CENTRO
DE CONSERVAÇÃO DA FAUNA SILVESTRE DE ILHA SOLTEIRA/SP
(CCFS): UM RESGATE HISTÓRICO
Gabriela
de Souza Peres Carvalho1,
Elizete Aparecida Checon de Freitas Lima2,
Lucio de Oliveira e Sousa3,
Vanessa Veronese Ortunho4,
Narah Vieira Peres5,
Gaby Soares de Freitas6,
Julia Medeiros Mercado7
1Graduanda
em Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita
Filho” – UNESP – Campus de Ilha Solteira, email:
gspczootecnista@gmail.com
2Departamento
de Biologia e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Julio
de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de Ilha
Solteira
3Centro
de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira,
Médico Veterinário
4Departamento
de Biologia e Zootecnia, Universidade Estadual Paulista “Julio
de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de Ilha
Solteira
5Mestranda
em Ciência e Tecnologia Animal, Universidade Estadual Paulista
“Julio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de
Ilha Solteira
6Mestranda
em Ciência e Tecnologia Animal, Universidade Estadual Paulista
“Julio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de
Ilha Solteira
7Aprimoranda
no Programa de Aprimoramento Profissional, Fundação
Parque Zoológico de São Paulo
Resumo:
O Centro de Conservação da Fauna Silvestre (CCFS) de
Ilha Solteira/SP, criado pela CESP em 1979, inicialmente recebeu
animais que tiveram seus habitats perdidos, ou afetados pelas
inundações causadas por empreendimentos hidrelétricos.
Atualmente, recebe animais apreendidos em decorrência de
tráfico da fauna silvestre e de maus tratos, além de
vítimas de atropelamentos. O objetivo do presente trabalho foi
realizar um resgate histórico CCFS, de modo a permitir que as
próximas gerações conheçam seu histórico
e entendam sua importância, especialmente considerando a
conservação da biodiversidade e a educação
ambiental. Os dados foram coletados do arquivo morto e do acervo
digital do CCFS, abrangendo o período desde sua abertura até
2016. Os resultados indicaram que o CCFS teve uma atuação
expressiva na conservação de espécies da fauna
nativa, mantendo intercâmbio com outras instituições
no Brasil e em outros países. Muitos projetos de pesquisa
foram desenvolvidos no CCFS, alguns deles em parceria com outras
instituições. A atuação do CCFS como um
espaço não formal de educação ambiental
foi significativa, com o atendimento de 33.541 estudantes no período
investigado. Além disso, mais de 400.000 pessoas visitaram o
CCFS, desde sua criação, o que demonstra seu papel como
importante espaço de lazer ao ar livre para a população
de Ilha Solteira.
Palavras-chave:
conservação da biodiversidade, educação
ambiental, fauna silvestre.
Abstract:
The
Wildlife Conservation Center (CCFS) of Ilha Solteira/SP, created by
CESP in 1979, initially received animals that had their habitats lost
or affected by floods caused by hydroelectric projects. Currently, it
receives animals seized as a result of trafficking in wildlife and
maltreatment, as well as victims of road killings. The objective of
the present work was to carry out a historical rescue of CCFS, in
order to allow the next generations to know their history and
understand its importance, especially considering biodiversity
conservation and environmental education. The data were collected
from the CCFS digital archives, covering the period from its opening
until 2016. The results indicated that the CCFS had a significant
role in the conservation of species of native fauna, maintaining
interchange with other institutions in Brazil and in other countries.
Many research projects were developed in CCSF; some of them in
partnership with other institutions. The performance of the CCFS as a
non-formal space for environmental education was significant, with
the attendance of 33541 students in the period investigated. In
addition, more than 400,000 people have visited the CCFS since its
opening, which demonstrates its role as an important outdoor leisure
space for the population of Ilha Solteira.
Key-words:
biodiversity conservation, environmental education, wildlife.
Introdução
Os Zoológicos operam num mundo
de crescentes ameaças ambientais e de redução da
biodiversidade. Nos últimos dez anos, as alterações
climáticas, a sobre exploração dos recursos
naturais, o aumento do impacto negativo por parte de espécies
invasoras e a degradação global do ambiente têm
continuado. O valor e a vulnerabilidade das espécies e dos
ecossistemas e a sua influência nos seres humanos tem sido
pouco refletido, além disso a percepção do
público tem estado focada em conflitos, secas, fome e
migrações, em vez das causas de base ligadas à
utilização dos recursos naturais (WAZA, 2005).
Zoológicos,
aquários e jardins botânicos podem operar no espectro
total das atividades de conservação da biodiversidade,
desde a reprodução ex
situ de espécies
ameaçadas, à investigação, educação
e formação do público, além de também
exercerem influência e advogar o apoio à conservação
in situ.
Esses espaços têm um “público-cativo”
vasto e único, cujo conhecimento, compreensão, atitude,
comportamento e envolvimento podem ser positivamente influenciados e
mantidos. Dispõem de enormes recursos em termos de capacidades
técnicas e de profissionais dedicados, porém não
é só questão de salvar espécies e
habitats, mas para que esses espaços sejam bem sucedidos
necessitam também de cooperação e de uma
abordagem global. A especialidade em coleções de
animais vivos de todo o mundo, com uma rede de trabalho global, pode
desempenhar um papel fundamental na promoção da
cooperação para a conservação da
biodiversidade numa escala global (WAZA, 2005).
A
cidade de Ilha Solteira teve sua origem em 1968 como um núcleo
habitacional, planejado para receber os trabalhadores que atuariam na
construção da Usina Hidrelétrica (UHE) de Ilha
Solteira, iniciada em 1965. Em 1979, a CESP (Companhia Energética
de São Paulo), responsável na época pelo
empreendimento, criou o Parque Zoológico de Ilha Solteira/SP.
Em 1981, o presidente do extinto IBDF - Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal concedeu o registro de estabelecimento de
Criação de Animais Nativos, com finalidade cultural e
científica.
Nomeado
de Centro de Conservação da Fauna Silvestre de Ilha
Solteira/SP pela CESP, inicialmente reabrigou os animais que tiveram
seus habitats perdidos, ou afetados pelas inundações
causadas por seus empreendimentos.
Atualmente, recebe animais
provenientes do tráfico através do Corpo de Bombeiros e
da Polícia Ambiental, e vítimas de atropelamentos e
maus tratos. Também realiza trabalhos de educação
ambiental através de visita monitorada, também
oferecendo visitas abertas ao parque nos finais de semana.
Segundo a Companhia Energética
de São Paulo (2017), o CCFS ocupa uma área de
aproximadamente 18 hectares, coberta por remanescente das fisionomias
Floresta Estacional Semidecidual (Mata de Planalto) e Savana Arbórea
(Cerradão). As instalações compreendem uma área
aberta à visitação pública com 34
recintos de tamanhos e características diversas, totalizando
17.136,55m². Há um Centro de Recepção e
Triagem dos animais (CRT), com 22 recintos de tamanhos diversos (com
391,26 m²), onde os animais em tratamento veterinário,
quarentena ou aguardando destinação são
abrigados.
Ainda possui
edificações de apoio, como escritórios, sala de
preparação de alimentos, biotério, ambulatório
veterinário, sala de cirurgia, sala de necropsia, quiosque
para lanche e recepção dos visitantes, guarita de
entrada de serviços, sanitários e guarita de entrada de
visitantes.
O
CCFS é filiado a Sociedade de Zoológicos e Aquários
do Brasil (SZB), além de participar dos (PANS) Planos de Ação
Nacional para a Conservação das Espécies
Ameaçadas de Extinção: Onça Pintada
(Panthera onca),
Cervídeos, Lobo Guará (Crysocyon
brachyurus) e Onça
Parda (Puma
concolor), sob
coordenação do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade
(ICMBio).
Também
fornece dados para Studbooks realizados pela AZA (Association of Zoos
e Aquariums), que documentam o pedigree e histórico
demográfico de cada animal dentro de uma população
administrada entre as instituições associadas. O CCFS
coopera com dados do Mutum de Penacho (Crax
fasciolata), Tamanduá Bandeira
(Myrmecophaga tridactyla),
Bugio (Alouatta caraya)
e Lobo Guará (Crysocyon
brachyurus) e no início do
Cachorro Vinagre (Speothos venaticus).
Essa parceria de cunho internacional entre Zoológicos, deixam
um legado para as próximas gerações, referências
que podem ser utilizadas para auxiliar as espécies ao longo do
tempo. Esses contatos são importantes para a conservação
a nível mundial, instituições cooperando e
trabalhando em prol do mesmo objetivo.
Segundo Auricchio (1999), o zoológico
também surge como um local de disseminação de
informações sobre a fauna. A aprendizagem sobre a
diversidade da vida animal pode ser significativa mediante
oportunidades de contato com uma variedade de espécies
observadas e conhecidas, ou seja, quanto mais contato com aquilo que
se deseja proteger, maior a empatia, maior a sensibilização
e, assim, aumentam-se as chances de obter sucesso com a
conscientização ambiental.
O objetivo do presente trabalho foi
realizar um resgate histórico do CCFS, de modo que sirva para
as próximas gerações conhecerem e entenderem sua
importância, especialmente considerando a conservação
da biodiversidade e a educação ambiental.
Metodologia
Foram coletados os dados do arquivo
morto e do acervo digital da recepção do Centro de
Conservação da Fauna Silvestre de Ilha Solteira,
abrangendo o período de sua abertura em 1979 até 2016.
A coleta dos dados no arquivo morto
foi feita por meio de fotografias dos Relatórios Anuais de
Atividades Desenvolvidas, separadas em pastas de acordo com o ano de
cada relatório. O acervo digital também foi separado
utilizando a metodologia já citada.
Os dados foram agrupados em tabelas de
acordo com o ano e informação (Exemplo: Entrada e saída
de animais, taxa de natalidade, taxa de mortalidade, animais
provenientes de apreensão/resgate, entre outras) utilizando o
Excel 2010, depois organizados em gráficos para facilitar a
visualização.
Resultados
e Discussão
Para
facilitar a compreensão e visualização dos
números, os dados foram agrupados da seguinte maneira: 1.
Educação ambiental, 2. Entrada e saída de
animais e 3. Conservação e Pesquisas.
Educação
ambiental
Visita
aberta: onde o
parque fica aberto aos finais de semana para que a população
visite os animais. Há placas educativas no caminho da visita
que auxiliam na conscientização do visitante.
Visita técnica:
é uma oportunidade para alunos de graduação de
toda a região (onde situam-se uma universidade pública
e faculdades privadas com cursos de Agronomia, Ciências
Biológicas, Medicina Veterinária e Zootecnia). Esta
modalidade contempla ao estagiário 120 horas de experiência,
onde pode executar atividades de limpeza dos recintos, prática
de preparo de alimentação dos animais do plantel,
distribuição das refeições, atividades
de manejo para reprodução e manutenção
dos animais vivos e acompanhar os procedimentos de contenção
física e métodos veterinários, trabalho de
coleta de material biológico, alunos durante visita
monitorada e atividades de EA. Além de conhecer sobre
equipamentos gerais utilizados em manejo de animais, produtos
anestésicos para contenção química de
animais e mecanismos e funcionamento da zarabatana (utilizada para
contenção química de animais de grande porte).
Figura
1
– Autora durante Visita técnica no ano de 2014,
auxiliando em atividades de EA, onde criança com necessidades
especiais pode ver a diferença de temperatura do metabolismo
de mamíferos e répteis através do corpo.
