PERCEPÇÕES
AMBIENTAIS DE ESTUDANTES DO INSTITUTO ESTADUAL PAULO FREIRE DE
URUGUAIANA, SOBRE O TRABALHO DOS CATADORES/AS DE RESÍDUOS
SÓLIDOS
Luci
Paola Paré da Rosa- Universidade
Federal do Pampa, Campus
Uruguaiana/RS
(lu_pare@hotmail.com)
Edward
Frederico Castro Pessano- Universidade
Federal do Pampa, Campus
Uruguaiana/RS
(edwardpessano@unipampa.edu.br)
Resumo
Os
resíduos em geral tem contribuído para o agravamento da
crise socioambiental, influenciada por
um sistema capitalista, o qual estimula de diferentes formas a
produção, o consumo e a geração de
resíduos, descartados
indiscriminadamente no ambiente, sem receber o tratamento adequado.
Os catadores/as de resíduos sólidos, que contribuem
neste processo para sua reciclagem e sua subsistência, embora
seja considerada uma classe de trabalhadores/as excluída da
sociedade. A presente investigação, tem como
pressuposto, identificar a percepção ambiental de
estudantes do ensino médio, em relação ao
trabalho desenvolvido pelos catadores/as de resíduos sólidos,
buscando a partir deste diagnóstico, delinear estratégias
em Educação Ambiental. Os resultados permitirão
a elaboração de estratégias que contribuirão
para a valorização destes profissionais e da política
de destinação dos resíduos. O trabalho foi
desenvolvido na cidade de Uruguaiana, onde foram investigadas duas
turmas de segundo ano da escola Instituto Estadual Paulo Freire por
meio de questionário semiestruturado. Foi possível
constatar que as percepções dos educandos/as sofre
forte influência dos meios de comunicação que,
contribuem para construções sociais e culturais,
principalmente ao consumismo ao revelarem percepções
antropocêntricas em relação ao ambiente e
resíduos, embora evidenciem a percepção
política social, fundamental para a formação de
sujeitos críticos. Consideramos a temática trabalhada
de extrema importância, reveladora politica e socialmente das
injustiças ambientais. Sendo assim, é preciso cada vez
mais efetuar uma ampliação dos processos educacionais
para com a realidade dos estudantes, proporcionando uma interação
entre a formação escolar e a sociedade. Desta forma
será possível atingirmos os principais objetivos dos
processos educacionais e possibilitar a construção de
novos conhecimentos e formação de sujeitos, cheios de
significados e com estudantes alfabetizados cientificamente e
preparados para a vida em sociedade.
Palavras-chave:
percepção, catadores/as, resíduos.
Environmental
perceptions of students of Institute
State Paulo
Freire in
Uruguaiana, on the work of
collectors solid waste
Luci
Paola Paré da Rosa (lu_pare@hotmail.com)
Edward
Frederico Castro Pessano (edwardpessano@unipampa.edu.br)
Abstract
Waste
has generally contributed to the aggravation of the
socio-environmental crisis, influenced by a capitalist system, which
stimulates production, consumption and generation of waste in
different ways, discarded indiscriminately in the environment without
receiving adequate treatment. Solid waste pickers, who contribute in
this process to their recycling and subsistence, although it is
considered a class of workers excluded from society. The present
investigation has as presupposition to identify the environmental
perception of high school students in relation to the work done by
solid waste collectors, seeking from this diagnosis, to outline
strategies in Environmental Education. The results will allow the
elaboration of strategies that will contribute to the valorization of
these professionals and the policy of destination of the residues.
The study was carried out in the city of Uruguaiana, where two
second-year classes of the Paulo Freire State Institute were
investigated through a semi-structured questionnaire. It was possible
to verify that the students' perceptions are strongly influenced by
the media, which contribute to social and cultural constructions,
mainly to consumerism, by revealing anthropocentric perceptions
regarding the environment and waste, although they show the social
political perception, fundamental for the training of critical
subjects. We consider the thematic work of extreme importance,
revealing politically and socially the environmental injustices.
Therefore, it is increasingly necessary to open the educational
processes to the reality of the students, providing an interaction
between school education and society. In this way it will be possible
to reach the main objectives of the educational processes and enable
the construction of new knowledge and
formation of subjects,
full of meanings and with students scientifically literate and
prepared for life in society.
Keywords:
perception, waste pickers, waste.
Introdução
Os
resíduos sólidos são considerados um grande
problema social, econômico e ambiental para a sociedade e por
contribuir em muito para o agravamento da crise ambiental, ganhou
diferentes aliados, entre estes os catadores de materiais
recicláveis. Esses atores sociais são considerados por
muitos especialistas, como imprescindíveis para a realização
de serviços de limpeza das cidades, colaborando ao efetuar a
coleta seletiva e impedindo que parte dos resíduos recicláveis
siga
para
os lixões, contribuindo assim para a preservação
ambiental e para a reciclagem (BORTOLI,
2013).
A
presente investigação foi desenvolvida na escola
Instituto Estadual Paulo Freire, localizada no bairro União
das Vilas, da cidade de Uruguaiana/ RS, em virtude, de a escola estar
inserida em uma comunidade periférica e de caráter
carente no município de Uruguaiana, RS. Na referida localidade
existem muitas famílias que realizam a atividade de catadores
de materiais recicláveis, tanto de forma individual ou através
de associações.
Podemos
destacar ainda, que esta escola apresenta uma proposta pedagógica
baseada na perspectiva Freireana, a qual valoriza a preparação
dos educandos/as para a vida partindo de um processo de construção
cognitiva alicerçada na realidade do educando. O
Instituto segue os preceitos do educador Paulo Freire que, através
dos seus princípios inseridos na filosofia e no cotidiano da
escola, busca uma formação mais Humanizadora e de
cidadãos/ãs capazes de interagir na sociedade. Conforme
afirma Paulo Freire (1996):
Educação
é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção
que além do conhecimento dos conteúdos bem ou mal
ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço de
reprodução da ideologia dominante quanto o seu
desmascaramento.
A
abordagem da educação ambiental na escola deve buscar
uma maior participação de educandos na solução
de problemas ambientais, equilibrando atitudes humanas com os demais
seres vivos em conjunto com os fatores ambientais, conforme já
citado na literatura por Ruiz et al. (2005), estes salientam a
importância da
sensibilização e da mobilização, para a
compreensão do processo de Gestão Integrada de Resíduos
Sólidos. Ainda, Silva
e Leite
(2008) destacam a necessidade da efetivação da
implantação da Lei nº 12.305 (BRASIL, 2010), a
qual institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
“A
educação reconhece a capacidade e o potencial do
educando, que se empodera como sujeito na procura de, e não
como reprodução do efeito do educador” (FREIRE,
2001).
Fica
evidenciada a escola, como um espaço para construção
da cidadania e da utilização da Educação
Ambiental, como importante ferramenta de construção de
uma aprendizagem crítica, permitindo aos sujeitos
compreenderem seu ambiente e a sua sociedade e assim proporcionar o
potencial de transformação do ambiente, em busca do seu
equilíbrio.
A
Educação Ambiental desempenha relevante papel na
educação, proporcionando aos educandos/as novos meios
de perceber o ambiente, contextualizando as diferentes realidades, os
saberes da comunidade, discutindo temáticas que tenham
sentido, reconhecendo sua cultura e transformando sua própria
realidade (SILVA, 2011).
Cabe
destacar ainda, a existência de documentos legais que
reconhecem a relevância e a obrigatoriedade de se incluir em
todas as etapas e modalidades as premissas de Educação
Ambiental no ambiente escolar como: a Lei Federal nº 9.795, de
27 de abril de 1999, que institui a “Política Nacional
de Educação Ambiental” que trata do enfoque
interdisciplinar indispensável para o desenvolvimento da
Educação Ambiental no Brasil e a Resolução
nº 2, de 15 de junho de 2012 que estabelece as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental que
tem como um objeto possibilitar a contextualização com
a realidade de forma reflexiva enquanto seres políticos.
Art.
6º A Educação Ambiental deve adotar uma abordagem
que considere a interface entre a natureza, a sociocultural, a
produção, o trabalho, o consumo, superando a visão
despolitizada, acrítica, ingênua e naturalista ainda
muito presente na prática pedagógica das instituições
de ensino.
O
presente trabalho teve como objetivo central, identificar
e analisar as percepções dos educandos/as sobre o
trabalho dos catadores/as de resíduos sólidos,
buscando a partir deste diagnóstico, delinear estratégias
em Educação Ambiental na busca da valorização
de um melhor entendimento do papel destes profissionais, visando a
compreensão destas ações para a formação
dos estudantes.
Material
e métodos
A
presente pesquisa apresenta caráter exploratória
quali-quantitativa e seu desenvolvimento ocorreu no mês de
Janeiro de 2018 em uma escola pública de ensino médio
chamada Instituto Estadual Paulo Freire, situada na cidade de
Uruguaiana/RS. Trata-se de uma investigação que buscou
obter um panorama das percepções dos estudantes da
escola sobre o trabalho de catadores/as de resíduos sólidos.
Para isso, foram selecionadas duas turmas de 2º ano desta
instituição, totalizando 25 educandos/as, sendo 11
educandos e 14 educandas, a escolha dessas turmas decorreu no sentido
de adequar o tema desta pesquisa aos conteúdos trabalhados
neste ano do ensino.
Para
diagnóstico utilizou-se um questionário semiestruturado
(figura 01) e as respostas passaram pela análise de conteúdo
Bardin (2011), com a finalidade de verificar a percepção
ambiental dos educandos/as sobre o tema. As análises de
percentuais dos dados contemplaram a porção
quantitativa da pesquisa.
Figura
01. Questionário semiestruturado aplicado com os educandos/as
do 2º ano do Instituto Estadual Paulo Freire.
Resultados
e Discussão
O
conhecimento prévio dos educandos/as é de fundamental
importância para um processo mais participativo e reflexivo
crítico de uma Educação Ambiental
transformadora, como afirma Paulo Freire (1996, p. 33) “ensinar
exige respeito aos saberes”. Portanto, ao conhecermos a
realidade existente, é possível agirmos em
favorecimento da melhoria dos processos educacionais, visando uma
formação dos sujeitos de acordo com o preconizado na
legislação, onde os indivíduos construirão
novos conhecimentos que possibilitem ações
transformadoras da sua realidade.
Loureiro
(2002) destaca a relevância da abordagem conceitual baseada na
realidade do estudante, de forma a articular com as problemáticas
socioambientais existentes. Sendo
assim, se deve
considerar as particularidades ambientais dos indivíduos, suas
interações e percepções, das quais surgem
diferentes interpretações, interesses e necessidades,
produzindo a partir de então as divergências, tratativas
e diálogos sobre pertencimento e utilização do
ambiente de forma educativa, direcionada para a condução
de atitudes democráticas do ambiente.
Dos
25 estudantes investigados, 44% destes consideraram que o ambiente é
um lugar para se viver, quando questionados sobre o significado de
meio ambiente, podendo ser observado na resposta de uma educanda que
descreveu: “Meio
ambiente para mim é onde vivemos e o que está ao nosso
redor”.
Indicando que os educandos/as não se reconhecem como parte
integrante do ambiente.
Resultado
semelhante foi encontrado por Costa et al. (2012) ao realizar
pesquisa com educandos/as de uma escola de ensino fundamental em que
33,4% destes/as concebia o Meio Ambiente como o meio que os cerca.
Essas compreensões provavelmente decorrem da interpretação
de o ser humano ser superior (visão antrópica), estando
à parte do ambiente e podendo utilizar seus recursos sem
controle, tornando-o como algo separado do ambiente. Retratando ainda
esta percepção antropocêntrica, salientamos que
20% dos educandos/as consideram o ambiente como algo preservado,
outros 20%, um local com elementos naturais, 8% como fonte de
recursos e 4% para efetuar a separação dos resíduos
(figura 02).
Figura
02- Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo
com Bardin (2011). 1= É lugar para se viver; 2= É um
ambiente preservado; 3= É um local com elementos naturais; 4=
É fonte de recursos; 5= É para efetuarmos a separação
de resíduos; 6= Nenhuma categoria. Fonte: Dados da Pesquisa.
Os
Educandos/as revelaram em sua maioria, 36%, desconhecerem a diferença
entre os termos lixo e resíduo, acreditando que resíduo
é o que vai para o lixo, percebido na resposta de uma
educanda: “Resíduo
são restos de produtos que são jogados fora”.
Logo,
24% descreve como o que polui e apenas 20% acredita que resíduos
são materiais recicláveis, seguido de 8% que se
contrapõem ao considerar que não tem utilidade, com o
mesmo percentual também argumentam ser produto da atividade
humana e 4% como sobras de alimentos (figura 03).
Esse
resultado é interessante, pois a maioria da população
não faz distinção entre lixo e resíduo e,
considera tudo lixo, acreditando que não tem mais utilidade
conforme já salientado por Silva (2007). O resultado deste
desconhecimento é o destino inadequado e o desperdício
de materiais recicláveis e reaproveitáveis.
A
utilização do termo lixo, por ser ainda muito
recorrente nas diferentes formas de comunicação da
sociedade é um reflexo do que pode ser percebido na escola. A
mídia contribui muitas vezes para a falta de clareza ao
abordar a produção de resíduos pela sociedade,
fazendo alusão aos seus índices preocupantes e ao
“lixo”. Da mesma forma cria necessidades e referenciais
simbólicos sobre a sociedade, estereótipos de beleza e
de consumo, preponderantes para a construção de
subjetividades de uma visão capitalista e consumista.
A
escola tem papel fundamental de problematizar estas situações
naturalizadas em nossa cultura, contribuindo para um pensar
dialético, em que o sujeito reflete criticamente e consegue
perceber as contradições e as lutas entre oprimido e
opressor (SCHUTZ, 2015).
Figura
03 - Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo
com Bardin (2011). 1= O que vai para o lixo; 2= Tudo que polui; 3=
Materiais recicláveis; 4= O que não tem utilidade; 5=
Produto da atividade humana; 6= Sobras de alimentos. Fonte: Dados da
Pesquisa.
Esta
percepção que se contrapõem quando educandos/as
responderam que a separação de resíduos
contribui com o trabalho dos catadores/as, como na resposta de um
educando: “Na
minha opinião é importante sim até para a
separação dos lixos secos dos molhados ajuda também
os catadores para terem mais facilidade na hora da reciclagem”,
onde um percentual de 40% dos investigados
manifesta
compreensão, em virtude de muitas famílias dos próprios
estudantes exercerem esta
atividade na comunidade escolar (figura 04).
A
existência de quatro entidades de materiais recicláveis
no bairro União das Vilas em que a escola está situada
é um fato bem importante. Estão referidas pelo Plano de
Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos
(PGIRSU, 2015) da cidade de Uruguaiana (2012) o Centro de educação
Ambiental Nova Esperança II (Ceane), o Cachito Sucatas, a
Associação de Materiais Recicláveis Amigos da
Natureza (ACLAN) e a Associação de Catadores de
Material Reciclável de Uruguaiana (ACMRU), formada
recentemente, o que possibilita uma maior aproximação e
reconhecimento deste trabalho.
O
Ceane foi considerado como Utilidade Pública pela Lei
Municipal nº 3758/2007, possui 51 famílias cadastradas e
a ACLAN fundada em 09/01/2009 e declarada Utilidade Pública
pela Lei Municipal nº 3.907/2009 com o intuito de organizar e
representar as famílias que realizam coleta de materiais
recicláveis diretamente no lixão. Sendo que o Cachito
Sucatas, empresa particular, compra os materiais recicláveis
destas associações e de catadores/as individuais,
realizando entrega e venda diretamente para as recicladoras na região
de Porto Alegre/RS (PGIRSU, 2012).
Educandos/as
declaram acreditar que a separação dos resíduos
é importante para nós mesmos, 20%, 12% pensam ser
positivo em virtude da preservação do ambiente e
redução da poluição, assim como para
viver melhor no ambiente, 8% e 4% destacam ser importante para evitar
doenças. Os dados demonstram ao mesmo tempo a preocupação
em relação aos cuidados com o ambiente e possíveis
consequências dos desequilíbrios ambientais (figura 04).
Figura
04 - Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo
com Bardin (2011). 1= Para contribuir com o trabalho dos
catadores/as; 2= Para nós mesmos; 3= Para a preservação
do ambiente; 4= Para reduzir a poluição; 5= Para viver
melhor no ambiente; 6= Para evitar doenças; 7= Nenhuma
categoria. Fonte: Dados da Pesquisa.
Em
relação ao questionamento sobre o hábito de
separar os resíduos (figura 05) 60% dos educandos/as
entrevistados/as responderam não realizar a separação,
no entanto ao justificar demonstraram reconhecer que deveriam fazer,
alguns até mesmo se comprometem a repensar e iniciar esta
prática, perceptível na resposta de um educando: “Não
tenho porque não sabia para que servia o separamento agora eu
sei e vou começar a separar”.
Apenas
40% dos entrevistados declaram ter o hábito de separar os
resíduos em suas residências, relatando alguns que fazem
a entrega diretamente para catadores/as do bairro, separando
principalmente materiais como garrafas plásticas e latinhas.
Podendo ser destacadas algumas respostas interessantes, reveladoras
da realidade local, como: “Sim,
pois minha vó era catadora daí minha mãe sempre
ensinou a separar; Sim meus pais separam todo o lixo seco do molhado
para facilitar o trabalho das pessoas que vivem da reciclagem; Sim
tenho, pois se já não é fácil para nós
separarmos nosso próprio lixo imagina quem tem que separar o
lixo de todos.
A
coleta de materiais recicláveis no Brasil representa 32% dos
resíduos sólidos urbanos, no entanto, a coleta seletiva
realizada formalmente não é representativa, em torno de
1% de metais e menos de 20% de plásticos. Contudo catadores/as
informais desempenham papel importante para a reciclagem no país
(BRASIL, 2012).
A
coleta seletiva foi implantada no munícipio de Uruguaiana/ RS
no de 2009, realizada por uma empresa terceirizada que recolhe estes
materiais uma vez por semana em cada bairro. A comercialização
dos materiais recicláveis da cidade é efetuada pela
empresa particular Cachito Sucatas, referida anteriormente, revende
aproximadamente 120 toneladas de papelão, 60 toneladas de
latas (alumínio) e 25 toneladas de PET por mês (PGIRSU,
2012).
Figura
05- Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo
com Bardin (2011). 1= Não separam os resíduos; 2=
Separam os resíduos. Fonte: Dados da Pesquisa.
Quando
questionados sobre a percepção em relação
à atividade realizada pelos catadores/as (figura 06)
educandos/as em sua maioria, 44%, reconhece o trabalho dos
catadores/as como agentes ambientais, que contribuem para a redução
da poluição e manutenção do ambiente
limpo e equilibrado, como mencionado por um educando: “Apesar
de ser uma profissão boa de querer limpar o planeta, eles
recebem muito pouco para isso”.
Seguido de 24% para destinar corretamente os resíduos. Através
destas respostas é possível perceber que os
educandos/as se preocupam com uma sociedade que desenvolva atitudes
política e ecologicamente corretas para o bem estar comum.
Considerando que o destino incorreto dos resíduos pode
transmitir doenças pois, ao decompor-se, possibilita o
surgimento de organismos patogênicos e o favorecimento e
proliferação de vetores (WIRZBICKI et al., 2015).
Contudo,
a visão social sobre o trabalho realizado pelos catadores/as
também é observada pelos educandos/as, 4% destacam as
dificuldades desta atividade e 4% como uma possibilidade de mudança
ao ambiente e as pessoas, percepção notada na seguinte
resposta: “Alegria,
porque eles estão tratando de um trabalho muito importante que
vai mudando cada vez mais o mundo”.
Figura
06 - Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo
com Bardin (2011). 1= Redução da poluição
e manutenção do ambiente limpo e equilibrado; 2= Para
dar um destino correto aos resíduos; 3= Para a preservação
do ambiente; 4= Para diminuir as dificuldades que enfrentam; 5= Para
dar uma possibilidade de mudança ao ambiente e as pessoas; 6=
Nenhuma categoria. Fonte: Dados da Pesquisa.
A
figura 07 representa as respostas dos educandos/as quando
questionados sobre a atividade de catador/a poderia ser considerada
uma profissão e por quê. A maioria destes, 88%,
considera que sim, justificando que contribui para o ambiente, ajuda
na redução dos resíduos no ambiente e por ser
uma profissão que contribui para a vida no ambiente.
Percepções evidenciadas nas respostas, como: “O
serviço de catador tem que ser considerado uma profissão
tem gente que trabalha disso e pode saber mais, saber separar os
resíduos todos; Sim porque cada catador pode mudar o espaço
que nós vivemos e melhorar o ambiente tornar num lugar melhor
e limpo para se viver; Pois é lógico que pode e deve
ser considerado um trabalho digno porque são eles que limpam
nossas ruas nos passam uma lição, que tudo aquilo que
chamamos de ‘lixo’ é o sustento e o recomeço
para quem reutiliza”.
Sendo
que, os 12%
dos educandos/as que
não consideram a atividade de catador/a uma profissão
descrevem como uma
alternativa para o desemprego, uma opção para quem não
finalizou o ensino básico e uma alternativa para não se
envolver com a criminalidade.
Entre
os catadores/as, muitos são moradores de rua ou vivendo à
margem da sociedade, pertencentes à classe mais pobre. Além
de, em grande parte, atuarem sem vínculo empregatício,
produzindo renda menor que um salário mínimo,
competindo por materiais recicláveis com outros catadores/as
(BORTOLI, 2009). Embora contribuam
da mesma forma para o desenvolvimento econômico, porém
são excluídas culturalmente, da educação,
da saúde e da política (SUMAN, 2007).
Figura
07- Visão dos educandos/as expressas em categorias de acordo
com Bardin (2011). 1= Atividade de catador/a pode ser considerada uma
profissão e 2= Atividade de catador/a não é
considerada uma profissão. Fonte: Dados da Pesquisa.
Recentemente
a ocupação de catador/a de material reciclável
ou reutilizável foi definida, após um período de
muitas lutas sociais deste segmento, por melhores condições
de trabalho e reconhecimento social.
Em
1999 organizou-se o Movimento Nacional de Catadores/as de Materiais
Recicláveis com a formação de associações
e cooperativas de catadores/as (MNCR, 2005) e no ano de 2002 foi
identificada a profissão de catador/a pela Classificação
Brasileira de Ocupação (CBO). O que vem ao encontro com
a afirmação de Paulo Freire (1996, p. 114):
O
operário precisa inventar, a partir do próprio trabalho
a sua cidadania que não se constrói apenas com sua
eficácia técnica, mas também com sua luta
política em favor da recriação da sociedade
injusta, a ceder seu lugar a outra menos injusta e mais humana.
Logo
após, documentos legais definiram responsabilidades ao poder
público sobre os resíduos sólidos e seu destino
as associações de catadores/as, como o Decreto nº
5.940 (BRASIL, 2006), a Lei n. 11.445 (BRASIL, 2007) que define
Diretrizes para o Saneamento Básico e a Lei n. 12.305 (BRASIL,
2010) que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, a qual possibilita ao poder público definir
medidas indutoras e linhas de financiamento para atendimento das
demandas das associações de catadores/as e cooperativas
de materiais recicláveis.
As
discussões que envolvem a educação ambiental, em
diferentes espaços e através de variados meios de
comunicação, atribuem os crescentes problemas
ambientais à sociedade como um todo, devido ao seu crescimento
populacional. No entanto, é evidente que a sociedade demonstra
diferentes padrões de consumo e respectivamente seus impactos
ao ambiente não são os mesmos, revelando-se através
das desigualdades socioambientais e acesso aos bens naturais o que
declara um preocupante cenário de injustiça ambiental
(PIEPER et al., 2012, p. 702).
Considerações
finais
Os
dados obtidos através da presente pesquisa permitem perceber a
existência de uma visão antropocêntrica dos
educandos/as, provavelmente em decorrência de suas construções
sociais e culturais, por influência dos meios de comunicação,
os quais intensificam o sistema do modelo capitalista, no qual
vivemos e da falência do sistema educacional tradicional,
apresentado desde a alfabetização.
Os
estudantes destacaram em suas respostas a preocupação
com a preservação ambiental e o reconhecimento do
trabalho dos catadores/as de resíduos sólidos, os quais
segundo eles desempenham importante função nesse
processo. Isso demonstra de certa forma, a existência de uma
percepção política social, que é
fundamental para a formação de sujeitos críticos.
A
investigação demonstrou também que a escola
representa um espaço de formação social e de
construção da identidade dos alunos, devido sua
estratégia de educação problematizadora,
que busca transformar e sensibilizar os(as) educandos(as) a
compreender e a refletir sobre a sociedade e o ambiente e sua
inserção no contexto político social. Esses
fatores podem possibilitar a reflexão crítica e a
mudança de atitude e comportamento frente aos problemas
encontrados.
Ainda,
consideramos que a temática desenvolvida é de extrema
importância, possibilitando a reflexão do papel de cada
um/a no ambiente, bem como a tomada de iniciativas individuais e
coletivas que visam contribuir para a manutenção do
equilíbrio e do bem estar. Percebeu-se desta forma a
valorização dos recursos naturais, como um sistema
único de interdependência entre os seres vivos.
Portanto,
o presente trabalho aponta que é preciso cada vez mais efetuar
uma abertura dos processos educacionais para com a realidade dos
estudantes, proporcionando uma interação entre a
formação escolar e a sociedade. Desta forma, será
possível atingirmos os principais objetivos dos processos
educacionais e possibilitar a construção de novos
conhecimentos, cheios de significados e com estudantes alfabetizados
cientificamente e preparados para a vida em sociedade.
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