKE; REAGAN, 1998).

    1. DESCARTE DE LIXO ELETRÔNICO EM OUTRAS REALIDADES CULTURAIS

A falsa ideia de que indústrias de tecnologia não são poluidoras e tampouco causam impactos ambientais persistiu por muito tempo. Não obstante, atualmente tem-se observado grande preocupação por parte dos governos, afim de coibir a exponencial geração de resíduos que é motivada pelo aumento de consumo e redução de tempo de vida útil dos produtos em circulação no mercado atual (ANSANELLI, 2010).

O aumento da geração de lixo eletrônico se torna um problema ainda maior quando esse resíduo não somente é gerado no país, mas sim é advindo de importações ilegais como vem acontecendo na China e Índia. Estas importações ocorrem alavancadas pela expansão de um novo setor econômico que lida com equipamentos de segunda mão, e que nesses países são usados no reparo de outros eletrônicos. Porém o que a primeira vista parece ser um salto econômico, na verdade traz riscos para os seres humanos e o meio ambiente local, como já indicava a Convenção de Basiléia. Nos Estados Unidos, é estimado que cerca de 50 a 80% do lixo eletrônico coletado não é reciclado, mas sim enviado para países emergentes como a China (PUCKETT; SMITH, 2002; WIDMER et al., 2005).

Após importado, o lixo eletrônico tem como destino os sítios de reciclagem, onde a população local, normalmente sem utilizar-se de equipamentos de proteção, desmonta e separa conforme as necessidades. Em solos de agricultura próximos a sítios de reciclagem de lixo eletrônico como estes, estudos mostraram que os níveis de concentração de éteres de difenila polibromados (retardadores de chama) estavam bem elevados. Além do solo, plantas e alguns moluscos dos arredores também continham níveis altos do mesmo composto (LIU et al.,2008; LUO et al., 2009).

Ainda na China, no mesmo local, a exposição humana a estes e outros contaminantes resultou em níveis de 15 a 56 vezes maiores que o máximo recomendado. Indo mais além, amostras de placenta, leite humano e cabelo dos moradores locais demonstrou haver contaminantes advindos do ar, água e comida. (CHATTERJEE, 2007; CHAN et al., 2007).

Buscando evitar problemas como este ocorrido na China, a Convenção de Basiléia ocorrida em 1989, foi uma das mais importantes iniciativas internacionais quanto ao controle de movimentos transfronteiriços de resíduos perigosos e seu depósito. A convenção teve 164 signatários, dentre eles o Brasil, que em 2010 reafirmou ser contra, e proibiu a importação de resíduos perigosos, como consta no Art. 49 da Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Quanto a quantidade de lixo gerada, um estudo calculou que na Suíça a produção per capita de lixo eletrônico é de 9 kg por ano, enquanto um europeu, de modo geral, produz 14 kg no mesmo período. Em 2005 os Estados Unidos descartaram 2,63 milhões de toneladas de lixo eletrônico e a China 2,5 milhões. Em países menos desenvolvidos a produção é bem menor, chegando a 0,33 e 0,1 milhões de toneladas na Índia e Tailândia respectivamente no ano de 2007. Estes dados sinalizam que a quantidade de lixo eletrônico gerada poderia estar diretamente relacionada com a riqueza econômica do país (ROBINSON, 2009; SINHA-KHETRIWAL et al., 2005; GOOSEY, 2004; COBBING, 2008).

  1. MATERIAIS E MÉTODOS

Para realização do estudo, fez-se uma pesquisa bibliográfica sobre gestão ambiental nas organizações, lixo eletrônico e logística reversa. Com base no referencial teórico, formulou-se um instrumento de coleta de dados.

O instrumento de coleta selecionado foi um roteiro de entrevista estruturado, que serviu para obtenção de dados primários e possibilitou a interação entre entrevistador e entrevistado. Essa interação revela-se muito importante, pois em meio as questões abordadas podem-se fazer comentários e dialogar com o entrevistado, afim de captar informações acerca das questões ambientais na empresa.

O roteiro de entrevistas é composto por dez questões, sendo elas quatro fechadas e seis abertas. Estas questões abordaram temas relacionados a responsabilidade da empresa sobre seu lixo eletrônico, os perigos do descarte incorreto, caracterização do lixo gerado, e também, sobre o conhecimento acerca dos materiais com valor agregado que possivelmente são perdidos no descarte.

As empresas foram selecionadas por primariamente serem usuárias de eletrônicos em seus estabelecimentos na cidade de São Gabriel. Foram entrevistados, pessoalmente, oito representantes das organizações selecionadas, em horário de expediente, tendo eles cargos de supervisão e gerência. O Quadro 1 apresenta o perfil das empresas entrevistadas.

Quadro 1 - Perfil e codificação das empresas privadas investigadas

Fonte: Autores, 2016.

As empresas investigadas foram codificadas para garantir o sigilo das informações.

  1. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os principais motivos que levam a renovação dos equipamentos de informática são os equipamentos sem conserto e os defasados tecnologicamente (Quadro 2).

Quadro 2 - Principais motivos que levam a renovação dos equipamentos de informática

Fonte: Autores, 2016.

O entrevistado da CE01 ressaltou que a loja era nova e, portanto, não saberia responder com precisão se a empresa orientava a troca sazonal dos equipamentos pois até o momento não havia acontecido.

Outros dois entrevistados, das organizações CT01 e VA02, ainda ressaltaram que em razão dos equipamentos utilizarem softwares leves e simples, os mesmos eram utilizados por muito tempo, sendo trocados somente caso não houvesse mais conserto. Esses achados convergem com os resultados de Vieira, Soares & Soares (2009) que encontraram que a troca se dá principalmente por obsolescência dos equipamentos.

Quanto a periodicidade em que há renovação dos equipamentos eletrônicos, o Quadro 3 mostra as respostas dos entrevistados.

Quadro 3 - Periodicidade em que há renovação dos equipamentos de informática

Fonte: Autores, 2016.

Nesta questão, diferentemente da primeira, não houve convergência nas respostas. As organizações CT02 e CE02 responderam que a renovação acontece raramente. AI01 respondeu que a renovação acontece quando a tecnologia usada fica defasada. Já a organização VA02 respondeu que o equipamento é usado até o limite de sua vida útil e que conseguem utilizar o equipamento por longos períodos.

Para a organização AI02 a troca depende da orientação da chefia, o que entra em conflito com a sua resposta na primeira questão pois a orientação da chefia nem sempre ocorrerá por defasagem, podendo acontecer por padronização dos equipamentos, entre outros motivos. Ao ser questionado o entrevistado respondeu que eles utilizam os aparelhos até defasar a tecnologia e a partir daí, aguardam orientação da chefia para realizar a troca. A organização CT01 apenas respondeu que a troca acontece a cada ano.

Por fim, os entrevistados das empresas VA01 e CE01 não souberam responder. O primeiro alegou ter sido contratado há pouco tempo, não tendo ele passado por uma renovação dos equipamentos. O entrevistado da CE01 justificou que a empresa se instalara há pouco tempo na cidade e assim como a anterior, não passou por uma renovação.

Os principais equipamentos descartados pelas empresas são ilustrados na Figura 1.

Figura 1 - Principais componentes descartados pelas empresas

Fonte: Autores, 2016.

Os monitores são os equipamentos mais descartados. Porém, essa realidade muda de acordo com o ramo da empresa.

AI01 mencionou descartar muitas fontes e placas mãe. Já a empresa AI02 diz descartar muitos rádios e roteadores antigos. A VA01, descarta monitores e também impressoras.

As respostas dos entrevistados restantes variam entre todas as alternativas, excluindo a alternativa “outros”. Apenas a organização CT01 selecionou as quatro alternativas possíveis, excluindo somente a “outros”.

Os monitores, segundo os fabricantes, devem ter uma vida útil de 40.000 a 100.000 horas ininterruptas. Um monitor que fique ligado em média 16 horas como é o caso de alguns supermercados, e que tenha vida útil de 80.000 horas segundo o fabricante, tende a durar em média 14 anos. A vida útil dos computadores, de forma geral, está diminuindo, chegando a 2 anos apenas. Vale ressaltar que a troca pode acontecer por obsolescência, o que justificaria as respostas (DENG et al., 2006).

Quanto ao destino dado aos equipamentos substituídos, a Figura 2 mostra a percentagem de respostas para cada alternativa.

Figura 2 - Destinação dos aparelhos substituídos

Fonte: Autores, 2016.

Duas organizações (AI01 e AI02) armazenam os equipamentos em suas instalações. A primeira aguarda o descarte conforme a Prefeitura e também realiza doações para escolas. Já a segunda vende, buscando o retorno monetário para que possa ser investido em novos equipamentos.

Três organizações (CT02, CE01 e CE02) responderam que os equipamentos são devolvidos para a matriz, que não tem sede na cidade, e que não sabem o que é feito com estes materiais após a devolução.

A VA01 respondeu que os equipamentos substituídos que ainda funcionam são reutilizados na própria empresa, em setores com uma demanda menor de tecnologia. VA02 apenas respondeu que a central faz o recolhimento.

Por fim, a CT01 disse contar com uma transportadora específica que realiza o transporte seguro destes materiais para a fornecedora. No local os equipamentos são restaurados e doados às escolas.

Verificou-se que há um desconhecimento por parte de algumas empresas entrevistadas quanto ao que é feito com os resíduos após a entrega para matriz ou recolhimento por terceiros.

Outra questão relevante é a existência ou não de um setor responsável pela gestão dos resíduos eletroeletrônicos nas empresas. Das oito empresas, quatro disseram haver um setor, porém este se localiza na matriz, fora da cidade. A empresa VA02 apenas respondeu que há um departamento específico. AI01 disse que os responsáveis são a administração da empresa. VA01 não soube responder, pois foi contratado recentemente. Para finalizar, AI02 respondeu que o suporte técnico é o responsável e, que de seis em seis meses há o encaminhamento dos equipamentos para eles realizarem uma vistoria no que pode ser reaproveitado.

Sobre a quantidade estimada de materiais eletroeletrônicos descartados anualmente, as empresas VA01, VA02, CT01, CE01 e CE02 estimaram que descartam pouco material em um ano. CT02 apenas respondeu que é difícil estimar a quantidade descartada neste período. Quanto as empresas AI01 e AI02, a primeira disse que descarta em média 50 fontes e de 2 a 4 placas mãe por ano, enquanto a AI02 disse descartar em torno de 100 peças no mesmo período.

Buscando compreender o nível de esclarecimento dos entrevistados quanto aos perigos e danos à saúde que podem advir do descarte incorreto de eletrônicos, questionou-se sobre o conhecimento dos entrevistados acerca da presença de metais pesados nos eletrônicos.

Todos os entrevistados responderam que sabem que o descarte incorreto pode trazer danos à saúde devido à presença de metais pesados e outros componentes.

Também se questionou sobre qual seria a melhor solução para o descarte destes resíduos. CT01, CT02 e CE01 disseram que o melhor seria enviar para empresas especializadas na reciclagem e manuseio destes componentes. VA02 disse que uma política ambiental na empresa tornaria o descarte mais correto pois buscaria seguir diretrizes externas, já que a empresa é uma multinacional. VA01 e AI02 opinaram que pontos de descarte/coleta e reciclagem na cidade seriam de grande ajuda não só para empresa, mas também para a população. Já AI01 apenas citou que é uma solução difícil e que deve ser bem pensada.

Observa-se que as empresas têm ciência dos perigos e sabem que o descarte correto e a reciclagem são soluções para este problema (WIDMER, 2005).

Nos equipamentos eletroeletrônicos há a presença de materiais de valor agregado, como o ouro, e de outros materiais com possível reuso em outros equipamentos e uso pós reciclagem. Foi perguntado aos entrevistados se eles sabiam da presença de materiais deste tipo nos seus equipamentos. A Figura 3 revela a quantidade de entrevistados que reconhecem o valor agregado dos eletroeletrônicos.

Figura 3Número de entrevistados que reconhecem o valor agregado dos eletroeletrônicos

Fonte: Autores, 2016.

Seis entrevistados sabiam que alguns materiais que compõem os eletroeletrônicos são passiveis de reuso (Figura 3).

Outra questão abordada, foi se a empresa costuma encaminhar ou já encaminhou os equipamentos em desuso para pontos de coleta de logística reversa. A Figura 4 demonstra o que é feito com os resíduos eletroeletrônicos nestas empresas.

Figura 4 - Número de entrevistados que encaminham eletroeletrônicos para terceiros

Fonte: Autores, 2016.

Como observado na Figura 4, apenas uma empresa encaminha para logística reversa, sendo ela a AI01. A empresa AI02 encaminha para reciclagem, enquanto a VA01 não soube responder o que é feito em sua empresa com os resíduos eletroeletrônicos.

As demais empresas encaminham para a matriz. Observou-se a falta de conhecimento quanto ao tema logística reversa e sua importância.

Outro aspecto abordado, foi sobre os entraves para implantação da logística reversa na sua empresa e no país. Nesta questão, o representante da empresa VA02 disse que na opinião dele não há entraves, o que contraria os achados de Xavier et al. (2010) que ressalta que apesar da logística reversa ter a capacidade de trazer lucros às empresas, ela não é explorada no Brasil.

O entrevistado da CE02 disse faltar uma lei que obrigue tanto as empresas quanto as fornecedoras a implantar a logística reversa. Ao ser informado sobre a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, o entrevistado ressaltou que faltavam as empresas cumprirem e o governo fiscalizar.

VA02, CT01, CT02 e CE01 alegaram não haver problemas pois enviam para a matriz os equipamentos em desuso, porém, após a chegada destes materiais na matriz não se sabe o destino dado. O entrevistado da AI01 salientou que há falta de conhecimento dos gestores da empresa para implantar uma política ambiental era o principal entrave.

O entrevistado da empresa AI01 disse que o maior entrave é a falta de implementação a partir dos fornecedores, e que a partir daí, torna-se um problema de logística tradicional, aliado a um problema financeiro. A empresa VA01 disse que deveria partir do fornecedor um plano de trocas, renovações e fidelização, assim fazendo a economia e a tecnologia de ambas empresas “girar”.

Percebe-se que haveria necessidade de uma política ambiental em conjunto com programas de educação ambiental, tanto para as empresas fornecedoras quanto para os clientes, tornando a logística reversa eficaz e funcional nestas organizações. Isto não ocorre no presente estudo, pois ao que se observa, as empresas investigadas apenas aguardam um programa de logística reversa das fornecedoras, não fazendo a parte que lhes seria destinada (VIEIRA; SOARES; SOARES, 2009).

  1. CONCLUSÕES

O lixo eletrônico é um problema da sociedade contemporânea que necessita de solução imediata. Nas organizações, verificou-se que há um desconhecimento sobre assuntos ambientais e que são necessárias ações de educação ambiental.

Constatou-se que há representantes de empresas que desconhecem a Lei 12.305/10 e que acreditam que o simples fato de encaminhar resíduos para a matriz já seria uma logística reversa devidamente implantada em sua organização, sem ao menos saber o que é feito com seus resíduos a partir deste encaminhamento. As consequências da falta de conhecimento podem ser vistas no crescente aumento do lixo eletrônico mundial, que é gerado não só pelas grandes empresas dos grandes centros, mas também por pequenas e médias empresas de cidades menores como no caso investigado.

A falta de conhecimento sobre as vantagens competitivas de uma política ambiental bem estruturada nas empresas, leva a uma predisposição a não ter um profissional da área ambiental em seu quadro de funcionários, como ficou evidente neste estudo.

A partir da presente constatação, sugere-se o aprofundamento da pesquisa, de forma que se observe a diferença entre organizações públicas e privadas quanto a gestão do resíduo eletroeletrônico.

Por fim, cabe aos gestores ambientais, biólogos, ecólogos e outros profissionais da área ambiental proporem políticas ambientais de interesse das organizações, e que tragam retorno financeiro. A união entre o econômico, social e ambiental é a chave para alcançar excelência nos serviços, agindo localmente e pensando globalmente.

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Ilustrações: Silvana Santos