Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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Relatos de Experiências
26/01/2018 (Nº 62) ANÁLISE DAS CONCEPÇÕES DOS ESTUDANTES SOBRE A IMPORTÂNCIA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS
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Revista Educação ambiental em Ação 33

ANÁLISE DAS CONCEPÇÕES DOS ESTUDANTES SOBRE A IMPORTÂNCIA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS

Ronualdo Marques1, Claudia Regina Xavier2

1Prof. do Estado do Paraná. Mestrando do PPGFCET - Programa de pós-graduação em Formação Científica, Educacional e Tecnológica da UTFPR - Universidade Tecnológica Federal do PR. Curitiba, PR.<ronualdo.marques@gmail.com>.

2 Prof.ª Dr.ª do PPGFCET - Programa de pós-graduação em Formação Científica, Educacional e Tecnológica. Departamento de Química e Biologia da UTFPR, Curitiba, PR. .

Resumo:

A Educação Ambiental contextualizada no Ensino de Ciências possibilita debates necessários às reflexões e discussões para que este saber contribua com a mudança de comportamento dos indivíduos em sua relação com o meio ambiente. Esse estudo tem objetivo de analisar as concepções dos estudantes sobre a Educação Ambiental no Ensino de Ciências. A pesquisa foi qualitativa na modalidade pesquisa participante. Os dados foram coletados através da aplicação de um questionário inicial antes da aplicação de uma Sequência Didática e outro depois. Pode-se concluir que a Educação Ambiental no Ensino de Ciências de forma contextualizada aponta para a necessidade do rompimento com práticas isoladas e pontuais e com a educação mecanicista e conservadora no currículo escolar, visto que o desenvolvimento de ações integradas e participativas potencializa as discussões que emergem das relações entre os seres humanos, a sociedade e a natureza.

The Environmental Education contextualized in the Teaching of Sciences allows debates necessary to the reflections and discussions so that this knowledge contributes to the behavior change of individuals in their relationship with the environment. This study aims to analyze the students' conceptions about Environmental Education in Science Teaching. The research was qualitative in the participant research modality. The data were collected through the application of an initial questionnaire before the application of the Didactic Sequence and another one afterwards. It can be concluded that Environmental Education in Education contextualized points to the need to break with isolated and punctual practices and with the mechanistic and conservative education in the school curriculum, since the development of integrated and participative actions potentiates the discussions that emerge from the relations between human beings, society and nature.

Palavras chave: Educação Ambiental; Ensino de Ciências; contextualização.

Introdução

A diversificação do meio ambiente exigiu do homem um saber maior sobre a natureza, da sua estrutura e do mecanismo que regula o seu funcionamento, ao mesmo tempo, das causas e dos efeitos causados pela ação antrópica no ambiente. Não obstante a Educação Ambiental ser reconhecidamente importante e um tema transversal, a sua presença ainda é inexpressiva no currículo. Contudo a inserção da EA no Ensino de Ciências propicia aos alunos situações de aprendizagem nas quais eles podem construir conhecimentos sobre diferentes fenômenos naturais (GUIMARÃES, 2009).

Ao pensar no processo de ensino e aprendizagem de forma contextualizada é intrínseca a possibilidade de se estabelecer uma ligação com os temas ambientais. Entende-se que o Ensino das Ciências Naturais deve permitir ao aluno a compreensão da Ciência como um processo humano e desenvolver uma postura crítica e reflexiva sobre os fenômenos naturais e a forma como o ser humano atua no ambiente (BRASIL, 1999).

O espaço escolar representa um ambiente extremamente significativo de socialização e formação da cidadania dos alunos, o espaço escolar com função social no qual os alunos desenvolverão suas habilidades e competências fundamentais que garantirão sua autonomia e capacidade decisórias futuras (BUSQUETS, 1998).

Sauvé (2005) corrobora ao dialogar que na origem dos atuais problemas socioambientais, existe uma lacuna fundamental entre o ser humano e a natureza, que é importante eliminar. “É preciso reconstruir nosso sentimento de pertencer à natureza”. Sendo assim, dentro de uma visão crítica e transformadora, os temas ambientais não devem ser tratados desvinculados da realidade dos estudantes. Segundo Sauvé (2005), é necessário desenvolver habilidades para a investigação crítica do meio em que vivemos, além de reconhecer que os problemas ambientais estão ligados a jogos de interesse e poder. Deste modo, a EA deve ter um olhar crítico sobre a temática a ser abordada.

Segundo Lima, o saber ambiental é importante para esta visão crítica, como comenta abaixo:

(...) o saber ambiental não pode se resumir a uma mera articulação integradora dos conhecimentos já existentes com o objetivo de solucionar problemas práticos, mas deve construir-se como um novo saber transformador, capaz de fundamentar uma nova racionalidade ambiental. (LIMA, 2011, p. 126)

Fracalanza et al. (1986) afirma que o Ensino de Ciências, além dos conhecimentos, experiências e habilidades inerentes a esta matéria, deve desenvolver o pensamento lógico e a vivência de momentos de investigação, convergindo para o desenvolvimento das capacidades de observação, reflexão, criação, discriminação de valores, julgamento, comunicação, convívio, cooperação, decisão e ação, encaradas como objetivos do processo educativo.

Nesse cenário a proposta de Educação Ambiental se destaca como possibilidade de construção desse novo pensar, por tratar-se, de acordo com Carvalho (2004), de uma proposta educativa que se destina à formação de valores e atitudes necessários a uma nova postura frente às questões ambientais, por meio de um processo educativo emancipatório.

Para Loureiro:

A ação emancipatória é o meio reflexivo, crítico e autocrítico contínuo, pelo qual podemos romper com a barbárie do padrão vigente de sociedade e de civilização, em um processo que parte do contexto societário em que nos movimentamos do "lugar" ocupado pelo sujeito, estabelecendo experiências formativas em que a reflexão problematizadora da totalidade, apoiada numa ação consciente e política, propiciam a construção de sua dinâmica (LOUREIRO 2006, p.32).

A Educação Ambiental é um processo permanente no qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, habilidades, experiências, valores e a determinação que os tornam capazes de agir, individual ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais, presentes e futuros (UNESCO, 1987). O saber ambiental se constitui através de processos políticos, culturais e sociais, que obstaculizam ou promovem a realização de suas potencialidades para transformar as relações sociedade-natureza (LEFF, 2009, p.151).

Ao situarmos a Educação Ambiental num contexto amplo, o da Educação para a cidadania, configura-se como elemento determinante para a consolidação de sujeitos cidadãos (JACOBI, 2005). O principal eixo de atuação deve buscar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença por meio de formas democráticas de atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. No entanto, a realidade não é tratada como algo dado, mas construído pelos sujeitos sociais, numa relação contraditória e conflituosa entre interesses e classes. “(...) na experiência histórica da qual participo, o amanhã não é algo pré-dado, mas um desafio, um problema” (Freire, 2006), destaca-se dentro desta reflexão que:

Isso requer um pensamento crítico da Educação Ambiental e, portanto, a definição de um posicionamento ético-político onde a Educação Ambiental pode buscar sua fundamentação enquanto projeto educativo que pretende transformar a sociedade (CARVALHO, 2004, p.18).

A Educação Ambiental como parte da Ciência assume assim, de maneira crescente, a forma de um processo intelectual ativo enquanto aprendizado social, baseado no diálogo e interação em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados, que se originam do aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal do aluno. Assim, considerar a Ciência como “uma linguagem para facilitar nossa leitura do mundo natural” (CHASSOT, 1993, p. 37), sabê-la como descrição do mundo natural ajuda a entendermos a nós mesmos e o ambiente que nos cerca. A abordagem do Meio Ambiente na escola passa a ter um papel articulador do conhecimento, num contexto no qual os conteúdos são ressignificados.

Já para Jacobi:

Ao interferir no processo de aprendizagem e nas percepções e representações sobre a relação entre indivíduos e ambiente nas condutas cotidianas que afetam a qualidade de vida, a Educação Ambiental promove os instrumentos para a construção de uma visão crítica, reforçando práticas que explicitam a necessidade de problematizar e agir em relação aos problemas socioambientais, tendo como horizonte, a partir de uma compreensão dos conflitos, partilhar uma ética preocupada com a justiça ambiental (JACOBI, 2005, p.245).

É preciso uma grande transformação de cunho teórico-pedagógico para a área da Educação Ambiental; Leff (2003, p.9) diz que: “A pedagogia ambiental se fundamenta na fusão entre a pedagogia crítica e o pensamento da complexidade”; logo é de vital importância a socialização do saber ambiental através de um processo dialógico, auto reflexivo e emancipatório que nos proporcionará um saber ambiental construído com o outro, no contexto da interculturalidade, ou mais precisamente no dizer de Leff: “[...] um saber ambiental construído social e culturalmente [...]”. Portanto é preciso pensar a complexidade ambiental como a expressão que indica uma crise da civilização pontualmente centrada na questão da sustentabilidade, que perpassa a questão da alteridade, do poder e da esfera política.

A crise ambiental e a Educação tem sido foco de interesse permanente na atualidade, apontando o processo educativo como uma fonte que contribuiria na busca de respostas e possíveis soluções aos problemas socioambientais que se manifestam e apresentam cada vez de modo mais intenso e frequente. Por isso, se faz necessário salientar e vivenciar a certeza de que a Educação Ambiental não atua somente no campo das ideias, dos ideais ou das utopias e sequer se firmará unicamente no campo da transmissão de informações, porque ela trabalha diretamente com a existência, com a vida.

Portanto, o processo de conscientização e emancipação deverá se mostrar através da ação com conhecimento e pela capacidade de optarmos pelo compromisso com o outro, com a sua subjetividade e, antes de tudo, com a sua maneira de ser no mundo e estabelecer nele as suas mediações vivenciais que o realizam como ser social e como ser da cultura. A conscientização refere-se á compreensão das relações entre sociedades humanas e a natureza entre meio ambiente e desenvolvimento entre os níveis globais e locais (BRASIL, 1998).

Assim, também Loureiro assevera que:

Educar é negar o senso comum de que temos `uma minoria consciente´. [...] é entender que não podemos pensar pelo outro, para o outro e sem o outro. A educação é feita com o outro que também é sujeito, que tem sua identidade e individualidade a serem respeitadas no processo de questionamento, dos comportamentos e da realidade (LOUREIRO, 2006, p.28).

Partindo desses pressupostos, este trabalho trata de uma investigação em que foi abordada a relação dos estudantes com a Educação Ambiental desenvolvido no Ensino de Ciências com alunos dos 6º ano do Ensino Fundamental, como forma de contribuir com o debate acerca das articulações teórico metodológicas entre o ensino de Ciências e a Educação Ambiental. Especificamente, objetivou buscar respostas aos seguintes questionamentos: Que concepções os estudantes possuem da Educação Ambiental?

Metodologia

Essa pesquisa foi aplicada na perspectiva da Pesquisa Participante que segundo Brandão (2006) compreende um processo compartilhado de desconstrução, construção e reconstrução de conhecimentos na ação transformadora e emancipadora.

Por ser crítica-dialética, a Pesquisa Participante busca envolver aquele que pesquisa e aquele que é pesquisado no estudo do problema a ser superado, conhecendo sua causa e construindo coletivamente as possíveis soluções. Para entender claramente a Pesquisa Participante é preciso reconhecer que um problema a ser solucionado tem origem na própria comunidade. Assim, a finalidade da Pesquisa Participante é a mudança das estruturas com vistas à melhoria de vida dos indivíduos envolvidos (MINAYO, 2001; BRANDÃO, 2006).

Na Pesquisa Participante, cita Esteban (2010), o professor busca entender como os estudantes compreendem suas próprias situações e como constroem suas realidades, combinando ao mesmo tempo a participação ativa dos estudantes, as conversas informais e as análises das atividades desenvolvidas.

A presente pesquisa foi realizada no Colégio Estadual Júlia Wanderlei da Rede Pública Estadual do Paraná no Município de Curitiba em que o autor deste trabalho atuava como professor da disciplina de Ciências. Participaram deste estudo 20 estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental, sendo 11 meninos (55%) e 9 meninas (45%), com idade entre 11 e 12 anos, denominados pelas siglas “A” (Aluno A01,A02,etc...) estando em consonância com os documentos TALE, TCUISV, TCLE, e respeitando a privacidade e o sigilo do educando.

A condução da pesquisa se dá na abordagem qualitativa que segundo Triviños (1992) é uma característica básica na pesquisa qualitativa e refere-se ao fato de que o investigador não fica de fora da realidade que estuda, pois está inserido nos fenômenos dos quais procura captar os significados. É frequente que o pesquisador procure entender os fenômenos, segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada e a partir daí, situe sua interpretação dos fenômenos estudados, tendo contato direto com os participantes.

Para coleta de dados foram utilizados questionários que foram validados por professores do Programa de Pós-Graduação em Formação Científica, Educacional e Tecnológica-FCET. Neste caso, a utilização dos questionários foi fundamental, pois conforme Lakatos e Marconi (2001), este recurso possibilita: economia de tempo; eliminação de deslocamentos; obtenção de um grande número de dados; foco em um determinado grupo de maneira simultânea; obtenção de respostas mais rápidas e precisas; manutenção do anonimato do respondente.

Primeiramente foi utilizado um questionário inicial (Q.I) semiestruturado, aplicado individualmente, para verificar as concepções prévias dos estudantes possibilitando ao inquirido construir a resposta com as suas próprias palavras, permitindo, deste modo, a liberdade de expressão sobre a temática ambiental que seria abordada posteriormente na aplicação de uma Sequência Didática sobre Educação Ambiental tratando da Pegada Ecológica do Lixo. De acordo com Gil (2010), o questionário semiestruturado é uma técnica de investigação em que os estudantes se expressam por meio de questões abertas e fechadas, sendo possível conhecer suas opiniões, sentimentos e expectativas.

Na aplicação da Sequência Didática sobre a Pegada Ecológica do lixo foram realizadas rodas de conversa para perceber a construção da linguagem cientifica, confrontando diferentes opiniões e novos posicionamentos, a partir das aulas teóricas e práticas estimulando-os, assim, à criatividade e ao “saber ouvir”, dando oportunidade aos colegas de se expressarem suas opiniões, dúvidas e anseios. A roda de conversa, como instrumento de trabalho, não foi escolhida sem antes nos depararmos com a necessidade de propiciar à nossa pesquisa um caráter de cientificidade, o que implica caracterizá-la como de natureza qualitativa e determinar sua posição como abordagem legítima da busca do conhecimento científico, posto que esse tipo de pesquisa “[...] é um meio para explorar e para entender o significado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social ou humano” (CRESWELL, 2010, p.26).

As Rodas de Conversa segundo Silva et al (2007) consistem em um método de participação coletiva de debate acerca de determinada temática em que é possível dialogar com os sujeitos, que se expressam e escutam seus pares e a si mesmos por meio do exercício reflexivo. Um dos seus objetivos é de socializar saberes e implementar a troca de experiências, de conversas, de divulgação e de conhecimentos entre os envolvidos, na perspectiva de construir e reconstruir novos conhecimentos de forma sistematizada e contextualizada.

Após a Aplicação da Sequência Didática foi aplicado um questionário final (Q.F) semiestrurado onde os estudantes responderam questões relativas ao conteúdo trabalhado na mesma, para que então fosse possível perceber as diferenças dos conceitos e respostas que evidenciassem o desenvolvimento crítico, analítico e cientifico dos participantes.

Em ambos os questionários, houve a preocupação de orientar os estudantes sobre os objetivos das atividades desenvolvidas, uma vez que os questionários foram submetidos e aprovados pelo comitê de ética com o número CAAE: 60796516.1.0000.5547 e os estudantes junto aos responsáveis preencheram o Termo de Assentimento Livre esclarecido para menores de 18 anos (TALE), Termo de Consentimento livre e esclarecido (TCLE). Houve o cuidado de não interferir nas respostas, por entender que esses momentos da pesquisa são fundamentais para que os dados coletados sejam os mais genuínos possíveis e para não mascarar o processo de análise.

A análise dos Questionários e dos dados a partir da observação da aplicação da Sequência Didática sobre a Educação Ambiental ocorreu por meio da análise descritiva e interpretativa dos dados pela Análise de Conteúdo que segundo Bardin:

é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens” (BARDIN, 2011, p. 47).

Segundo este ponto de vista, produzir inferência em análise de conteúdo significa não somente produzir suposições subliminares acerca de determinada mensagem, mas em embasá-las com pressupostos teóricos de diversas concepções de mundo e com as situações concretas de seus produtores ou receptores. Situação concreta que é visualizada segundo o contexto histórico e social de sua produção e recepção. Assim a análise de conteúdo é “um método muito empírico que depende do tipo de “fala” a que se dedica e do tipo de interpretação que se pretende como objetivo” (BARDIN, 2011, p.30).

Primeiramente foram descritas as respostas dos questionários de cada um dos participantes. A seguir, no tratamento dos resultados, estas foram interpretadas a partir de várias leituras do material (MINAYO, 2001).

Posteriormente à interpretação, os conceitos que os estudantes destacam derivam da cultura estudada e da descrição dos informantes e não de definição científica, foram agrupadas por significações.

Neste caso a própria construção da teoria é uma interpretação. Teorização, interpretação e compreensão constituem um movimento circular em que a cada retomada do ciclo se procura atingir maior profundidade na análise.

As interpretações que levam às inferências foram usadas no sentido de buscar o que se esconde sob a aparente realidade, o que significa verdadeiramente o discurso enunciado pelo estudante.

Resultados

Inicialmente, os estudantes participantes da pesquisa apontaram qual a frequência de atividades na escola relacionadas á Educação Ambiental. Questão 1 do Questionário Inicial (Q.I) e Questão 1 do Questionário Final (Q.F). Pode-se observar os resultados expressos na Figura 1.

Figura 1: a)Q.I - Conhecimento de atividades de Educação Ambiental na Escola, b)Q.F – Conhecimento da Frequência das atividades de Educação Ambiental na Escola.

Fonte: Autor

Na Questão 1 do (Q.I) buscou-se investigar se os alunos tinham conhecimento sobre atividades que estivessem relacionadas à Educação Ambiental, da qual se evidenciou que 10 estudantes (50%) afirmaram que são desenvolvidas atividades de Educação Ambiental, 9 estudantes (45%) desconheciam a realização de atividades realizadas sobre Educação Ambiental e 1 estudante (5%) não respondeu a questão. Percebe-se por meio das respostas haver um amplo desconhecimento de atividades que fazem parte da Educação Ambiental. Ao contrastar com os resultados da Questão 1 do (Q.F) mostrado na Figura 1, podemos perceber um número expressivo sobre a frequência de atividades relacionadas à EA na escola em relação ao (Q.I) sobre práticas em Educação Ambiental, onde os alunos compreendem a EA a partir da sistematização na realização das atividades da SD. A razão de 50% (10) dos participantes não reconheceram atividades de Educação Ambiental, talvez seja pela falta de compreensão ou entendimento sobre o que seria atividade ou prática em EA. No (Q.F) estes parecem ter sido esclarecidos a partir das atividades da Sequência Didática aplicada sobre o que seriam relacionadas à Educação Ambiental.

Ao depararmos com os resultados expressos no questionário inicial têm-se uma inquietação para repensar a Educação Ambiental no sentido que esta não deve se restringir a simples ofertas de informações, contudo, deve estar implícita no processo educativo, pois os estudantes ressaltam no questionário inicial a falta de conhecimentos ou a incompreensão sobre o que de fato é a Educação Ambiental. Por outro lado, no questionário final, após os estudantes lidarem com informações, concepções e reflexões específicas do campo ambiental no Ensino de Ciências percebe-se que há um entendimento sobre a EA, destacando assim que a EA deve estar também explícita no ensino, afim de que os estudantes possam conceber e interpretar a Educação Ambiental na construção do conhecimento científico, compreendendo por meio de discussões e vivências que contribuam para a sua formação. Isso se dá na expectativa de superar concepções reducionistas apostando que por meio do Ensino de Ciências se possa contribuir para o desenvolvimento sistematizado e intencional de práticas socioambientais, que possam promover a participação efetiva dos alunos.

Destaca-se ainda que a EA não deve se dar somente nas disciplinas de Ciências, Biologia ou Geografia, mas deveria manter seu caráter transversal como destaca a Lei nº 9.795 de 27 de Abril de 1999, tornando obrigatória a inserção da Educação Ambiental no currículo em todos os níveis de ensino.

Ainda na investigação sobre “Quais?” atividades são conhecidas pelos estudantes relacionadas à Educação Ambiental na escola, alcançou-se as seguintes explicações informadas na Figura 2, que relaciona dados da resposta das Questões 2 (Q.I) e 2 (Q.F) respectivamente.

Figura 2: Atividades realizadas na escola relacionadas à Educação Ambiental a) Q.I – b) Q.F

Fonte: Autor

A partir dos dados da Figura 2 foi possível perceber que no (Q.I) os estudantes descreveram em suas respostas as atividades que compreendem estar relacionadas com a Educação Ambiental na Escola das quais se observa que 10 estudantes não responderam ou desconheciam qualquer atividade que estivessem ligadas à Educação Ambiental, 9 estudantes relacionam temas referentes ao Lixo como práticas adotadas como Educação Ambiental na Escola e 1 estudante descreve o cuidado com árvores e flores como atividade de Educação Ambiental realizada na Escola.

Conforme Marçal (2005), os problemas ambientais como lixo, desmatamento e poluição são os mais lembrados pelos alunos por serem problemas noticiados com frequência pela televisão. Entretanto vemos um contraste muito significativo em que 50% dos estudantes desconheciam atividades relacionadas à Educação Ambiental, o que evidencia um número muito representativo, visto que mesmo que a EA seja tratada nas diversas disciplinas do currículo escolar ou até mesmo na disciplina de Ciência por tratar com mais constância nos livros didáticos do 6º ano do Ensino Fundamental, essa prática não deve estar apenas subentendida pelos alunos, mas deve estar de forma explicitada para estes. Deste modo, por meio do conhecimento desta prática os estudantes desenvolveram habilidades e conhecimentos, além de estarem confiantes e seguros ao serem questionados acerca da temática ambiental. Também deve considerar a construção de uma consciência política e crítica perante os temas transversais do ensino. Devem-se estimular discussões que possibilitem e evidenciem a visão analítica e crítica em relação aos temas ambientais, afim de que os estudantes possam ter a capacidade de compreender e interpretar os fatos inerentes a sua realidade, para que suas ações, segundo Dias (2001) possam contribuir com um ambiente socialmente justo, ambientalmente corretas e economicamente viáveis. 

Após a aplicação da Sequência Didática pode-se perceber que os estudantes demonstraram em suas respostas uma variedade de temas que são tratados na escola sobre Meio Ambiente e Educação Ambiental como mostra a Figura 2b. Destaca-se ainda aqueles 10 estudantes que não responderam no (Q.I) como mostra a Figura 2a sobre atividades relacionadas à Educação Ambiental, agora contribuem ao citar temas que antes não reconheciam ou não citaram como parte de temas voltados para a Educação Ambiental; observou-se ainda que todos os estudantes correlacionam algum tema diretamente ligado à Educação Ambiental tratados na escola.

Uma forma de repensar a temática ambiental nos dias de hoje é incorporar ao currículo escolar sistemas que permitam trabalhar de forma multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar o conhecimento acerca da Educação Ambiental de forma clara para os alunos. Esse conhecimento propicia a formação de cidadãos suficientemente informados, conscientes e preparados para modificar o presente, para que as questões ambientais possam ser não apenas discutidas, mas que busquem soluções para estas (LUCATTO; TALAMONI, 2007).

Nesse sentido, a Educação Ambiental fornecida no âmbito escolar terá como possibilidade que os estudantes e a comunidade escolar se apropriem de conhecimentos produzidos ao longo do tempo, buscando assim valores que possam contribuir para o desenvolvimento e melhoria do modo de viver. Dessa forma, Carvalho (2004) afirma que a Educação Ambiental se faz necessária como obrigação legal, ética e moral da escola, uma vez que a atualidade pede mudanças profundas de valores e comportamentos humanos. Assim sendo, a EA, nas suas diversas possibilidades, abre um estimulante espaço para repensar práticas sociais. É papel dos professores mediar e transmitir um conhecimento suficiente para que os alunos tenham a possibilidade de adquirir uma base adequada de compreensão do meio ambiente global e local, impulsionando transformações por meio de ações individuais e coletivas num modelo educacional que assuma um compromisso com a desconstrução de práticas que afetam o Meio Ambiente, buscando na formação de valores a construção de uma cultura que valorize e ponha em prática a Educação Ambiental afim de que a sustentabilidade torne-se parte essencial de um processo coletivo.

"Processo em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o enfrentamento das questões ambientais e sociais. Desenvolve-se num contexto de complexidade, procurando trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a transformação social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política" (BRASIL, 2011).

Tal percepção possibilitaria uma visão mais ampla da interdependência dos problemas e soluções relacionados ao meio em que vivemos, superando o reducionismo e estimulando o pensamento voltado para um meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes.

A cada dia que passa a questão ambiental tem sido considerada como uma questão que precisa ser trabalhada com toda a sociedade e principalmente nas escolas, pois as crianças bem informadas sobre os problemas ambientais vão ser adultas mais preocupadas com o meio ambiente, além do que elas vão ser transmissores dos conhecimentos que obtiveram na escola sobre as questões ambientais em sua casa, família e vizinhos” (MEDEIROS et al., 2011,p.2)

No intuito de investigar qual o conhecimento dos estudantes sobre Educação Ambiental, foram questionados no (Q.I) na Questão 3 “O que você entende por Educação Ambiental?”. Obteve-se as seguintes respostas demostrando as conexões com a Educação Ambiental mostradas no Quadro 01.

Quadro 1: (Q.I) - O que você entende por Educação Ambiental?

ALUNO

RESPOSTA

A 01

A educação ambiental é como você joga o lixo no lugar certo.”

A 02

Não jogar lixo nas ruas, nos rios, porque se não nossa cidade seria um lixão.”

A 03

Cuidar da natureza e Meio ambiente.”

A 04

Ter respeito ao meio ambiente, não cortar árvores, não jogar lixo de casa na rua ou no rio.”

A 05

É a educação que conscientiza sobre a reciclagem, reutilização do material lixo, já reutilizado.”

A 06

Cuidar do meio ambiente se não haverá consequências para a cidade, separar o lixo, não jogar o lixo no chão.”

A 07

Não jogar lixo em rios, porque podem prejudicar os seres vivos e o meio ambiente.”

A 08

É quando você recicla o lixo, cuidar do meio ambiente e não poluir a cidade.”

A 09

Cuidar das plantas, não jogar lixo em qualquer lugar, cuidar dos rios.”

A 10

É quando não devemos poluir nossas ruas, rios, escolas e praças.”

A 11

Não respondeu”

A 12

Uma coisa que a gente aceita e que devemos fazer com a natureza.”

A 13

Uma coisa que devemos saber para preservação.”

A 14

É cuidar do meio ambiente para não ter consequências como jogar lixo nas ruas, nas calçadas, no rio; plantar arvores e evitar o desmatamento.”

A 15

Não respondeu”

A 16

Preservar o nosso planeta, não jogar lixo nos rios e na grama.”

A 17

Separar lixo e comida para cuidar do nosso mundo, não crescer poluição e estragar nosso planeta.”

A 18

Não jogar lixos nas ruas, não destruir meio ambiente, assim você estará fazendo sua parte e também ter uma cidade limpa e bem cuidada.”

A 19

Cuidar do nosso meio ambiente, sem poluir, reciclando, mas infelizmente muitas pessoas não nos ajudam”.

A 20

Não respondeu”

Fonte: Autor

Constata-se por meio das respostas presentes no Quadro 1 que os estudantes mostram várias percepções que são intrínsecas à Educação Ambiental, tais como: meio ambiente, lixo, reciclagem, reutilização de materiais, respeito e o cuidado com seres vivos, rios, lagos, praças, escola; preservação o planeta; corte de árvores, desmatamento, poluição de rios, lagos. Temas esses que indicam que os alunos entendem como pertencentes à temática da Educação Ambiental. É preciso compreender que as concepções trazidas pela EA não são neutras e sim ideológicas (TOZONI-REIS, 2008). Para isso é importante que, mais do que informações e conceitos que a Escola se disponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores e com mais ações práticas do que teorias para que o aluno possa aprender a amar, respeitar e praticar ações voltadas à conservação do Meio Ambiente propagando a Educação Ambiental. Segura traz uma reflexão importante no que tange à Educação Ambiental.

Quando a gente fala em Educação Ambiental pode viajar em muitas coisas, mais a primeira coisa que se passa na cabeça do ser humano é o meio ambiente. Ele não é só o meio ambiente físico, quer dizer, o ar, a terra, a água, o solo. É também o ambiente que a gente vive – a escola, a casa, o bairro, a cidade. É o planeta de modo geral. (...) não adianta nada a gente explicar o que é efeito estufa; problemas no buraco da camada de ozônio sem antes os alunos, as pessoas perceberem a importância e a ligação que se tem com o meio ambiente, no geral, no todo e que faz parte deles. A conscientização é muito importante e isso tem a ver com a educação no sentido mais amplo da palavra. (...) conhecimento em termos de consciência (...). A gente só pode primeiro conhecer para depois aprender amar, principalmente, de respeitar o ambiente (SEGURA, 2001, p.165).



No (Q.F) na Questão 3 quando questionados sobre “Você acha que a Educação Ambiental é importante e tem que ser ensinada nas Escolas?”, obteve-se 100% das afirmativas dizendo “Sim”; que é importante e deve ser ensinada na Escola. Também no (Q.F) foi pedido para comentar “O que você acha de aprender Educação Ambiental na Escola?”, obteve-se as seguintes respostas como mostra o Quadro 2.

Quadro 2: (Q.F) – O que você acha de aprender sobre Educação Ambiental na escola?

ALUNO

RESPOSTA

A 01

Devemos cuidar do Meio Ambiente / Planeta”.

A 02

Importante para as crianças aprenderem desde cedo a não fazer o que os adultos fizeram. Jogar lixo nas ruas e jogar lixo no lugar errado”.

A 03

Acho muito bom porque as pessoas não se preocupam com o meio ambiente e isso tem que mudar”.

A 04

Eu acho muito bom, pois as pessoas não sabem para onde vai o lixo”.

A 05

Bom, pois assim as próximas gerações podem ajudar a cuidar do meio ambiente”.

A 06

FALTOU

A 07

Importante para aprender a preservar, aprender jogar o lixo no lixo”.

A 08

Importante para não cometer os mesmos erros”.

A 09

Para não ficar jogando tanto papel, não tomar toda hora água”.

A 10

Sim porque as crianças tem que saber o que está acontecendo com o nosso planeta”.

A 11

Acho bom, pois os professores podem ensinar sobre o lixo”.

A 12

Acho bom, pois os alunos vão saber sobre Educação Ambiental e saber lidar com essas coisas”.

A 13

É bom saber sobre o meio ambiente e como cuidar do nosso planeta”.

A 14

É bom pra aprender a como melhorar e incentivar e ter cuidado com o meio ambiente”.

A 15

Importante para aprender a preservar”.

A 16

Aprofundar mais o assunto”.

A 17

Vai ser muito legal, aprender coletar lixo na escola, jogar lixo no local certo”.

A 18

FALTOU

A 19

Às vezes é chato, mas às vezes é legal, mas acho bom aprender sobre Educação Ambiental”.

A 20

Interessante”.

Fonte: Autor

Nota-se nas respostas relatadas no Quadro 2 o quão importante é a Educação Ambiental para a Educação e para os estudantes quando permite-se refletir diversas questões ambientais e no final perceber a sistematização que as reflexões causaram ao expressar suas idéias. Em outras palavras, a Educação Ambiental permite incluir valores, capacidades, conhecimentos, responsabilidades e aspectos que promovem o progresso das relações éticas entre as pessoas, seres vivos e a vida no planeta; assim preparar o indivíduo para exercer sua cidadania, possibilitando uma participação efetiva nos processos sociais, culturais, políticos e econômicos relativos ao Meio Ambiente.

O desenvolvimento do pensamento frente às questões ambientais dos estudantes acontece gradativamente e à medida que toma consciência do mundo em que vive, sendo que essa tomada de consciência ocorre de diferentes maneiras. Conforme crescem as crianças, aumentam a consciência e o contato com fenômenos naturais e fatos sociais, o que os leva a apresentar questões sobre os mesmos, fazer a junção de informações, se organizarem para explicações e por fim, exteriorizar em suas respostas. Assim sendo, o estudante terá possibilidade de que ocorram mudanças importantes relacionadas ao seu modo de conceituar a natureza e a cultura (BRASIL, 1998, p.169).

A Educação Ambiental é evidenciada como a melhor alternativa para instigar a consciência crítica na população em geral, a partir da análise dos problemas por ela vivenciados, e determinar sua participação na solução destes problemas (SILVA et al, 2007). A maneira de perceber o ambiente determina o grau de preservação que os indivíduos estão dispostos a exercer sobre o meio e no presente estudo acredita-se ter-se despertado nos alunos uma visão do meio ambiente.

As rodas de conversas saíram dos alpendres e chegou à escola como uma estratégia de ensino, e como caminho natural, alcançou as pesquisas educacionais. Assim, a roda de conversa não é algo novo, a ousadia é empregá-la como meio de produzir dados para a pesquisa qualitativa. A informalidade das rodas de conversa nos pareceu propícia por causar um clima de intimidade, que propiciava a exploração de argumentos, sem necessariamente se chegar a conclusões e prescrições (SILVA et al, 2007).

O diálogo no desenvolvimento da sequência didática favorece o espaço de formação, de troca de experiências, de confraternização, de desabafo, muda caminhos, forja opiniões, razão por que a Roda de Conversa surge como uma forma de reviver o prazer da troca e de produzir dados ricos em conteúdo e significado para a pesquisa na área de educação bem como nas correlações sobre a Educação Ambiental. No contexto da Roda de Conversa, o diálogo é um momento singular de partilha, uma vez que pressupõe um exercício de escuta e fala. Como afirma Paulo Freire (2006), a prática envolve um movimento dinâmico e dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer.

As colocações de cada participante são construídas a partir da interação com o outro, sejam para complementar, discordar, sejam para concordar com a fala imediatamente anterior. Conversar, nesta acepção, remete à compreensão de mais profundidade, de mais reflexão, assim como de ponderação, no sentido de melhor percepção, de franco compartilhamento. Fica notável quando um elemento não aparece no discurso do aluno, os colegas complementam permitindo que o aprendizado não seja apenas linear, mas um ensino dinâmico e interativo na formação integral do aluno (Zabala, 1998, p. 199). É preciso muitas vezes romper as barreiras entre o professor e o aluno, onde o dialogo seja por igual ou ainda colocar o outro no centro da discussão, assim, a centralidade nos sujeitos praticantes da vida cotidiana dessa escola, o que é um aspecto necessário para a compreensão da realidade em sua complexidade.

A roda de conversa e sua idiossincrasia conduziram a pesquisa durante a Sequência Didática e tornaram possível a compreensão de dados que, talvez, não viessem à tona se não fossem despertados pelo interesse no diálogo e na partilha. Assim, a roda de conversa se firma como um instrumento de produção de dados da pesquisa narrativa, em que é possível haver uma ressonância coletiva, na medida em que se criam espaços de diálogo e de reflexão.

Fernandes et al.(2004) contribui ao afirmar que cada indivíduo percebe, reage e responde diferentemente às ações sobre o ambiente em que vive. As respostas ou manifestações daí decorrentes são resultados das percepções (individuais e coletivas), dos processos cognitivos, julgamentos e expectativas de cada pessoa.

Observa-se que os estudantes possuíam conhecimentos prévios, mas ao entrarem em contato com os conhecimentos que foram apresentados na Escola durante a aplicação da Sequência Didática sobre a Pegada Ecológica do lixo, eles tiveram um novo olhar, um olhar de interpretação e leitura, na qual os estudantes demonstram as situações que evidenciam aprendizagem. Tem que se considerar muito importante que o trabalho desenvolvido na Escola, seja reflexo ou continuidade do que o aluno possui fora dela. Um dos grandes problemas é que, segundo Penteado, “pouco se leva da escola para a vida e assim a vida vai se repetindo, se conservando, perpetuando e multiplicando os seus problemas” (PENTEADO, 2010, p. 60). É imprescindível que a EA seja realizada tanto na escola como na comunidade em que vivem grupos de amigos, família, mas sem dúvida a escola é um espaço privilegiado para promovê-la, pois “a escola é um espaço que proporciona a integração no convívio social e o pleno desenvolvimento do aluno de forma integral, sendo esta uma de suas principais finalidades” (LANG e GODO, 1999, p.130).

Ao compreender as diversas conexões do cotidiano do estudante sobre a Educação Ambiental entende-se que os estudantes se apropriam da Educação Ambiental sendo construída com a soma de diversos fatores que envolvem fenômenos naturais, econômicos e sociais.

Considerações finais

Por meio deste estudo pode-se observar que ainda há muitos desafios a serem superados no que destacamos a Educação Ambiental no Ensino de Ciências. Este trabalho oportunizou conhecer mais sobre o contexto da Educação Ambiental, e colocar em prática através da aplicação do tema para os alunos, as técnicas e conceitos adquiridos teoricamente. Verificou-se que a Educação Ambiental é um tema polêmico, com um leque muito grande de conceitos e caracterizações, porém, deve ser efetivamente tratada com a relevância e urgência que ela necessita. O problema socioambiental ainda é encarado como um problema de comportamentos individuais e acreditam na sua solução através da mudança de comportamento dos indivíduos em sua relação com o ambiente.

Os resultados demonstram que os alunos gostariam que os problemas ambientais estivessem presentes nas discussões na sala de aula, inserindo-se a Educação Ambiental dentro das disciplinas do currículo para auxiliar na plenitude da formação educativa transformadora e emancipatória. Sendo assim é importante é fundamental que cada aluno desenvolva as suas potencialidades e adote posturas pessoais e comportamentos sociais construtivos, colaborando para a construção de uma sociedade social e ambientalmente justa, em um ambiente saudável.

Concluiu-se a partir deste estudo que é preciso que a Educação Ambiental esteja presente de forma implícita e explícita nos currículos para que os seus objetivos possam se concretizar nas ações individuais e na coletividade, construindo-se assim valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do Meio Ambiente. E ainda que haja o rompimento com práticas isoladas e pontuais e com a educação mecanicista e conservadora, permitindo assim que a Educação Ambiental seja integrada ao currículo do Ensino de Ciências. O desenvolvimento de ações integradas e participativas potencializará as discussões que emergem das relações entre os seres humanos, a sociedade e a natureza. Portanto, ressalta-se que deve existir a preocupação em estabelecer, no contexto educativo, a compreensão do respeito à sociedade com enfoque na perspectiva de transformação social e na formação de alunos críticos, humanizados e emancipados.

Diante disso, percebe-se que a Educação Ambiental é um instrumento importante para se alcançar uma nova postura perante ao meio ambiente, considerando a Educação Ambiental um processo de aprendizagem contínua baseado na melhoria da qualidade de vida e promoção da consciência individual gradativa. Além disto, é necessário e fundamental, que seja feita uma reflexão sobre as nossas escolhas pessoais e coletivas e nossas responsabilidades perante as atuais e futuras gerações, visto que existem muitas incertezas e inseguranças causando relutância e divisões. Assim, estas discussões em torno da implementação e inserção da Educação Ambiental nas escolas, tem de ultrapassar as paredes burocráticas e chegar rapidamente, às salas de aula, e isto não pode acontecer apenas por obra de um professor ou de um grupo, ou escola ou rede, estas discussões têm de ganhar status de política de Estado e permear toda sociedade.

É necessário que o Ensino de Ciências não seja mais visto como uma simples transmissão de conceitos, mas sim como construção de conhecimentos para que o processo de ensino-aprendizagem tenha sentido. A Educação Ambiental é hoje o instrumento mais eficaz para se conseguir criar e aplicar formas sustentáveis de interação entre o homem e a natureza. É o caminho para que cada indivíduo assuma suas responsabilidades em busca de uma melhor qualidade de vida e redução dos impactos ambientais. Com base no estudo apresentado concluiu-se que a disciplina de Ciências, por se tratar de uma potencial ponte entre as demais disciplinas permite por meio dessa interação a extensão da Educação Ambiental para as demais disciplinas inter-relacionadas em todos os níveis de ensino.

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Ilustrações: Silvana Santos